Descontentamento
Por Constança Cunha e Sá, Jornalista, CM. 26 Maio 2009
A duas semanas das eleições, é natural que chovam os habituais desabafos sobre a falta de qualidade do debate político, a ausência de projectos alternativos, a fragilidade das várias candidaturas e o esquecimento a que são votadas as questões europeias num país periférico onde predominam as pequenas quezílias domésticas. E a verdade é que o arranque da campanha não parece augurar nada de bom.
Os temas abordados, nestes primeiros dias, revelam a esplendorosa miséria em que nos afundámos: do ‘portinhol’ do engº Sócrates à esquecida militância do dr. Rangel no CDS, passando pelos insólitos cartazes que se espalharam um pouco por todo o País ou pelos insultos que se impõem em qualquer discurso que se preze, tudo parece demasiado mesquinho, demasiado triste, demasiado indigente para que possa ser levado minimamente a sério pelo mais benevolente dos eleitores. E, se é fácil garantir que o resultado de todo este lamentável espectáculo se saldará, em Junho, por uma espectacular abstenção, já será mais difícil perceber que a campanha em curso não nasce, de repente, do nada, inaugurando duas semanas de tédio e de mediocridade, ao longo das quais se usa e abusa de uma propaganda oca e repetitiva, incapaz de mobilizar o voto ou de promover uma simples ideia.
A pobreza dos debates, a inconsistência das propostas, o cansaço dos eleitores não são elementos novos que decorrem do período eleitoral: são, antes de mais, o espelho de uma forma de fazer política que se cristalizou entre nós. A campanha que agora se inicia limita-se a confirmar esse lamentável estado de coisas. Não se discute a Europa apenas por oportunismo político ou porque se quer adulterar o sentido destas eleições, mas sim porque a Europa há muito que se afastou de nós, porque, esgotados os fundos que não soubemos aproveitar, é um mundo do qual deixámos de fazer parte, um conceito vago que serve apenas para aferir da mediocridade nacional: dos maus resultados na Educação, das deficiências estruturais da Economia, do estado em que se encontra a Justiça ou da impunidade que reina nos mais variados sectores.
Assim, como também não se discute uma alternativa porque há muito que o País está condenado ao "mal menor" e à insuficiência da escolha. Com o Parlamento entregue à sua insignificância, com os partidos transformados em feudos, desligados da realidade que os rodeia, com a descrença que corrói o sistema, qualquer campanha está condenada ao fracasso e ao crescimento da abstenção. Não por acaso, as Primárias das legislativas ameaçam ser as Primárias do nosso descontentamento.
Um rei debruçado sobre a lama
Há 5 horas
2 comentários:
Caríssimo João,
Esta forma de fazer política é miserável e tem um preço altíssimo pago pelos contribuintes! Dado que os partidos mais não passam de clubes "privados", tipo clubes de futebol, deviam ser os seus assiciados a pagar tais facturas e não o Zé Povinho... Tenho impressão que se fosse assim se evitavam estes gastos megalómanos que a nada conduzem: é tudo fogo de vista e o faz de conta a funcionar!!!!
Caro Amigo Luís,
Trata-se de uma transcrição, de um texto que acho muito equilibrado.
Encontrei agora um apontamento que se destinava a um post e que ficou esquecido talvez por ter aparecido outro tema mais prioritário!
A viagem vai continuar tormentosa e é preciso apertar os cintos. Apesar da fé pretenciosamente optimista e, na realidade, muito cínica de Manuel Pinho, a crise vai continuar para os cidadãos comuns.
Não se pode perspectivar o mesmo para os políticos, como se vê no grande esforço que evidenciaram logo no início desta primeira campanha de assédio aos votos para obtererm as cadeiras bem estofadas dos gabinetes dourados.
Se alguém ainda pensava que os políticos têm uma actividade difícil, de sacrifício para o bem do povo, abra os olhos e veja como se debatem e trocam «amabilidades», para conquistarem o poleiro. Não pode haver melhor prova das suas motivações. É lógico. Procuram possibilidades de acesso diário às TVs com promessas miríficas, boa quantidade de salários mínimos por mês, boas viagens (mesmo que não sejam ao prostíbulo da embaixada no Senegal!), «dinheiro vivo», e com promessas e bolos vão ganhando jus aos «tachos dourados» vitalícios e reformas milionárias acumuladas. Esses frutos da sua «dedicação» à causa partidária são tão bons que justificam o esforço da campanha eleitoral!!!
Depois, para o povo virá mais do mesmo, A crise é suportada pelo povo mas os apoios com o dinheiro dos impostos vão bancos mal geridos e grandes indústrias que têm vivido de explorar vaidades, ostentações em plena fúria consumista. Veja-se o esforço que o Governo está a fazer para serem abatidos automóveis em razoável estado de funcionamento. É só para apoio do grande capital ligado ao comércio dos carros, porque com isso, os pequenos mecânicos reparadores serão seriamente prejudicados. É mais um desequilíbrio a aumentar a injustiça social.
No meio da loucura de gastos com as eleições, surge uma voz sensata e corajosa, não politicamente correcta, a votar contra o «dinheiro vivo». Os parceiros, tendo agido abulicamente, com obediência cega, sem cérebro ou sem fazerem uso dele, devem ter-se sentido tocados e, se não tiveram coragem para o fuzilar, irão de forma persistente procurar o seu aniquilamento discreto.
É isto a política com p minúsculo de tricas inter-partidárias e internas dos partidos, porque não sabem o que é a Política com P maiúsculo que significa ciência e arte de governar o Estado, para aumento do bem-estar da população e do prestígio internacional.
Um abraço e bom fim-de-semana
João
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