sábado, 21 de julho de 2007

Políticos não dão lições de liberdade

No discurso do estado da Nação feito pelo primeiro-ministro na Assembleia da República, os partidos da oposição foram «demasiado» violentos nas suas críticas, referindo sinais preocupantes de limitações à liberdade, comportamentos antidemocráticos a partir do poder governamental e das suas ramificações, perseguições na Administração Pública por jovens delatores que viram a sua acção coroada de êxito, etc.

Contrariamente ao seu habitual discurso, com voz silabicamente ritmada no bom estilo robótico que nos faz lembrar os atendedores automáticos, o primeiro-ministro zangou-se, elevou a voz, como qualquer humano normal irado e disse «não temos lições de liberdade a receber de ninguém» Certamente queria dizer que não estava disposto a receber lições de liberdade de qualquer daqueles partidos que, todo juntos, têm menor peso do que o seu sozinho. Ele tem razão pois nenhum partido, nenhum político tem autoridade para dar lições de liberdade, nem que sejam apenas lições teóricas. Por isso, o Sr. primeiro-ministro, como político que é, também não a tem. Mesmo que grite «não me desminta».

E porquê? Porque o político tem como objectivo a conquista do poder e quem tem poder sofre da fragilidade de não conseguir evitar o seu abuso, e o abuso do poder resulta em teimosia, autoritarismo, arrogância (não me desminta, não recebo lições), logo e cerceamento das liberdades de quem, seguindo a ética, a moral, a racionalidade, toma a ousadia de se pronunciar contra tais abusos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro A. João Soares

Recordemos "ciência" básica:
1. O fim último dos partidos políticos é a conquista e manutenção do poder.
2. Poder é a capacidade de obrigar outrém a um certo comportamento.
3. O poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.
A partir daqui, sou obrigado a reflectir sobre a decisão dos srs deputados no sentido de passarem a ter cada um ao seu dispor um gabinete individual e um assessor pessoal. Isto no tempo de vacas magras e esqueléticas!
E interrogo-me, seriamente preocupado, se tal decisão não pode ser interpretada como perigosa provocação...
Como comentou no Barão da Troia o meu irmão Armando de Torres, é cada vez mais notório que uma grande parte dos políticos que temos têm vindo e continuam a envenenar a democracia. E desajeitadamente a desacreditam.
Chego a perguntar-me se trabalham para realizar os desejos do saramago castelhano?...
Saudações

A. João Soares disse...

Caro Zé Guita,
Este seu comentário é brilhante como é seu costume. Uns pressupostos que definem com precisão.
Se alguma coisa me deixa dúvidas é se a finalidade é realizar os desejos do castelhano, porque o único condicionante deles é o próprio interesse, e se sobrar alguma capacidade será para o partido até que o abandonem, e só no fim poderá ficar algo para o interesse de Portugal. É isto que se conclui dos discursos, dos debates e das afirmações públicas.
Claro que se os seus desejos forem melhor servidos com as ideias de um qualquer castelhano, de um construtor ou de um proprietário de recente data interessado na Ota, eles darão a esse todo o apoio.
Abraço