quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Exército corrige erro

Exército planeia centralizar os comandos funcionais

Deparei com a notícia que se refere a uma directiva do CEME (Chefe do Estado-Maior do Exército) aos seus generais em que determina a elaboração de estudos para a concentração dos serviços recentemente deslocalizados para locais distantes da capital. Embora seja agradável ter-se conhecimento da emenda de tal inqualificável erro, lamenta-se que o assunto tenha saído prematuramente para a Comunicação Social. Está realmente a perder-se, no país, o respeito pelo segredo – nos tribunais, nas polícias e, agora, também no Exército. Teria sido preferível manter o estudo em âmbito de confidencialidade e de secretismo, até uma fase mais avançada ou, mesmo, até à decisão final. Dessa forma se evitavam pressões egoístas ou mesquinhas de interessados nas consequências de uma ou outra solução.

A deslocalização anteriormente decidida, quando se terminava com divisão do País em Regiões Militares e se substituíam por comandos nacionais para os diversos sectores, dificilmente ela era justificada pela missão superior do Exército - a consecução da defesa terrestre, como parte da defesa militar, por sua vez integrada na Defesa Nacional, no seu significado lato. Nem a actividade de gestão dos recursos humanos no Porto, nem a de instrução e doutrina em Évora têm mais capacidade para o cumprimento da sua missão fundamental do que se estivessem localizadas em Lisboa, com mais facilidades de contacto e de reuniões som os restantes sectores da cúpula do Exército e dos outros Ramos e a obtenção de despachos mais fundamentados e esclarecidos pela discussão oral dos pontos menos lineares. Se alguma coisa poderia beneficiar com alguma descentralização, para ser obtida melhor execução prática, seria o Comando Operacional que poderia beneficiar com antenas de operações e informações no Norte, Centro e Sul, podendo estas, devido ao seu reduzido volume, ficar instaladas em quartéis de unidades. Mas, na realidade, dadas as dimensões territoriais do País e o pequeno efectivo global do Exército, a concentração não traz obstáculos consideráveis ao cumprimento da missão.

Resta então o enigma, a explicação, da decisão do «exílio» de dois sectores gerais, com influência em todo o Exército, para o Porto e Évora. Há quem diga que tal se deveu ao interesse provinciano e «pequenino» de querer manter os palácios das antigas RMN e RMS. É possível que tenha sido esse o motivo, mas parece anedótico. Primeiro, porque isso não poderia ser considerado um factor decisivo em qualquer estude da situação, em moldes clássicos, que se orientasse pela luz do farol que a missão constitui. Quem diz missão, diz objectivo ou finalidade a ela conducentes. Segundo, porque essa posse de espaçosas instalações para efectivos totais que não precisam de ir muito além da dezena de homens, não iria manter-se por muito tempo. Muito se pode dizer do efectivo máximo que no auge da guerra no Ultramar, tiveram as repartições e serviços ligados à instrução do EME e das Direcções das Armas e dos Serviços, ou ligadas ao pessoal, no EME e na DSP, e então não havia o recurso à informática de que hoje se dispõe.

Convém não perder os bons esquemas de organização e de trabalho que deram boas provas em épocas de grande intensidade operacional com um produto acabado grande em quantidade e razoável em qualidade.

Desculpem-me os senhores Generais este desabafo, mas a notícia sensibilizou-me a este ponto!!!

5 comentários:

PintoRibeiro disse...

A perpetuação de uma certa mentalidade corporativista/salazarista de que fala Gil, não?
Um abraço.

PintoRibeiro disse...

A perpetuação de uma certa mentalidade corporativista/salazarista de que fala Gil, não?
Um abraço.

A. João Soares disse...

O que é grave é que os generais não aplicam a boas regras de preparar decisões. Isso fazia parte das matérias ensinadas nos Cursos de Estado-Maior, para fins tácticos, mas é aplicável a qualquer tipo de decisão em qualquer assunto. o certo parece ser que a maior parte daqueles que as decoraram não as compreenderam totalmente e muitos generais nunca as aprenderam.
Aquela decisão de mandar o Comando do Pessoal (de todo o pessoal do Exército) para o Porto, e o Comando da Instrução para Évora, não cabe na cabeça dum careca. Só para manter a posse dos palácios ??????!!!
Agora remendam. Mas já se gastou muito desnecessariamente, e fica nos anais a falta de discernimento dos generais que tomaram a decisão.
Um abraço

Luís Alves de Fraga disse...

Caro A. João Soares,
Não quero acreditar que a decisão de dispersar certas parcelas de comando e suporte logístico pelo país tenha alguma coisa a ver com os palácios que ficaram disponíveis com o fim dos Comandos das Regiões Militares.
Posso admitir que, com a concentração e redução de efectivos do Exército, haja alguma pressão por parte do pessoal militar (especialmente os mais antigos e acomodados às situações) de querer estar mais próximo das suas terras de origem, mas, mesmo assim, num tempo em que as distâncias se encurtaram, parece-me, já não se justifica tal atitude.
O que terá presidido à «descentralização» pode ter sido o «complexo de grandeza» de que o Exército ainda padece (as forças de «quadrícula» ainda representam uma corrente importante no pensamento táctico e estratégico do emprego dos homens e do material). Claro que para muita gente que se habituou a ver no Exército a grande massa de homens que se opunham a uma mais que hipotética «invasão» da Espanha, toda a retracção do dispositivo representa uma perda de importância, pois ainda não aceitaram intimamente que no plano estratégico a importância da guerra moderna num teatro nacional reside na Força Aérea e na Armada; o país, com o tipo de armamento existente, não tem profundidade para a manobra militar terrestre, daí que a defesa se tenha de fazer no ar e no mar, constituíndo as forças terrestres meros elementos retardadores pontoais da acção adversa (elementos de elevada importância se estiverem bem armados e equipados, porque retardam o avanço por linhas específicas e tradicionais de penetração).
O general Pinto Ramalho pertence a uma nova geração de generais mais «flexíveis» a certos argumentos e mais adaptado à concepção de defesa que hoje campeia na estratégia europeia.
Outros, no passado recente, ainda estavam muito ligados a conceitos mais antigos...

A. João Soares disse...

Amigo Luís Alves de Fraga,
Obrigado pelo seu comentário que vem trazer mais luz ao assunto. Poderá ter havido pressões do pessoal das FA que gosta de ver a sua terra prestigiada pela presença de militares. Até as autoridades locais gostam de ver fardas nas suas cerimónias em momentos festivos.
Os tempos dos Batalhões de Caçadores para defenderem as fronteiras já passou há muito. E mesmo a defesa aérea será ineficaz para uma acção espanhola de surpresa sobre Lisboa ou Porto, para indicar alvos distantes da fronteira! Falta realismo, por um lado, e, por outro, falta humildade para aceitar a nossa pequenez.
Às vezes, ao olhar para a posição dos governantes em relação às Forças Armadas, quase vale mais pensar que seria preferível eliminar tudo o que é militar.

Um abraço