sexta-feira, 30 de julho de 2010

Saúde à balda

Devendo ser a Saúde, a par da Justiça, da Educação, da Segurança pública e da Administração, um dos pilares da governação de um povo, talvez o principal, é de lamentar que haja tantas razões de queixas.

Quase diariamente se encontram motivos para reflectir angustiadamente sobre o pouco cuidado que ela tem merecido das mais altas esferas. Hoje encontramos no PÚBLICO a notícia «Secretário de Estado da Saúde garante operacionalidade dos meios do INEM».

Título falacioso pois faz muito mau uso do verbo garantir. Garante ou garantirá???. Se o Secretário de Estado pode garantir, porque é que não tem garantido? Pelo que se sabe das notícias que nos chegam frequentemente, tem havido pouca operacionalidade e têm sido reportadas mortes por atraso na chegada das ambulâncias. Também o pessoal de enfermagem está a queixar-se, descontente com as condições da prestação de socorro. Quem tem convivido com tão pouca eficiência do serviço não está em condições de garantir, com credibilidade, melhor operacionalidade. É certo que ele náo diz se será melhor ou pior, apenas fala de operacionalidade, sem adjectivo!!!

Por outro lado, o Jornal de Notícias traz a promessa (ou ameaça) de que «Saúde vai buscar mais médicos ao estrangeiro». Este á mais um aspecto da balda em que tem andado o cuidado com os doentes. É o resultado de o Governo da época ter feito a vontade à Ordem dos Médicos e ter restringido a entrada de estudantes para medicina, com o «numerus clausus».

Muitos indivíduos deixaram de seguir a carreira de que mais gostavam para que os médicos já instalados não tivessem muitos concorrentes. Houve nítido desprezo pelos interesses nacionais e falta de sentido de Estado a favor de uma profissão que renegou os elevados ideais que lhe eram atribuídos. Cada um puxa a brasa à sua sardinha num clima de salve-se quem puder. Mas se tal comportamento é condenável em época de crise, menos tolerável é em período normal como aquele em que tal sistema foi instituído e do qual agora estamos a sofrer as consequências.

Governar não significa vogar ao sabor da corrente. Não se traduz em fazer jeitos a amigos coniventes e cúmplices, é olhar para todos os cidadãos com a mesma atenção.

Imagem da Net.

5 comentários:

Luis disse...

Caríssimo João,
Venho a correr mas não podia deixar de comentar este assunto tão importante para todos nós e que tão maltratado tem sido. Como de costume a "mentira" vem ao de cima. Disseram que estava garantido o pagamento dos salários ao pessoal do INEM que foi logo desmentido e calou a boca a quem pretendia enganar uma vez mais o "povinho"!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Mentiras, promessas não cumpridas, palavras douradas mas ocas, é o alimento diário.
Mas há erros que se arrastam por décadas como o «nunerus clausus» que, para beneficiar os médicos instalados, dificultou o aparecimento de novos médicos. Os velhos morreram pela lei da vida, e o país ficou com falta tendo de recorrer a estrangeiros. E ninguém comete um atentado contra o ministro que autorizou isso e o chefe de governo dessa data!
Pais de brandos costumes. O português discorda da frase de Descartes e diz «Não penso mas existo». E quem pensar fica mal visto pelos governantes e pelas secretas...

Um abraço
João

José Lopes disse...

A saúde virou um negócio apetecível e os privados têm o lucro garantido, e nós pagamos mais para ter-mos cada vez menos garantias de socorro atempado. Talvez seja bom reflectir-se sobre o aumento dos gastos na saúde quando os hospitais públicos têm cada vez menos pessoal e ganhando mesmo assim menos no que no sector privado.
Cumps

Táxi Pluvioso disse...

Bom... a saúde e educação têm de ser privatizadas, e os tribunais e esquadras de polícia, se o fossem também, dariam outros resultados, os portugueses só trabalham com o capataz em cima.

Lembro-me de como na Baixa de Lisboa, naqueles cafés e esplanadas, era muito difícil ser-se servido, pois a filosofia era: o dono e os empregados estavam a fazer um favor ao cliente e não o cliente é que está a pagar os lucros do dono e ordenado do empregado; mas víamos as mesmas pessoas a trabalharem na Suiça e até voavam entre as mesas para servirem os clientes. O que mudou? o capataz que estava em cima deles (não era só ganharem mais). Ou trabalhavam rápido ou iam para a rua e havia alguém a vigiá-los. bfds

A. João Soares disse...

Caros Guardião e Táxi Pluvioso,

Ambos tocam no caso da privatização e realmente seria a sujeição à lei da concorrência em que o cliente, pela escolha do melhor serviço em qualidade e preço, pode ocasionar o enriquecimento do melhor e o encerramento do pior.
O capataz sendo avaliado em continuidade é uma ferramenta imprescindível. É vulgar ver na rua equipas de serviços municipais ou públicos, em que um faz gestos de quem trabalha enquanto os outros falam de futebol ou coisa parecida. No entanto um deles é chefe da equipa e está em cumplicidade com os seus subordinados.

Bim fim de semana
Um abraço
João
Do Mirante