O consumidor (cada um de nós), perante a actual crise está a aprender a poupar, estabelecendo prioridades, que levam a evitar desperdícios e o que é dispensável e assessório, em benefício do essencial. Transcrevem-se algumas passagens deste artigo de grande interesse
Temos a despensa cheia, mas o carrinho de compras está mais leve
Público. 03.05.2009 - 08h31, Raquel Almeida Correia
Se há indicador que a crise parece ter deixado ileso é o consumo de bens alimentares: os portugueses preferem abdicar de outros luxos, como as idas aos restaurantes, mas enchem a despensa de casa. Mais até do que em alturas de estabilidade económica.
Há, no entanto, produtos que já não entram tão facilmente no carrinho de compras nacional, como a carne vermelha e os doces. São considerados acessórios, ao contrário do que se passa com bens mais acessíveis e que servem de base a refeições mais económicas, como as conservas e as massas. Isto sem contar com o fenómeno das marcas próprias (comercializadas pela grande distribuição), cuja quota de mercado tem vindo sempre a aumentar nos últimos tempos. Uma mudança de hábitos que tem como grande meta a poupança.
Dados do primeiro trimestre de 2009, cedidos pela empresa de estudos de mercado TNS, revelam que as compras nos supermercados e hipermercados aumentaram 2,9 por cento em volume e 3,9 por cento em valor. Subida que, além de provar que os consumidores não deixaram de lado a alimentação, mostra que estão a gastar mais dinheiro nestes espaços comerciais. E é precisamente nos produtos de mercearia que mais concentram as suas despesas.
(…)
Refeições mais económicas
O TNS Worldpanel mostra que, nos primeiros três meses deste ano, vários alimentos sofreram um abrandamento na procura, como é o caso da carne, que registou uma descida de 5,2 por cento em termos de valor (em vez dos 189 milhões de euros facturados em 2008, a grande distribuição vendeu 179 milhões de euros deste produto entre Janeiro e Março de 2009).
(…)
"É natural que, numa altura de crise, os portugueses optem por poupar o máximo dinheiro, mas isso não deve pôr em causa da qualidade da alimentação", alertou. No que diz respeito a alimentos frescos, Domingos dos Santos acredita que os consumidores mostram mais propensão para as leguminosas (feijões e ervilhas, por exemplo), "que servem de base para fazer sopas", e para fruta de calibres mais pequenos e, por isso, "de preço mais económico".
Comportamento idêntico ao que se verifica com o pão embalado e as tostas - produtos cujas vendas desceram, respectivamente, 8,5 e 69,3 por cento para os 6,6 milhões de euros. Tudo porque os portugueses estão mais voltados para comprar pão fresco de padeiro, que viu a procura aumentar 9,1 por cento, chegando, agora, a uma facturação de 36 milhões de euros (contra os 33 milhões de 2008).
Combater o desperdício
Além de esta mudança ser originada por uma maior preocupação com a relação quantidade/preço, também há bens que registaram um crescimento como consequência directa da perda de quota de mercado dos restaurantes e da transferência das refeições para dentro do lar. É o caso, por exemplo, da categoria de bebidas e, sobretudo, do café torrado. Só nestes dois bens a facturação dos super e hipermercados aumentou 35,4 por cento.
Em alturas de crise, "os portugueses tornam-se mais racionais nas compras. Não só compram mais barato, como põem de lado alguns produtos considerados supérfluos", diz Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-alimentares (FIPA). É por isso que bens como os chocolates, cuja venda recuou 22,2 por cento entre Janeiro e Março (de 17,5 milhões para 14,6 milhões de euros), protagonizam descidas abruptas em termos de facturação. O mesmo aconteceu com os snacks (-49,3 por cento) e com os açúcares (-10,9 por cento).
Nos supermercados e hipermercados, as maiores perdas dão-se, contudo, ao nível dos artigos de drogaria e de higiene, considerados acessórios face à necessidade de manter a despensa cheia. Recuo que ocorre com "tudo o que o consumidor considerar menos necessário ou itens cujo consumo possa ser adiado", explica Paulo Caldeira, da TNS.
Este responsável refere que "ainda não temos 'tempos de crise' suficiente para conseguir retirar conclusões" finais sobre a mudança de hábitos de consumo dos portugueses. Mas os indicadores do primeiro trimestre desde ano mostram, para já, muito menos tolerância ao desperdício de dinheiro.
Temos a despensa cheia, mas o carrinho de compras está mais leve
Público. 03.05.2009 - 08h31, Raquel Almeida Correia
Se há indicador que a crise parece ter deixado ileso é o consumo de bens alimentares: os portugueses preferem abdicar de outros luxos, como as idas aos restaurantes, mas enchem a despensa de casa. Mais até do que em alturas de estabilidade económica.
