As eleições para a Câmara Municipal de Lisboa levantam uma oportunidade para profunda reflexão, em vários aspectos, mas, para simplificar, vou apenas aqui deixar algumas dúvidas que merecem ser esclarecidas pelos «sábios» politólogos.
A existência de candidatos independentes constitui um fenómeno que nos faz pensar no papel dos partidos. Estes, pelos vistos, não dispõem de capacidade suficiente para interpretar as vontades dos eleitores de participarem na vida do País. Deixam nos intervalos largo espaço para o aparecimento e a manobra de candidatos independentes. A esse fenómeno alia-se um outro, o de esses candidatos, apesar de lhes faltar o apoio de uma máquina partidária, conseguirem mais votos do que os candidatos dos partidos de que são originários, como são os casos agora, do PSD, nas Presidenciais do PS (Manuel Alegre versus Mário Soares), nas autárquicas do PSD em Oeiras e Gondomar, e do PS em Felgueiras. Nas eleições para a CML, a candidata independente ex-PS, embora não tivesse tantos votos como o candidato do partido, desviou suficientes eleitores, tornando impossível a maioria absoluta deste. Isto evidencia que os partidos se mostram incapazes de compreender e assumir os desejos das populações que pretendem representar e defender, não inspirando a confiança suficiente para atrair os seus votos. Com esse distanciamento, não conseguem mobilizar os seus filiados, deixando-os fugir para as candidaturas independentes e não captam os votos dos eleitores que acabam por se concentrar nestas candidaturas em que vêm alternativa válida para suprir as incapacidades dos partidos, demasiado preocupados em fitar o próprio umbigo e, por isso, impedidos de ver o povo e as suas necessidades. Mas a falta de mobilização, de uma forma geral, fica bem evidenciada na enorme abstenção, na grande quantidade de eleitores que decidem não ir votar, certamente, por não verem utilidade nessa sua participação democrática.
Cabe aos políticos olharem atentamente para estes problemas eleitorais, procurarem diagnosticar os parâmetros da situação e equacionarem as medidas a tomar para revitalizar a Democracia que, como se viu, está doente a agravar-se de umas eleições para as seguintes.
Boas-Festas
Há 2 horas
8 comentários:
O que ficou provado é que o maior espectro do eleitorado português já se está “obrando” para a classe política e para as instituições partidárias. A prová-lo está a segunda maior percentagem de votos em independentes do que em candidatos institucionalizados.
Um abraço
Caro A. João Soares
Embora atrasado, não quero deixar de responder ao desafio.
O meu comentário já lá está no post
respectivo.
Saudações.
Manuel do Montado,
É verdade. Mas mal vai a democracia, em que a soberania reside no povo, quando este não tem confiança nos seus escolhidos para o representarem e defenderem os seus legítimos interesses colectivos.
Não há políticos com capacidade para cumprirem «com lealdade as funções que lhes são confiadas» pelo povo, e isso significa que não há condições parea se chamar democracia a isto.
Abraço
Caro A. João Soares,
Dou-lhe os meus sinceros parabéns por esta análise tão clara e profunda da actual situação política do país. Efectivamente, os portugueses manifestaram, nas diversas ocasiões que referiu, um desencantamento face ao actual quadro partidário. Se, ainda recentemente, os partidos representavam claramente sectores de opinião bem definidos, agora parece terem perdido essa representatividade.
A própria formação do Movimento de Intervenção e Cidadania, inspirado pela candidatura presidencial do Manuel Alegre, já era indicadora deste estado de coisas.
Uma vez que a minha luta se inscreve, como sabe, na busca de alternativas a esta globalização neoliberal, pergunto-me se não começará a ser o momento de valorizar o peso dos movimentos de cidadãos na criação de novos modelos de democracia.
Um abraço amigo
Atenção, A.J.Soares:
Não são "independentes"...
É um truque para enganar os incautos -e eles (os incautos) são tantos-...!
Isso de "independentes" só acontece no "papel"...
Na prática, são mais que...
DEPENDENTES!!!
Caro Jorge Borges,
Normalmente, as sociedades evoluem sem roturas, mas com uma progressiva sedimentação de ideias que surgem em função de realidades mal definidas e compreendidas mas que lentamente vão criando forma num sentido que acaba por ser apreendido e criando a adesão de bem intencionados.
Estamos sem dúvida no caminho da criação e desenvolvimento do movimento de cidadãos, dentro do conceito democrático, mas sem os formalismos do regime vigente. Oxalá não se enverede pela relevância da «bufaria», mas sim pela manifestação visível de tendências saudáveis para a sociedade como tem ocorrido na oposição a aberrantes decisões o ministro da saúde que o têm obrigado a recuos sensatos, como aconteceu na Educação com o recuo da TLEBS, e nas Obras Públicas com a ponderação de alternativas à Ota.
Os movimentos de cidadãos são um sinal da vitalidade da democracia e certamente impedirão a consolidação da ditadura que é temida perante o autoritarismo e a arrogância dos actuais actores do Poder. É preciso tudo fazer para acordar o povo ao ponto de evitar que as pessoas se deixem conduzir como rebanhos para «festas» que nada lhes interessam, como os que foram transportados a Lisboa para aclamar António Costa. Não podia haver sinal mais evidente da doença nacional.
Abraço
Caro Camilo,
Realmente, nada nem ninguém, neste mundo é totalmente independente. Existe uma interacção que pode conduzir a análises tão complexas quanto os «intelectuais» o desejem. E estes são capazes de lindos tratados para justificar uma tese como para defender a tese contrária!
Mas, parece não restarem dúvidas de que o sistema de partidos, como representantes das diversas opiniões a sociedade, fracassou. Se assim não fosse não haveria lugar para candidatos estranhos a eles e que granjearam a simpatia de tantos eleitores, mais do que outros candidatos que usufruíam do apoio dos partidos.
Para que servem os partidos, afinal? Para se degladiarem uns aos outros de forma estéril de que o resultado mais visível é enriquecer os «boys» e as «girls» do clã, porque deles nenhum benefício resulta para a generalidade dos cidadãos.
Por isso, o povo, na sua boa fé, está a dar já em grande parte o seu voto a candidatos que avançam sem as rédeas dos partidos. Embora incipiente, estão a tomar forma «movimentos de cidadãos na criação de novos modelos de democracia» como diz Jorge Borges, com muito acerto.
Abraço
Sobre este tema tem interesse o artigo do JN de 18-07-2007 Ter ou não ter partido.
Abraço
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