domingo, 24 de agosto de 2008

Amanhã, seremos nós os idosos

Transcrição de texto, de autor desconhecido, recebido por e-mail, em anexo pps. Embora extenso, considero-o merecedor de ser lido atentamente. Há valores que devem ser preservados. Nós, idosos de amanhã, devemos respeitar e acarinhar os idosos de hoje.

A Última Viagem de Táxi!

Houve um tempo em que eu ganhava a vida como motorista de táxi. Os passageiros embarcavam totalmente anónimos. E, às vezes, contavam-me episódios das suas vidas, suas alegrias e suas tristezas... Encontrei pessoas que me surpreenderam. Mas, nenhuma como aquela da noite de 25 para 26 de Julho do último ano em que trabalhei na praça!

Havia recebido já tarde, à noite, uma chamada vinda de um pequeno prédio de tijolinhos, numa rua tranquila do subúrbio de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Quando cheguei ouvia cachorros latindo longe. O prédio estava escuro, com exceção de uma única lâmpada acesa numa janela do rés-do-chão. Nestas circunstâncias, outros teriam buzinado duas ou três vezes, esperariam só um pouco e, epois, iriam embora.

Mas, eu sabia que muitas pessoas dependiam de táxis como único meio de transporte a tal hora. A não ser, portanto, que a situação fosse claramente perigosa, eu sempre esperava...

"Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda", pensei. Assim, fui até à porta e bati.
"Um minutinho", respondeu uma voz débil e idosa. Ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão... Depois de uma pausa longa, a porta abriu-se. Vi-me então diante de uma senhora bem idosa, pequenina e de frágil aparência! Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro daqueles usados pelas senhoras idosas nos filmes da década de 40! E equilibrava-se numa bengala, enquanto segurava com dificuldade uma pequena mala... Dava para ver que a mobília estava toda coberta com lençóis. Não havia relógios, roupas ou adornos sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa aberta com fotografias e vidros...

A velha senhora, esboçando então um tímido sorriso de quem havia já perdido todos os dentes, pediu-me:
“O senhor poderia ajudar-me a levar a mala?”
Eu peguei a mala e ajudei-a caminhar lentamente até o carro. E enquanto se acomodava ela ficou me agradecendo...
-"Não é nada, apenas procuro tratar meus passageiros do jeito que gostaria que tratassem a minha velha mãe”...
-" Oh!, você é um bom rapaz!"
Quando embarcamos, deu-me um endereço e pediu:
-"O senhor poderia ir pelo centro da cidade?"
-" Este não é o trajeto mais curto", alertei-a prontamente.
-" Eu não me importo... Não estou com pressa... O meu destino é o último! O asilo dos velhos"...

Surpreso, olhei pelo retrovisor.
Os olhos da velhinha brilhavam marejados...
-" Eu não tenho mais família e o médico disse-me que tenho muito pouco tempo"...

Disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei:
-"Qual o caminho que a senhora deseja que eu tome?"
Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Ela mostrou-me o edifício na Praça 7 em que havia, em certa ocasião, trabalhado como ascensorista...
Nós passamos pelas cercanias em que ela e o esposo tinham vivido como recém-casados.
E também pela Igrejinha de São Francisco, na Pampulha, onde comemoraram as Bodas de Ouro!
Ela pediu-me que passasse em frente a uma loja de móveis na região da Praça da Liberdade, que havia sido um grande salão de dança que ela frequentara quando mocinha!
De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um edifício ou esquina. Era quando ficava então com os olhos fixos na escuridão, sem dizer nada... E olhava. Olhava e suspirava...

E assim rodamos a noite inteira...
Quando o primeiro raio de sol surgiu no horizonte, ela disse de repente:
"Estou cansada... E pronta! Vamos agora!"
Seguimos, então, em silêncio, para o endereço que ela me havia dado. Chegámos a um prédio rodeado de árvores, uma pequena casa de repouso. Dois atendentes caminharam até o táxi, assim que parámos. Eram amáveis e atentos e logo se acercaram da velha senhora, a quem pareciam esperar.
Abri o porta-malas do carro e levei a pequena valise até à porta. A senhora, já sentada numa cadeira de rodas, perguntou-me então pelo custo da corrida.
-" Quanto lhe devo?", ela perguntou, pegando a bolsa.
-"Nada!", eu disse.
-" Você tem que ganhar a vida, meu jovem”
-" Há outros passageiros", respondi.
Quase sem pensar, curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu comovidamente e devolveu-me com um beijo afectuoso e repleto da mais pura e genuína gratidão!
E disse:
-"Você deu a esta velhinha bons momentos de alegria, como não tinha há tanto tempo... Só Deus é quem sabe o quanto você fez por mim! Obrigada, meu amigo! Mil vezes obrigada!!!”

Apertei sua mão pela última vez e caminhei no lusco-fusco da alvorada sem olhar para trás, pois as lágrimas corriam-me abundantes pela face... Atrás de mim uma porta foi fechada. Era o som do término de uma vida... Naquele dia não peguei mais passageiros.