Há, no entanto, produtos que já não entram tão facilmente no carrinho de compras nacional, como a carne vermelha e os doces. São considerados acessórios, ao contrário do que se passa com bens mais acessíveis e que servem de base a refeições mais económicas, como as conservas e as massas. Isto sem contar com o fenómeno das marcas próprias (comercializadas pela grande distribuição), cuja quota de mercado tem vindo sempre a aumentar nos últimos tempos. Uma mudança de hábitos que tem como grande meta a poupança.
Dados do primeiro trimestre de 2009, cedidos pela empresa de estudos de mercado TNS, revelam que as compras nos supermercados e hipermercados aumentaram 2,9 por cento em volume e 3,9 por cento em valor. Subida que, além de provar que os consumidores não deixaram de lado a alimentação, mostra que estão a gastar mais dinheiro nestes espaços comerciais. E é precisamente nos produtos de mercearia que mais concentram as suas despesas.
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Refeições mais económicas
O TNS Worldpanel mostra que, nos primeiros três meses deste ano, vários alimentos sofreram um abrandamento na procura, como é o caso da carne, que registou uma descida de 5,2 por cento em termos de valor (em vez dos 189 milhões de euros facturados em 2008, a grande distribuição vendeu 179 milhões de euros deste produto entre Janeiro e Março de 2009).
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"É natural que, numa altura de crise, os portugueses optem por poupar o máximo dinheiro, mas isso não deve pôr em causa da qualidade da alimentação", alertou. No que diz respeito a alimentos frescos, Domingos dos Santos acredita que os consumidores mostram mais propensão para as leguminosas (feijões e ervilhas, por exemplo), "que servem de base para fazer sopas", e para fruta de calibres mais pequenos e, por isso, "de preço mais económico".
Comportamento idêntico ao que se verifica com o pão embalado e as tostas - produtos cujas vendas desceram, respectivamente, 8,5 e 69,3 por cento para os 6,6 milhões de euros. Tudo porque os portugueses estão mais voltados para comprar pão fresco de padeiro, que viu a procura aumentar 9,1 por cento, chegando, agora, a uma facturação de 36 milhões de euros (contra os 33 milhões de 2008).
Combater o desperdício
Além de esta mudança ser originada por uma maior preocupação com a relação quantidade/preço, também há bens que registaram um crescimento como consequência directa da perda de quota de mercado dos restaurantes e da transferência das refeições para dentro do lar. É o caso, por exemplo, da categoria de bebidas e, sobretudo, do café torrado. Só nestes dois bens a facturação dos super e hipermercados aumentou 35,4 por cento.
Em alturas de crise, "os portugueses tornam-se mais racionais nas compras. Não só compram mais barato, como põem de lado alguns produtos considerados supérfluos", diz Pedro Queiroz, director-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-alimentares (FIPA). É por isso que bens como os chocolates, cuja venda recuou 22,2 por cento entre Janeiro e Março (de 17,5 milhões para 14,6 milhões de euros), protagonizam descidas abruptas em termos de facturação. O mesmo aconteceu com os snacks (-49,3 por cento) e com os açúcares (-10,9 por cento).
Nos supermercados e hipermercados, as maiores perdas dão-se, contudo, ao nível dos artigos de drogaria e de higiene, considerados acessórios face à necessidade de manter a despensa cheia. Recuo que ocorre com "tudo o que o consumidor considerar menos necessário ou itens cujo consumo possa ser adiado", explica Paulo Caldeira, da TNS.
Este responsável refere que "ainda não temos 'tempos de crise' suficiente para conseguir retirar conclusões" finais sobre a mudança de hábitos de consumo dos portugueses. Mas os indicadores do primeiro trimestre desde ano mostram, para já, muito menos tolerância ao desperdício de dinheiro.
2 comentários:
Caro João,
Eu ainda me lembro do slogan: "PRODUZIR E POUPAR" mas esta gente nova, a viver para além das suas posses, só agora se apercebeu que tal forma de viver trás consigo a "CRISE" e as suas consequências...
Talvez assim se acabe com o despesismo e o novo-riquismo pacóvio em que se vivia!
Um abraço
Caro Amigo Luís,
O tema do post trata de economia doméstica em que muita gente estraga o pouco que tem, mas agora a crise está a produzir o bom efeito de levar essas pessoas a pensar em poupar.
Será bom que as pessoas passem a pensar em estabelecer prioridades entre o que gostam de comprar e os limites das suas posses. Nem sempre o mais bonito, mais caro e mais na moda será a melhor solução. É preciso educar as crianças sobre o valor do dinheiro e os perigos do crédito.
Porém, há pessoas que têm carências tão graves que lhes é difícil ter o alimento indispensável para sobreviver.
Um abraço
João
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