quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Pobreza versus esbanjamento

Segundo notícia do DN, o «Bispo de Setúbal alerta para aumento da pobreza» D. Gilberto Canavarro dos Reis, em entrevista à Rádio Renascença, alertou, ontem, para o aumento de pobres no distrito e para o fenómeno de pobreza envergonhada que se observa na região. Denunciou, em particular, a situação de crianças que apenas fazem a refeição diária que é fornecida na escola e, se não esta refeição na escola, ficariam praticamente sem comer.

Também o bispo resignado de Setúbal, D. Manuel Martins, explica que, na região, o facto de a maioria da população trabalhar em grandes e pequenas industriais locais, auferir baixos salários e não ter outros recursos económicos faz com que sejam particularmente vulneráveis às flutuações da economia, constituindo a pobreza envergonhada que faz com que as pessoas arranjem estratagemas" para sobreviver e, muitas vezes, usam como estratagema "esconder as suas necessidades passando mal".

Também o Instituto Nacional de Estatística (INE) salienta as dificuldades dos mais pobres, 18% da população (cerca de um em cada cinco).

Também D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro abordou o tema na mensagem natalícia: "Somos chamados a viver em tempo de crise económica e financeira, de empresas a fechar, de desemprego a aumentar, de posições extremadas entre pessoas e grupos, de diálogos interrompidos, de pobres a quem tudo falta, de gente sem pão, sem casa, sem trabalho" e sublinhou que a maior pobreza é a falta de esperança "já visível em tantos rostos tímidos e envergonhados".

Em oposição a imensos casos de penúria, de fome, muitas vezes envergonhada, há situações de esbanjamento, de ostentação, de consumismo aparatoso.

Famílias com dinheiro para pagar os luxos que o hotel oferece fazem que a «Noite de Natal em hotéis tem cada vez mais adeptos», embora o «Jantar de Natal num hotel pode custar 100€» por pessoa.

Estes casos de despesismo ostentoso encontram-se no pólo contrário ao espírito de um meu amigo que enviou uma mensagem deste teor: O que me dá mais prazer no Natal é poder ter à minha volta toda a família, num são ambiente de alegre convívio; desejo que o mesmo se passe com os meus amigos. O espírito de família, de fraternidade, solidariedade, paz e amor, em ambiente de simplicidade. E mesmo isto já seria muito para aqueles a quem os bispos se referem.

Aproveitemos esta época para reflectir nas injustiças sociais. Pensemos que muitos pobres o são porque não tiverem preparação para sair da penúria, falta-lhes formação para se poderem sustentar com o fruto do seu trabalho, careceram de forças para ultrapassar dificuldades imprevistas que lhes surgiram, foram vítimas de acidentes que os impossibilitaram de granjear sustento, etc., etc.

7 comentários:

A. João Soares disse...

Agradeço e retribuo os votos de Boas Festas. Sei que voltará para comentar, e que fará um comentário de fundo, como é seu timbre.
Beijos
João

Compadre Alentejano disse...

E com 100 euros jantava a família toda!...É a vida...
Deixo os meus votos de um Bom Natal e um excelente Ano Novo
Um abraço
Compadre Alentejano

A. João Soares disse...

Caro Compadre,
O que pagam por pessoa num desses jantares é uma taluda na mão de uma família em que se contam os cêntimos.
O mal da sociedade é que os que têm poder económico ou político não conhecem as necessidades de quem é realmente pobre. Veja o escândalo da distribuição das casas sociais da Câmara Municipal de Lisboa.
Um abraço e votos de Boas Festas
João

Carlos Rebola disse...

Amigo A. João Soares

É verdade o esbanjamento de uns, é a pobreza de outros. Mas quem, podia de algum modo alterar a situação, parece agravá-la ainda mais com o reforço do sistema económico, que cria tanta pobreza.
O espírito natalício só terá valor prático se este paradigma, do lucro máximo em tempo mínimo, for alterado.

Feliz Natal
Carlos Rebola

Sei que existes disse...

Passei para te desejar uma óptima época festiva rodeada de excelentes amigos e familiares e que recebas tudo quanto necessitas para ser verdadeiramente feliz.
Beijo grande

A. João Soares disse...

Caro Carlos Rebola,
É inevitável haver pobres e ricos. Mas, segundo a lei de Gauss, os pobres, tal como os ricos, deveriam ser minorias de um e outro lado na média. Porém, infelizmente, a pobreza está em expansão, por todo o lado, enquanto os ricos estão cada vez mais ricos. E há uma agravante que é a de em ambos os casos essa situação não se dever a haver mais ou menos mérito. Há pobres por razões que lhes são estranhas, azares da vida, e há muitos ricos que o são por manigâncias que roçam pela ilegalidade e pela desonestidade.
Falta uma séria Justiça social que evite as desonestidades que levam ao enriquecimento ilegítimo e puna os abusos contra os desprotegidos que levam estes à pobreza.
Esse é um papel dos Governos, mas a que eles não parecem sensíveis.
Os governantes (salvo eventuais e raras excepções), pela sua baixa formação moral e até cultural, não resistem aos vícios da ambição do enriquecimento máximo no tempo mínimo e, em vez de procurarem a justiça social, apoiam aqueles que já são ricos e que lhes podem dar os desejados «tachos dourados» e assim se deforma a curva de Gauss e se alarga o fosso entre o abastado poder de compra dos mais ricos e a pobreza cada vez mais carente dos mais miseráveis.
As palavras dos bispos referidas no post deviam ser meditadas pelos detentores do Poder, político e económico, domo um sério alerta para as possíveis consequências de ordem pública que poderão surgir de um momento para o outro. A paciência dos escravos esgota-se e pode surgir um Spartacus que leve atrás de si uns quantos desesperados mais activos.
Seria bom que tais actos de rebelião fossem desnecessários por deixar de haver motivos para a sua eclosão.
Abraços e votos de Boas Festas
João

A. João Soares disse...

Querida Maria João, sei que existes,
Muito obrigado pelos seus votos que retribuo.
Esta quadra festiva, é maravilhosa pelo motivo de conduzir as pessoas à união, algumas vezes por tradição, sem grande afecto, mas que, mesmo assim, poderá ser uma semente que torne as pessoas mais macias no trato contribuindo, a pouco e pouco, para que este relacionamento passe a existir em permanência e não apenas limitado a um curto período de poucos dias.
Oxalá o espírito de NATAL passe a estar presente nos laços fraternos que devem unir todos os humanos.
Independentemente de religiões, as boas relações devem ser cultivadas para que a vida seja melhor para todos.
Tenhamos esperança de que o futuro será melhor do que o passado; isso depende do comportamento de cada um de nós.
Beijos e boa continuação das Festas, com os melhores propósitos
Beijos
João