Embora me interesse pela vida do meu País, por tudo o que nele ocorre e pelo que se passa no mundo que possa, directa ou indirectamente, ter consequências na vida dos portugueses, verifica-se, por razões várias, que nunca fui sócio de nenhum clube nem filiado de qualquer partido político. A ausência de compromissos daí resultante e o gosto por esboçar análises, o mais possível, imparciais, livres e isentas, permite-me apontar o dedo a decisões, medidas e palavras, de qualquer responsável político que me pareçam discordantes dos interesses gerais da Nação, dos objectivos que traduzam desenvolvimento e melhoria das condições de vida dos cidadãos.
Quanto às eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, numa observação rápida de cidadão não residente no concelho, nada encontro de positivo, antes pelo contrário, fico abalado com o estado a que chegou a consciência da população em relação à má qualidade dos políticos, traduzida por uma abstenção de 62,6%. Para essa «grande maioria absoluta» da população, tanto faz a Câmara ser presidida por A ou B ou ... L (eram 12 candidatos), por serem «todos iguais». A abstenção dá que pensar e é possível que nela se reflictam também os efeitos da política governativa geral.
Quanto à elevada abstenção, é difícil uma palavra de avaliação, mas talvez ela signifique que o povo está esclarecido sobre o seu dever cívico de participar nas formalidades democráticas, ou, por outro lado, está bem acordado e alerta e queira mostrar aos políticos que não lhes dá aval para a continuação dos seus processos oligárquicos de concentrar benefícios nos membros do clã e seus próximos. Talvez os 62,6% possam ser classificados como uma revolução silenciosa espontânea, ainda por organizar, para a destituição do sistema vigente.
Outro ponto de reflexão. Que já não é novo, é a pouca importância os partidos políticos, do que resulta a grande quantidade de eleitores a preferirem privilegiar, com o seu voto, candidatos independentes, tal como aconteceu recentemente nos concelhos de Oeiras, Gondomar, Felgueiras e outros e, também, nas eleições presidenciais. As máquinas partidárias, com o seu autoritarismo e arrogância não têm conquistado as simpatias do povo. Porquê? Como remediar esta anomalia? Cabe aos políticos meditar serena e profundamente neste assunto.
Veremos se os lisboetas ganham com esta mudança antecipada. Muitas Câmaras, e a de Lisboa não tem sido excepção, gastam fortunas em obras de fachada que não são essenciais para a melhoria das condições de vida da população e, muitas vezes, são mesmo contraproducentes, como foi o caso do túnel do Marquês. Não me refiro a pormenores técnicos da sua construção, mas à ideia de o construir, facilitando o acesso de carros à cidade numa época em que é ecologicamente aconselhável evitar esse acesso para bem do ar que os habitantes respiram. Com os custos do túnel e de tantos parques de estacionamento na cidade, podiam e deviam ser construídos parques na periferia, com grande capacidade e segurança onde ficariam os carros não indispensáveis na cidade e de onde partiriam transportes públicos mais rápidos e eficientes, por encontrarem as ruas mais livres. Dessa forma, seriam poupados dinheiros municiais e seria tornado mais saudável viver e trabalhar em Lisboa.
Lisboa terá mesmo uma nova Câmara ou esta será igual às outras com os defeitos e vícios tradicionais? Haverá «centenas» de assessores nomeados por critério de «confiança política», ou terá apenas os necessários, escolhidos por concurso público e critério de competência técnica? E que medidas de controlo aplicará para evitar a corrupção generalizada?
segunda-feira, 16 de julho de 2007
Lisboa com nova Câmara?
Publicada por A. João Soares à(s) 06:14
Etiquetas: assessores
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2 comentários:
Percebo-te. Somos dois.
Abraço.
Caro Pinto Ribeiro,
Mas é preciso que os políticos também percebam toda esta salada. É preciso que eles deixem de pensar apenas nos empregos para os boys e nas suas mordomias.
Portugal merece pessoas mais competentes e sérias do que os políticos que agora temos.
Abraço
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