Esta análise, se não é exaustiva, é profunda, clarifica muitas dúvidas e estimula a reflexão.
Fortunas e origem das desigualdades
José Travassos Valdez- Nisa, in «Portugal Club»
É um facto real que todos os poderes se submetem directa ou indirectamente a um poder maior, o poder económico. É fácil entender que a riqueza gera poder.
Mas de onde vem então a riqueza?
Diz o povo na sua sabedoria popular “quem não rouba nem herda, não tem uma m….”, “Quem rouba um pão é um ladrão, quem rouba um milhão é um Barão e quem não rouba nada um grande parvalhão”.
Podemos dizer, salvo raras excepções, que na origem de uma grande fortuna há sempre uma história desonesta, de furto, de venda ilícita, de fuga a impostos, de burla, de usura, etc.
Mesmo quando a origem da fortuna é honesta, por exemplo se baseada numa grande invenção, o seu crescimento e manutenção nunca se faz sem que pelo caminho se deixem algumas vitimas.
Quando a fortuna se inicia de uma forma desonesta, o pioneiro da fortuna prepara o terreno para que os seus herdeiros, possam dar continuidade à geração de riqueza, mas já em negócios lícitos. É hoje comum vermos os filhos e os netos dos traficantes Colombianos transformados em respeitáveis homens de negócios.
Também temos a bem conhecida história da grande empresa alentejana que começou com o contrabando de café e é hoje uma respeitável empresa do mesmo ramo, com ramificações para outras áreas de negócio.
Lembro-me de uma história de um indivíduo que fazia contrabando de luvas e sapatos para Espanha, contrabandeava por remessa só um lado, a luva ou o sapato do lado esquerdo, e dias depois o outro lado. Quando as mercadorias eram apreendidas ocasionalmente ou às vezes propositadamente, eram levadas a leilão, obviamente ninguém as queria pois não havia o respectivo par, assim o contrabandista arrematava o material a preços irrisórios, muito abaixo das taxas alfandegárias e assim já podia vender livremente, uma vez que a mercadoria havia entrado por uma via legal, o leilão do Estado. Como é óbvio, fazia completar a remessa com o lado do par em falta.
Podemos então afirmar que só se chega à riqueza através de uma actividade desonesta (no inicio da construção da fortuna), através da herança (os herdeiros de 1ª ou 2ª e seguintes gerações dessa fortuna inicial), através do casamento com um destes herdeiros, ou mais raramente através de uma patente de uma ideia genial.
Mesmo no tempo medieval, os nobres eram uma casta guerreira, que começaram por ser os mais fortes do grupo, e assim sendo tinham o privilégio do saque e da ocupação de terras, obtendo dessa forma a sua riqueza.
Ocasionalmente também se pode chegar à riqueza, através de um golpe de sorte, o Euro milhões, um achado ocasional (encontrar um grande diamante ou uma mina de ouro).
Portanto os caminhos para a grande fortuna são escassos.
A média fortuna pode ser gerada através das transacções comerciais e produção industrial onde o agente económico terá de obter lucros. Existem duas formas básicas de lucrar, comprar a baixo custo ou reduzir custos de produção e vender pelo valor real de mercado em sistema de grande rotatividade do produto.
É a velha máxima “ o segredo do negócio não está na venda, está na compra”.
A outra forma de se obter lucro é sobrevalorizar o produto por exemplo, vai haver um jogo muito importante, compra 200 bilhetes a 5 euros, uns dias antes do espectáculo, as bilheteiras esgotam, adeptos ávidos querem mesmo ir ao jogo e estão dispostos a pagar, logo se vender esses bilhetes a 50 euros em milhares que andam em busca do produto, vai encontrar por certo 200 doidos que estejam dispostos a pagar a exorbitância só para não perderem o espectáculo.
Outro exemplo, se tiver uma oficina e um cliente quiser uma peça única, também pode introduzir um valor adicional ao trabalho, etc.
A geração de riqueza obriga pois na generalidade dos casos à transacção, ou seja para se gerar lucro é preciso que os bens passem de mãos.
O poder pós revolução industrial caiu pois nas mãos do grande capital e dos detentores do poder económico.
Nos dias de hoje assistimos a uma tomada desenfreada da nossa economia, pelos Espanhóis, também os Estados Unidos, que venceram o Japão na guerra, estão hoje nas mãos dos japoneses que adquiriram, a troco de dinheiro, empresas símbolo da economia americana. Os estrategas militares foram substituídos pelos estrategas da economia internacional, da globalização.
A guerra foi transportada para o terreno da economia e hoje assistimos a empresas de dimensão multinacional, fazerem vergar estados “soberanos” ao peso dos seus interesses e ditames, mas por detrás dessas empresas ainda estão outros, outros que se movem na sombra e que são efectivamente quem dita as regras do jogo.
Estes mestres do poder que vivem nas sombras, têm sem duvida o objectivo claro de submeter o mundo inteiro a uma ditadura subordinada ao deus cifrão, e procuram a todo o custo a destruição das formas nacionais de cultura e a sua substituição pelo fast food e a cultura de elogio da estupidez.
A força da lei anti-natural, o despotismo do capital a confusão político social, a criação da discórdia social, o terrorismo como arma de manipulação, a removibilidade dos representantes do povo, são entre outras armas que o poder oculto se serve para manipular os povos e retirar-lhes a verdadeira e efectiva liberdade.
