Marcelo Rebelo de Sousa interveio numa conferência sobre "Os jovens e a política: razões para a exercer", promovida pela Escola Profissional de Tondela, onde aconselhou os jovens a que, antes de seguirem a política, "finquem os pés na actividade profissional" para, depois, serem capazes de "dizer que não".
Afirmou que, "se uma pessoa está na política sem ter um lugar de retaguarda, se um chefe lhe diz 'você agora faz aquilo'", ela, mesmo discordando, tem de o fazer". Porém, "se tiver independência, a pessoa responde 'até à próxima, vou à minha vida'. Se não tiver, tem de engolir sapos vivos ou elefantes. Não tem outro remédio se não ir fazendo coisas que lhe vão impingindo ao longo do tempo".
Este conselho é muito interessante para os próprios e para o País, só que não será de fácil concretização generalizada porque depara com resistências fortes dos actuais políticos que seguiram outra metodologia e que pretendem apoiar os jovens familiares e amigos que sentem dificuldade em obter êxito nos estudos e na preparação adequada para a competição na actividade económica privada.
O currículo da actual carreira política, salvo em eventuais casos excepcionais assenta no seguinte percurso: A «carreira» começa por ter uma base pouco edificante, um critério de recrutamento nada prometedor.
Não se compreende que, sendo a função de governança tão complexa, ninguém se preocupe em obter preparação académica adequada. Entra-se na política muitas vezes por dificuldades nos estudos, por se ser mau aluno e sem perspectivas de concorrer na sociedade civil e, para arranjar um «emprego» bem remunerado e pouco trabalhoso, sem responsabilidades, com impunidades e imunidades. E, apesar de todas as carências de saber resultantes desse início, seguem a carreira, podendo chegar ao topo dos governos. Hoje qualquer um pode ser político desde que conquiste a amizade de um político ou seu familiar, desde que se inscreva na JOTA e se mostre servil em relação ao líder local, aplauda nos comícios repita os slogans e se bajule aos chefes. Conquistará lugar de assessor, seguindo-se deputado, uns tachos, o diploma que não conseguiu obter em devido tempo, secretário Estado, ministro, etc.
Outro problema grave é os partidos e a AR estarem nas mãos de gente da área do Direito, faltando engenheiros, gestores, médicos, professores, etc., pessoas que dariam aos actos de governança a solidez de conhecimento do País real, actual e voltado para o futuro. Os do Direito estão habituados ao passado, a leis feitas noutra época para resolver problemas que já eram antigos e aprimoram-se no uso das palavras e dos argumentos para convencerem os juízes. Mas não estão vocacionados para a estratégia de preparação de decisões para o futuro.
Falta aos políticos a ponderação, a reflexão, um esforço de previsão que permita tomar as melhores decisões para depois de amanhã. Parecem macaquinhos num circo em que ouvem chamamentos de todos os lados e sentem a indecisão de saber o que fazer. Acabam por tomar decisões ao acaso que, para pior, teimam em manter contra tudo e todos. E assim, o futuro vai ser terrível porque entretanto gastam-se os últimos recursos inutilmente.
O esquema sugerido por Marcelo, além de garantir independência de pensamento e de opinião aos políticos, tem a vantagem de reduzir a quantidade de fantasistas improvisados sem o necessário conhecimento das realidades, sem terem obtido competência de gestão de casos graves, sem sentido de responsabilidades, nem dedicação a tarefas que merecem análise meticulosa e escolha sensata das soluções mais convenientes para Portugal.
Mas a alteração do sistema deve ser implementada com rapidez a fim de que os «sonhadores» já instalados e com «clientelas» seguras de «dinheiro vivo» para os partidos, não boicotem as ideias da nova geração e a desmotivem. Oxalá a ideia germine e se desenvolva e seja inserida no «código de bem governar» já aqui referido.
A entidade fundamental de Portugal, como de qualquer Estado, é a Nação, seguindo-se-lhe o território. Para poder sustentar-se, a Nação precisa de se organizar e, dessa forma, surge o Estado. Em qualquer organização tem de haver líderes nos diversos sectores e escalões e é na sua escolha que os regimes políticos se diferenciam: monarquia, ditadura, democracia directa oi representativa, etc.
Em qualquer regime os responsáveis pela defesa dos interesses da colectividade devem ter uma preparação prévia consentânea com as funções a desempenhar e uma capacidade de realização própria para agir acertadamente por piores que sejam as condições que possam surgir.
A Decisão do TEDH (396)
Há 2 horas
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