Mendo Castro Henriques, professor da Universidade Católica e um dos autores da obra «O Erro da Ota» escreveu uma carta aberta ao ministro Mário Lino em que, a dada altura diz : "A democracia, para si, sr. ministro, é um cheque em branco passado de quatro em quatro anos, não tanto a um Governo, mas a um partido político que selecciona esse Governo". Há quem não se fique pela figura do «cheque em branco» e chegue a afirmar que, perante a arrogância, petulância e comportamento autista de muitos governantes, o actual regime português é uma «ditadura a prazo» de quatro anos renováveis.
Sobre este caso da localização do novo aeroporto de Lisboa (NAL), em vez de transparência na explicação das razões da decisão do Governo, por forma a que o Povo, detentor da soberania, compreenda porque é que o seu dinheiro é utilizado desta e não de outra forma, o Sr. ministro atira poeira aos olhos dos eleitores, fala de deserto, argumenta com a população do Oeste esquecendo que a grande massa de utilizadores dos aviões parte de Lisboa ou ali se destina e que a geografia, a topografia, a orografia e os aspectos específicos da segurança de voo não podem ser postergados na escolha do local. E, nisso, é apoiado por uma tosca argumentação, acerca de pontes, de um seu camarada de partido, já muito desactualizado e que, pela força do hábito, se convence que em Portugal, inteligente só há um, ele, e mais nenhum.
Os argumentos do MOP, repetidos e sem carrearem nada de novo para o esclarecimento da localização do NAL estão de acordo com a sua «piada» de, sabe-se lá com que finalidade, dizer que é engenheiro civil inscrito na Ordem dos Engenheiros», ou quando de visita oficial a Espanha, onde era suposto ir defender os interesses de Portugal, ter declarado que é iberista. Não podia escolher melhor local nem oportunidade para o dizer!
Parecido com isto recorda-se a gafe de Sócrates, que deu as boas-vindas aos imigrantes que chegam a "um país cada vez mais pobre". Um acto falhado que traduz a verdade que domina o mais íntimo do seu subconsciente, e que é permanentemente reprimido por necessidade de propaganda. Recorde-se também a falha de Manuel Pinho, quando prometeu aos desempregados da cidade da Guarda empregos em postos de trabalho na mesma empresa na cidade de Castelo Branco e que a empresa veio dizer já estarem preenchidos. Esta, depois da tentativa de aliciamento de chineses por cá haver salários muito baixos e das desculpas imberbes do excesso de velocidade de 212 quilómetros à hora, é mais um caso desta «ditadura a prazo» dos oligarcas todo poderosos.
Mas, se realmente há serviços de segurança, interna ou estratégica, convém averiguar o que está por trás da indicação dada à Al-Qaeda de que seriam significativos os feitos de um acto terrorista na ponte sobre o Tejo (qual delas?). Parece estarem esquecidos de que o bom senso, a que muita gente recusa importância, é um auxiliar importante e imprescindível da gestão da vida privada e, principalmente, na pública.
sábado, 26 de maio de 2007
Cheque em branco por quatro anos?!!!
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
Caro A João Soares,
Dou-lhe os meus parabéns pela escolha desta carta, bem significativa do estado em que se encontra a nossa não-democracia portuguesa. Acabo por ficar convencido de que a consecutiva acumulação de erros políticos por parte deste governo não-socialista acabará por vir a enterrá-lo aos olhos da opinião pública.
Bem sei que, segundo as últimas sondagens, os inquiridos ainda escolhem o PS e o eng. Sócrates para governar, mas esta tendência pode sempre inverter-se a qualquer momento, já no próximo erro crasso que cometerem.
Um abraço amigo
Caro Jorge,
Não conheço a carta. Apenas, o que li no artigo do Diário de Notícias me desencadeou uma série de reflexões que me leva a compreender que, atendendo ao ditado «errar é humano», os nossos políticos são demasiado humanos, mais do que o desejável!!!
Se conseguir encontrar a carta aberta, não a guarde só para si!
Um abraço amigo
Nas minhas piratarias de juventude, tive o gosto de ser aluno do Prof. Mendo Henriques e considero que ele tem razão na sua reflexão. Mais até do que "instrumentalizar" esta questão pró ou contra qualquer partido, dever-se-ía perceber que se trata de uma QUESTÃO de ESTADO e de cuja resolução a qualidade de vida das nossas POPULAÇ~~OES poderá vir a ressentir-se, para além de que certas soluções poderão ser tão pouco eficazes em termos da proporção "custos - benefícios" que realmente poderão ser desastrosas.