Algumas formas mais avançadas e descaradas desta ditadura, vão sendo ensaiadas em alguns países. São entregues sementes manipuladas geneticamente que, para crescerem, têm de ser adubadas e tratadas com produtos da companhia X, que só por mero acaso é dos mesmos que venderam as sementes, no final o produtor tem de lhes vender o produto produzido, que depois de entrar nos circuitos de venda, por ser um produto geneticamente manipulado, pode dar origem a contaminações e doenças, que têm de ser tratadas com os produtos A ou B da companhia Y que só por acaso é irmã da companhia X. Estas forças ocultas procuram robotizar a sociedade e transformar a humanidade nuns comedores de pílulas, tornando a população dependente de meia dúzia de vampiros planetários.
Voltando às questões da grande riqueza, nos dias de hoje já é quase impossível, nos países ocidentais, gerar uma grande fortuna sozinho, como os velhos patriarcas do passado. Os estados, ávidos de impostos e atentos aos sinais exteriores de riqueza, têm hoje poderes de fiscalização sobre situações duvidosas. Por esse motivo, para se conseguir esses golpes de fortuna é preciso muitas vezes ir para países onde a corrupção seja ainda moeda de troca.
Como é fácil de entender a acumulação de riqueza (licita ou ilícita) aumenta-se através do mecanismo “o dinheiro chama o dinheiro” e prolonga-se no tempo através da herança.
A riqueza, qualquer que seja a sua origem, é o factor principal de desigualdade social e da sua perpetuação.
Pese embora o facto de nos dias de hoje nos países ocidentais a educação ser um bem colocado há disposição dos cidadãos, o acesso a esta continua a ser limitado pelas condições de riqueza da família onde a criança se encontra inserida.
Uma criança nascida numa família rica poderá frequentar os melhores colégios até particulares, ter explicações, ter uma alimentação mais adequada, praticar actividades extra curriculares ter acesso à aquisição de cultura (livros, cinema, viagens, etc.) e acima de tudo ter acesso a um meio social onde poderá futuramente continuar o desenvolvimento da sua riqueza.
O pobre pode através da sua capacidade intelectual ascender socialmente através da conquista de um diploma e de uma carreira profissional, mas terá sempre muito mais dificuldades para singrar na vida. O rico pode no momento em que termina a sua formação ter acesso à sua independência por exemplo quando os pais lhe facilitam o dinheiro para se estabelecer num determinado negócio. O pobre terá sempre de começar por vender o seu trabalho, ter nome e fama de honesto na praça e depois recorrer a empréstimos na banca, para se poder lançar na conquista da riqueza. Ou então só consegue a riqueza por meios ilícitos.
Para que se perceba até o peso social destas questões ($$$ e Dr. no fundo status) recordo aqui duas histórias que vivi:
Aqui há uns anos, tive umas éguas e tinha de tratar do subsídio, como não entendia nada dessas coisas, pedi a um vizinho que tinha de ir à Zona Agrária e ele lá falou de mim e ficou combinado que num determinado dia eu lá passava para resolver a situação.
No dia combinado entrei e vi que estava uma fila à minha frente, como tinha agendado hora, pedi para me anunciarem e fiquei na fila ocupando o meu lugar. Qual não é o meu espanto quando o Eng. responsável me vem buscar, as pessoas que estavam na bicha à minha frente reclamaram e eu próprio não me sentindo bem, disse que esperava. Fui agarrado por um braço e enfiando dentro de uma sala, enquanto que o Eng. dizia para as pessoas, façam favor de estar calados que estou a atender o Sr. Doutor. Ainda reclamei para o Eng. dentro da sala mas foi em vão, ele disse que “o povo era povo e tinha de esperar” quando de lá sai extremamente incomodado, tentei fingir que era uma visita particular e assim disfarcei o incómodo da situação.
Há pouco tempo tive de ir a um edifício público em Lisboa, onde os Dr. passavam calmamente mesmo que levassem consigo uma bomba, enquanto que o “Povo” era revistado e interrogado pelos porteiros, curioso é o facto dos porteiros serem da classe que mais mal tratavam… o povo desconfia de si próprio e faz vénia ao dinheiro e aos títulos.
Em resumo podemos afirmar que a origem das desigualdades, está na fortuna e riqueza que o indivíduo dispõe à nascença, podem as circunstancias mudar, mas é claro que a percentagem de casos de sucesso em que o pobre vira rico é diminuta e quase sem expressão.
De acordo com a expressão popular, “nascer em berço que ouro” ou “com o c… voltado para a Lua” é sinónimo de que a condição de nascença ajudará e influenciará o futuro dessa criança.
Se nasce em berço de palha, mesmo que seja o filho de Deus e o salvador do mundo é crucificado…
O dia mais longo do ano
Há 1 hora
3 comentários:
Caro Amigo João Soares,
Aqui passo para lhe deixar um abraço e lhe dizer que já lhe respondi, lá na Península Encantada.
Parabéns pelos seus posts. É verdade que tenho andado com muito trabalho e por "mares revoltos" e então não tenho podido passar mais vezes. Um abraço de Pirata!
Seja bem-vindo e veja se pratica a piratagem também por cá, em vez de andar sempre por outras águas. Mas compreendo, cá dentro tem demasiada concorrência para poder ter uma actividade lucrativa. Piratas não faltam no rectângulo.
Um abraço
A. João Soares
Este vem a calhar com um livro do Ziegler que hoje me veio parar às mãos...
Boa noite e um abraço.
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