Transcrição de artigo:
À rasca andamos todos
Jornal de Notícias. 110226. Por Joana Amorim
Sou determinantemente contra os rótulos. Até porque, há uns anos, alguém se lembrou de me incluir numa suposta "geração rasca". E quando me falam agora de "geração à rasca" o sentimento é o mesmo. Já para não falar da "geração parva", que me dá calafrios. Não é um indivíduo que faz o todo.
E se estamos preocupados com o colectivo, então sejamos francos: andamos todos à rasca. Por um simples efeito bola de neve. Vejamos. Parte daquela dita geração (e sublinhe-se bem o "parte"), na casa dos 30 anos, está submersa na precariedade. Formou-se, estagiou de borla e/ou está com um contrato a termo, ou a recibos verdes ou desempregado. De vida incerta, não desamparam a casa dos pais (56 %, de acordo com as estatísticas) e atiram para dias melhores a constituição de família.
E os pais? Alguém se lembrou deles? Os pais trabalham até cada vez mais tarde, porque se anteciparem a idade da reforma perdem uma batelada de dinheiro e se forem para a reforma continuam a perdê-lo. E como as despesas em casa se mantêm, porque os filhos lá continuam, há que manter as remunerações. Dito isto, não há avós disponíveis para tomar conta dos netos. E como entrar no pré-escolar público é quase como ganhar a lotaria e os infantários, para além de caros, depois das 16 horas (como se alguém trabalhasse até àquela hora) cobram o denominado prolongamento, adia-se a maternidade lá para os 40.
Se virmos bem as coisas, é uma espécie de eterno retorno. Ao tempo em que numa casa moravam os pais, os filhos, os netos e os tios. E porquê? Porque, simplesmente, a vida está difícil. Porque se foram os anos artificialmente rosa do guterrismo. Porque fomos mal governados, porque o défice está em níveis insuportáveis, porque os especuladores financeiros ganham dinheiro connosco, porque a vida está cara, muito cara. E se na casa daqueles pais, filhos, netos e tios poupar foi a palavra de ordem, na última década andamos a viver claramente acima das nossas possibilidades, como as estatísticas comprovam.
Se calhar, mais pertinente era, de facto, questionarmo-nos que filhos sairão desta geração. Que rótulo lhes será colado?
NOTA: Como diz a cronista, o problema actual não é de uma ou de várias gerações. É de todos os portugueses, com excepção daqueles que vivem à sombra do orçamento, como assessores ou como titulares de instituições que foram criadas para garantir salário a quem pertence ao bando e não tem capacidade de sobreviver na competitividade privada, por falta de mérito. Pode ver-se uma lista, certamente incompleta, aqui.
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Há 3 horas
2 comentários:
Estamos "quase" todos à rasca, mas nada impede que sonhemos com um país melhor e com políticos melhores e mais capazes.
Abraço do Zé
Caro Zé Povinho,
Sonhar é fácil e não faz mal, mas nada resolve se não realizarmos algo que contribua de forma racional para os objectivos. Por o Sócrates viver de sonhos de enriquecimento pessoal e dos companheiros do seu bando é que Portugal caiu desamparadamente no buraco da crise. O seu desprezo pelos interesses nacionais e pelos seus deveres para com os cidadãos deu como resultado estarmos à rasca.
É urgente que ele elimine as
dezenas de institutos públicos que podem ser extintos, em vez de sacar cada vez mais aos pobres cidadãos para benefício dos sugadores das energias nacionais.
Não basta sonharmos, temos que fazer tudo o que seja possível para acabar com estes dislates de governantes esquizofrénicos, que vivem para as suas fantasias sem o mínimo respeito pelas realidades.
Abraço
João
Do Miradouro
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