A segunda parte do editorial do DN de hoje que abaixo se transcreve enfatiza um fenómeno muito preocupante da humanidade nos dias que correm. A perda de liberdade e um perigo que ameaça o mundo. Os poderosos gostam do controlo absoluto das pessoas e da redução de liberdades destas. Já o rei francês Luís XIV dizia, com orgulho, vaidade e arrogância «o Estado sou eu!». Hoje em democracia há governantes que dizem o mesmo por outras palavras «Não recebo lições» «fomos eleitos para fazermos o que acharmos melhor», etc.
A perda de liberdades concretiza-se em espiral. Aparecem pequenos abusos da liberdade e o poder reprime, aumenta os controlos, acciona as polícias, o povo desgosta-se e pensa como há-de aproveitar algumas frestas de liberdade que lhe restam, o poder passa a ver ameaças por todo o lado e cria sucessivas instituições de proibição de controlo, além das polícias fardadas, estas criam grupos não identificáveis para apanhar os incautos e são criados serviços secretos com variados nomes e atribuições. O cidadão passa a ser controlado passo a passo, pelo uso do telemóvel, do Multibanco, das portagens, das câmaras de vídeo nas ruas e lugares públicos e também em estabelecimentos privados com grande afluência de clientes.
Agora, A China aproveita o pretexto dos Jogos Olímpicos para intensificar o seu controlo e policiamento, já tradicionalmente muito eficaz. Toda esta obsessão, que por aí se diz estar a ser incentivada pelo Bilderberg, apresenta-se como um objectivo humanitário de protecção de vidas e haveres, mas também pode ser destinada a criar nas pessoas o espírito de aceitação das medidas tendentes ao reforço do poder absoluto e centralizado que pretendem instalar no mundo. E as habilidades são tais que tendo o povo rejeitado a implantação sistemática de chipes em recém-nascidos, vai agora ser utilizada uma pulseira electrónica em cada bebé nas maternidades portuguesas. O Poder absoluto avança como um pesado cilindro, esmagando ou torneando todas as resistências que encontra. Alexander Soljenitsine bem mereceu a homenagem que lhe foi feita no seu funeral, por ter sido um resistente lutador que contribuiu de forma pacífica para a queda da ditadura estalinista.
Segurança ganha contornos de obsessão
A segurança está a ganhar contornos de obsessão em todo o mundo. Se a preocupação é legítima na China, um alvo apetecível dos terroristas e outros criminosos em vésperas de Jogos Olímpicos, tal como já tinha sido, por razões semelhantes, na Suíça e na Áustria aquando do Europeu de futebol, começa a dar que pensar que receios levam Silvio Berlusconi a colocar três mil militares nas ruas de oito das grandes cidades italianas, para evitar assaltos e homicídios.
Contudo, lendo os jornais espanhóis e ingleses nos últimos dias, percebe-se a deriva securitária que se faz sentir em todos os países na Europa: só em Madrid foram mortas sete pessoas em 14 dias, a maioria com enorme violência. Aliás, a capital espanhola regista uma subida de 37% nos homicídios violentos no ano passado e neste ano. Em Inglaterra também não param de surgir casos de crimes graves, a maioria com uso de armas brancas.
Lisboa é ainda considerada como uma das cidades mais seguras da Europa por todos os roteiros turísticos, uma classificação válida para todo o País. Mas o facto de os donos de bares e restaurantes do Bairro Alto terem decidido pagar, do seu bolso, o reforço policial na zona, somado aos últimos acontecimentos na Quinta da Fonte e à constatação de que a Prosegur já é quinta maior empregadora do País, mostra uma mudança de atitude e de preocupações. Porque um dia também deixará de ser "só com os outros" e "lá entre eles".
A Decisão do TEDH (394)
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