No editorial do Diário de Notícias de 6 e Maio é afirmado que, «para além da dimensão policial do caso, e respeitando a dor dos pais, há no entanto uma reflexão que não deve deixar de ser feita: é pura irresponsabilidade deixar três filhos de tão tenra idade (um par de gémeos de dois anos e Madeleine de três) sozinhos em casa, ainda para mais num país estrangeiro e por isso desconhecido.
Um casal de médicos tem maior obrigação de o saber porque, para além de conhecer o mundo e a maldade que se esconde no ser humano, pode e deve avaliar todo o conjunto de problemas e acidentes que crianças dessa idade têm tendência a provocar estando libertas da necessária vigilância de um adulto.» É realmente um ponto de reflexão a sublinhar que mostra que os próprios ingleses, com tanta fama de eficientes, não são todos menos medíocres do que os portugueses.
Mas desta lamentável ocorrência ressaltam outros aspectos que podem levar a suspeitar da falta de sensibilidade e de sentido das responsabilidades por parte de polícias e órgãos da Comunicação Social.
Admitamos que a criança não foi vítima de acidente, por ter saído de casa e caído num poço, por exemplo, e que foi raptada com o intuito de obtenção de um resgate. Neste caso a melhor reacção da família e dos polícias seria manter o caso em segredo para deter o raptor no momento e local por ele indicado para o pagamento que, logicamente, seria próximo em termos de distância e de data. Se essa fosse a finalidade, depois de tanta publicidade, o raptor já não se arriscaria às consequências da obtenção do resgate e a sua preocupação passaria a ser libertar-se da criança, do que poderia resultar a morte desta.
Porém, a finalidade do rapto poderia ser outra como o tráfico para utilização em actos de pedofilia ou para o negócio de órgãos para transplante, casos em que a busca e o bloqueio da fuga não deveria demorar para ter eficiência, sem que isso viesse impedir a manutenção do segredo, dentro do princípio de informar apenas quem tem necessidade de saber. Porém, dada a sensibilidade do caso, e os interesses em causa, inclusivamente diplomáticos e da indústria do turismo e o desejo de novidades da parte dos jornalistas, não se trata de uma acção de fácil coordenação e controlo, pelo que são de evitar críticas e juízos apressados e com pretensão de correcção.
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