Dirigi sem rumo, perdido nos meus pensamentos. Mal podia falar.
Dois dias depois, tomei coragem e voltei ao asilo para ver como estava a minha mais nova amiga. Disseram-me, então, que na noite anterior adormecera para sempre, em paz e feliz... E fiquei a pensar, se a velhinha tivesse pegado um motorista mal-educado e raivoso... Ou, então, algum que estivesse ansioso para terminar seu turno... Óh, Deus! E se eu houvesse recusado a corrida? Ou tivesse buzinado uma vez e ido embora?...

Ao relembrar, creio que eu jamais tenha feito algo mais importante na minha vida até então!
Em geral nos condicionamos a pensar que nossas vidas giram em torno de grandes momentos. Todavia, os grandes momentos frequentemente nos apanham desprevenidos e ficam guardados em recantos que quase todo mundo considera sem importância... quando nos damos conta... já passou.

As pessoas podem não se lembrar exatamente do que você fez, ou do que você disse. Mas, elas sempre se lembrarão de como você as fez sentir-se. Portanto, você pode fazer a diferença! pense nisto!!! Os idosos de hoje, somos nós amanhã!

Se gostou deste texto, me faça saber, deixe um comentário. E recomende-o aos seus contactos, se julgar interessante!

4 comentários:

Carlos Rebola disse...

Amigo A. João Soares

O Taxista naquela viagem ofereceu àquela senhora idosa o reviver de toda uma vida, que lhe devolveu a felicidade preparando-a para uma morte digna e tranquila.
Uma lição.

Nós os idosos de amanhã deveríamos ser o bom taxista.
O normal é o contrário como infelizmente os factos publicados mostram, quase todos os dias.
Um abraço
Carlos Rebola

A. João Soares disse...

Caro Carlos Rebola,
A sociedade tem sofrido transformações sucessivas que levam a perda de valores cívicos, à desumanidade, em nome do materialismo, do monetarismo,da produtividade. Quem já não produz meios materiais é considerado inútil, embora possa ter alto valor humano e social, pelo seu saber e experiência. Ao Estado e a cada cidadão cabe a responsabilidade do apoio aos idosos, mas o Estado, pensando no dinheiro, acima de tudo, retira-lhes os apoios que já tinha dado e que cada vez deviam ser mais adequados às dificuldades da vida moderna.
O taxista foi extraordinário e a sua acção de gentileza e carinho devia ser uma lição para uso diário de todos.
No dia 18, há uma semana, fui atropelado por um táxi que avançou a grande velocidade num sinal vermelho para ele, quando eu ia na passagem com sinal verde para peões. Felizmente, não fiquei muito mal, e a senhora Isabel Hoffman Miles que estava no carro com o marido à espera de ter sinal para avançar, prestou um apoio inexcedível, chamando a polícia e os bombeiros e ficando ali atá a polícia ter tomado conta do acidente e, com o marido, ofereceram-se para testemunhas. Foi de uma gentileza que agora comparo à do taxista do post. Fica aqui esta referência como gratidão à sua acção.
Carlos Rebola, os blogs devem fazer eco destas lições a fim de contribuirem, para a melhoria do civismo geral e do respeito pelos idosos em especial.

Um abraço
João

Anónimo disse...

Caro João,
Muito obrigado por me permitir ler tão magnifico texto!
Uma verdadeira lição para este mundo egoísta em que mergulhámos. Infelizmente cada vez mais esquecemos os valores morais e os bons costumes, a boa educação só se vê nos protocolos, em tudo o resto vai desaparecendo.
É urgente reflectir e pensar que mundo estaremos a construir. Pois sabe o que me vai custando cada vez meu caro? É a forma como sou olhado quando tenho um gesto de boa educação, qual extra-terrestre que não é deste mundo! Quando por exemplo cedo a passagem à entrada de um estabelecimento, sou olhado como se eu fosse cobrar por isso! E isto não é nada, comparado com a verdadeira solidariedade!!!
Abraço.

A. João Soares disse...

Caro AP,
O civismo desaparece debaixo das botas do dinheiro e da aparência de ser possuído, o faz-de-conta, a aparência de riqueza. Nas escolas não se ensina civismo, educação, boas maneiras. A comunicação social também não ensina nem tem quem saiba para ensinar. E, assim, a sociedade vai pelo caminho mais fácil, como a água o rio, isto é, sempre a descer, para o buraco.
Penso que os bloguistas bem podem tomar em suas mãos as rédeas do bucéfalo e divulgar algumas lições de civismo, que a pouco e pouco, farão efeito.
Abraço
A sua observação está correcta. Parece que está a desenhar-se uma nova temporada de Guerra Fria. Se a anterior manteve o mundo em paz embora permanentemente à beira do abismo, com uma gestão difícil, mas eficaz, a futura vai ser muitíssimo mais difícil de gerir, porque já não serão apenas dois jogadores mas talvez à volta da meia dúzia.
É um tema que merece muita ponderação. E a Rússia está a lutar pela supremacia para que os novos intervenientes não a superem. E, infelizmente, a Europa está nas suas mãos por causa do gás natural e do petróleo.
Os próximos anos serão interessantes para os observadores.
Um abraço
A. João Soares