domingo, 8 de julho de 2007

Porto Editora, espanhola ?

Tantos Filipes II.
Literatura e Editoras


de: Coronel Luís Alves de Fraga
Há dias tive conhecimento de que já se iniciaram negociações entre a Porto Editora e um grupo financeiro espanhol para venda da parte desta consagrada chancela portuguesa, que se dedica à edição de livros escolares. Depois de já terem sido compradas a ASA, a Texto Editora e a Caminho pouco falta para Espanha dominar, quase por completo, a edição de livros escolares em Portugal, pois ocupa, também entre nós, um importante lugar na edição da literatura ficcional.

Depois de dominadas as maiores editoras portuguesas pelo capital de Espanha pouco restará às pequenas para poderem sobreviver com independência e segurança. Isto quer dizer que os autores nacionais ou se adaptam à vontade do mercado ibérico ou não terão possibilidades de ver publicados os seus manuscritos. Assim se afoga a criatividade de um Povo e a sua cultura escrita.

Este negócio para apoderar-se do mercado do livro escolar — aquele que dá mais lucro e garantias de consumo — já em Espanha levou a que se tenham discutido programas de várias disciplinas, nomeadamente o de História, pois há regiões autónomas que privilegiam o conhecimento aprofundado do seu passado em detrimento do da Espanha como Estado único. Poderá vir a acontecer o inverso entre nós? Será que teremos, em breve, de passar a estudar em pormenor os reinados dos Filipes, esquecendo que houve uma Aljubarrota, uma batalha de Alcântara e, até as campanhas da Restauração? Será que no jardim do paço episcopal de Castelo Branco as três estátuas representativas dos reis espanhóis serão substituídas de modo a terem a mesma estatura da de todos os restantes monarcas portugueses? Que a Praça dos Restauradores, em Lisboa, se passará a denominar Praça Ibérica?

Não defendo um nacionalismo serôdio e bacoco ou fascizante, mas tenho, sem sombra de dúvida, amor a esta terra, a esta gente, a esta cultura que durante séculos nos manteve distintos dos vizinhos aqui do lado — nem melhores nem piores — mas somente diferentes. Por tudo isto me insurjo contra a facilidade com que se permite a descaracterização de Portugal, a estouvada e gananciosa venda dos bens estratégicos portugueses a estrangeiros que passarão a dispor de condições de forte intervenção nas decisões governamentais.

Repugna-me a ideia de imaginar que o verdadeiro centro decisório da política portuguesa — já agora fortemente dependente de Bruxelas, de Paris e de Berlim — poderá passar a ser Madrid ou Barcelona. E, bem pior, em vez de se subordinar ao palácio da Moncloa, se subjugue ao edifício de uma qualquer sede de grupo financeiro que talhe e retalhe a seu bel-prazer (claro que, no mundo globalizado em que vivemos, os Governos são eles mesmos meros serventuários da alta finança internacional, que mostra um rosto somente para ter uma cara passível de ser fotografada! O verdadeiro poder está diluído nas mãos de meia dúzia de accionistas desconhecidos, ou quase, do grande público, mas temidos nos meios onde se fazem os mais iníquos negócios especulativos).

À força de sentir Portugal como uma identidade separada da Espanha desde sempre e, mais em concreto, desde 1640 vejo em todas estas manobras de capitais ibéricos outros tantos Filipes II. E o mal está em que o Governo de José Sócrates se mostra impotente — quando não padrinho — perante estes jogos.

Nesta trincheira onde combato, todos os dias vislumbro mais nebuloso o futuro da Pátria que, na força, na coragem e no ardor dos meus vinte anos jurei servir com sacrifício da própria vida se tal fosse preciso. Mantenho-me junto ao parapeito, olhos postos na terra de ninguém, esperando as arremetidas de todos quantos, comprados e corrompidos pelo dinheiro estrangeiro, me possam querer silenciar. Coronel Luís Alves de Fraga

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