Alunos "interessados" custam 30 euros
Catarina, 14 anos, já entrou nos Morangos com açúcar e costuma ser chamada pela agência de casting onde está inscrita para fazer figuração em novelas ou em anúncios. Desta vez foi um pouco diferente: ela e mais nove colegas da NBP Casting foram contratados para fazer figuração na apresentação do Escola - Plano Tecnológico da Educação.
"Chamaram-me e eu vim", diz Catarina, que vai receber 30 euros por uma manhã de trabalho. Há um funcionário do Ministério da Educação que interpreta o papel de professor e aos miúdos cabe representar os alunos interessados que sabem usar as novas tecnologias. "A Ana foi à pastelaria e comprou 12 bolos. Em casa, a família comeu metade. Quantos comeram?" Seis, claro. Foi, diz Ana Rita, de sete anos, um dos papéis mais fáceis da sua curta carreira: "Já entrei na Ilha dos Amores. E gosto muito de computadores."
Interpelados sobre o assunto, o primeiro-ministro José Sócrates e a ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues não se mostraram preocupados por estarem a estimular o trabalho infantil. "O evento foi organizado por uma empresa que é profissional e por isso quis mostrar como funciona o equipamento", explicou a ministra. No final da apresentação, Sócrates congratulava-se pelo Plano Tecnológico: "com este projecto, o Estado cumpre o seu dever de liderar, de mostrar o caminho". Embora o Estado nem sempre dê o melhor exemplo. - M. J. C.
NOTA: Num momento em que se procura combater o trabalho infantil e se acusam os pais que utilizam a ajuda dos filhos durante as férias e tempos livres em actividades que até podem ser consideradas de aprendizagem prática da vida, o Governo dá um mau exemplo. E, ao olhar para a imagem do Diário de Notícias, vemos crianças que estão a fazer de alunos, um funcionário que está a fazer de professor e um indivíduo parecido com o engenheiro Sócrates que parece estar a fazer de primeiro-ministro. Enfim, um País de «faz-de-conta», com o dinheiro dos contribuintes a pagar o trabalho infantil. E, de acordo com as palavras destes «trabalhadores», eles já são profissionais com largo currículo! Onde chegaremos, por este caminho?
From the river to the sea
Há 33 minutos
6 comentários:
Deixem os 'pikenos' trabalhar! Então se trabalhar nas novelas não é condenável, muito menos o será, fazer um trabalhinho para o estado (leia-se governo) que é uma verdadeira causa nacional.
Não há meio de compreenderem as pessoas. Deixai vir a mim (a eles) as criancinhas!
Realmente, é preferível as crianças fazerem estes trabalhos do que andarem na droga ou outras coisas nocivas. Mas esse raciocínio não deve sr aplicado apenas à TV e aos trabalhos para a teatrada do Governo, devendo também ser tida em consideração a ajuda aos familiares, sem prejuízo da escola.
Isto (a política nacional) nem é teatro, é palhaçada. Um qualquer gabinete de publicidade foi-nos impingido como se fosse uma escola modelar. Se bem olharmos para as inúmeras aparições deles em público verificarmos que tudo é faz-de-conta.
Como acreditar nos belos discursos?
Abraços
Lamentável que responsáveis, como a ministra da Educação e o primeiro-ministro, dêem cobertura a este tipo de actividades que, no caso de jovens actores, deveria estar severamente regulamentada.
Para quê contratar "profissionais"? Que critério político de boa governação é este?
Um abraço
A juventude deve estar ocupada sem contudo descurar o lado escolar. Como o João Soares refere devem ajudar na economia familiar em pequenos papéis, fortalecendo a responsabilidade.
É necessário que saibam o que custa a vida,ou que pelo menos ganhem alguma noção, sem perturbar o seu desenvolvimento e currículo académico/profissional.
Pergunto: Há ou não uma escolaridade obrigatória? O Governo fiscaliza os actores que fazem os "Framboesas com Açucar"?..."Os Bananas com Limão"?As Chiquititas? E as Floribelas?
Participações esporádicas salvaguardando o futuro não faz mal a alguém, mas começam a meter coisinhas na cabeça dos ninos e depois, trabalhar...nickles!
Abraço
Mário Relvas
Falta regulamentação do trabalho infantil, ou ele é totalmente proibido? É um assunto a esclarecer.
O Governo deu cobertura a esse trabalho e, como não há regulamentação, todo ele está autorizado, mesmo o mais árduo e perigoso.
Outro aspecto é a deslealdade para com o espectador que pensa estar a ver uma escola em funcionamento e nada passa de uma representação. A partir de agora, temos o direito de duvidar de todo e qualquer cenário apresentado pelos governantes e das suas palavras. Não merecem a mínima confiança.
Abraços
Sugiro a leitura do artigo do DN de Vasco Graça Moura que aborda este assunto de forma interessante Plano Tecnológico Educativo.
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