Não sou perito de construção de aeroportos e sobre isso não me pronuncio. Mas que deveria imperar o bom senso e o discernimento, além de uma VISÃO de LONGO PRAZO, é verdade.
Abraço d' O Pirata
Fico muito satisfeito ao ver que os piratas também pensam em decisões ditadas pela estratégia, pelo interesse nacional, pelo bom senso de aplicar os dinheiros públicos sob o cálculo da proporção de custos e benefícios. Muito bem. Pocos portugueses sabem de construção de aeroportos, principalmente quando se fala de políticos que, ou são ignorantes de tudo, ou são ex-estudantes de direito sem noção das realidades ou professores universitários que vivem nas nuvens sem vislumbrarem o chão que pisamos e onde se encontram os cidadãos que é coisa em que raramente pensam - só em vésperas de eleições quando nos querem sacar o voto. Mas mesmo sem percebermos o que é um aeroporto, notamos que há falta de senso e de verdadeiras razões para uma escolha que envolve tantos milhões. Se houvesse essas razões e elas fossem confessáveis, decerto que os governantes não se fechavam em copas e teimassem no «porque sim» e no «jàmé». Estão-se nas tintas para os contribuintes. É a tal ditadura a prazo de quatro anos renováveis.
Caro Pirata, apareça muitas vezes por aqui. Prometo fazer os possíveis por encontrar cá textos novos em cada dia.
Abraço
O Professor Mendo Casto Henriques tendo visitado o blog e encontrado a referência à sua carta, teve a amabilidade de ma enviar por e-mail.
É a seguinte:
27/05/2007 (54 leituras)
Exm.º Sr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
Eng.º Mário Lino:
Refere a comunicação social de 24 de Maio de 2007 que, durante um almoço-debate sobre "O Novo Aeroporto de Lisboa", promovido pela Ordem dos Economistas, e que ficou assinalado pela sua intervenção, não direi tanto famosa quanto notória, que “A margem Sul é um deserto” achou também oportuno brindar os presentes com a afirmação que "O programa do Governo não será avaliado por 22 senhores que escrevem livros, mas pelos eleitores em 2009".
Referia-se decerto ao livro O ERRO DA OTA e creio falar em nome de todos os seus autores.
Naturalmente que não inferimos das suas palavras que despreza os autores de livros, nem a cultura em geral, nem a cultura técnica e profissional que resulta do citado livro, escrito por especialistas independentes e isentos com a consciência cívica de estarem a prestar um serviço ao país.
Também não inferimos das suas palavras que são inúteis estudos preliminares e chamadas de atenção fundamentadas, quando estão em jogo opções estratégicas para o país como seja “O Novo Aeroporto de Lisboa".
Não inferimos, ainda, das suas palavras que a democracia, para si, Sr. Ministro, é um cheque em branco passado de quatro em quatro anos, não tanto a um Governo, mas a um partido político que selecciona esse Governo; sempre nos ensinaram que o poder legislativo tem a primazia sobre o poder executivo e que o Presidente da Assembleia da República é a 2ª figura do regime.
Tudo isto, senhor Ministro, damos por pacífico que não é questionado na sua intrigante afirmação.
Mas, Sr. Ministro, ficamos preocupados que com tanta preocupação sua, técnica e política, e tantos dossiers a gerir, encontre tempo para desqualificar quem com “honesto estudo” vem concluir em voz alta o mesmo que indicam as sondagens de Abril e Maio de 2007, segundo as quais cerca
de 92 a 93% da população nacional, ponderando os votos, está contra a localização na Ota do Novo Aeroporto de Lisboa.
Poderá V. Exª saber que o famoso poeta alemão Heinrich Heine escreveu em 1821 que “Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas”. Sem dúvida que jamais terá atravessado a mente de V. Exª queimar livros e muito menos pessoas, ao longo da sua já longa carreira política. Mas só lhe pedimos isto Sr. Ministro: tendo o Prof. António Brotas feito a oferta a V. Ex.ª de um exemplar da citada obra, não queime também reputações e responda a quem merece resposta pelos depoimentos fundamentados que prestaram, como é o caso dos 22 autores de O ERRO DA OTA E O FUTURO DE PORTUGAL
Mendo Henriques
Enviar um comentário