Tal como a minha e-amiga e colega de blog Fernanda Ferreira, também gosto imenso do silêncio da vida no campo, dos momentos em que me entrego a mim próprio e aos contactos pela internet com o mundo e os amigos. Aqui os vizinhos dizem que passo o tempo a ouvir crescer a alfazema, o que me parece que querem dizer que estou «apanhado do clima» ou orate ou «passado dos pirolitos». Compreendo as suas ilações de camponeses alentejanos, mas tenho consciência de que não estão dentro da verdade, pois não desperdiço o tempo e estou fazendo trabalho útil, com método e com muito respeito pelo ambiente, pelos recursos naturais e pelos meus passatempos favoritos. Esta manhã, como de costume acordei com o bezouro electrónico accionado pela célula fotoeléctrica sensível para o clarear da aurora. A seguir, veio espontaneamente o Hino da alegria que tinha programado ontem à noite. Gosto de acordar em pleno com uma música agradável e enérgica e esta é uma das preferidas. Da janela vi a primeira luz do dia, com o lado nascente iluminado a prenunciar o aparecimento da parte superior da esfera solar. Belas cores, fenómeno maravilhoso, por cima do terreno ondulado, não demorou a aparecer o astro-rei, a nascer da terra aos poucos. Beleza que os citadinos raramente vêm ou nem sequer imaginam. O verde do campo, sob o efeito de tal luz passou de escuro a roxo até aparecer na sua verdadeira cor. Lindo. A Natureza é um manancial de beleza, indescritível. Esclareço que a célula está integrada no sistema de equipamento que vai das células fotovoltáicas que transformam a luz da atmosfera em electricidade produzindo o suficiente para o consumo do monte e para vender á EDP que a tem pago com muita regularidade. Tomei o duche habitual com a água a boa temperatura, dado o bom funcionamento do colector solar e tomei uma boa caneca de chá verde com pão integral barrado com uma pasta de mel com canela, como bem aconselha a amiga Fernanda no post Os benefícios do mel, para evitar a manteiga que sendo um produto lácteo tem os inconvenientes que a mesma bloguista refere no post Efeitos do leite. Vamos sempre aprendendo e melhorando as nossas rotinas!
Depois de me vestir sumariamente porque a temperatura estava agradável, fui dar o passeio matinal pela floricultura, que espera a vinda do florista cliente para amanhã levar o carro cheio de flores e plantas da época. Verifiquei se a rega por aspersão programada para as flores e plantas tinha funcionado bem assim como a do campo de alfazema que espera ser cegado dentro de duas semanas para ser enviado para o laboratório de perfumes na Alemanha. O meu amigo engenheiro agrónomo Abílio, aconselha que a rega seja feita de manhã cedo antes de as plantas aquecerem com o sol a fim de não serem lesadas pelo choque térmico. Diz que a maior parte dos males destes seres vivos provém de regas desordenadas. Os vegetais tal como os animais gostam de ordem e hábitos de horário.
O aroma a esta hora não é muito vivo, mas à hora mais quente do dia é muito forte, agradável, mas chega a ser um pouco enjoativo, nesta época do ano e que está na sua maior pujança.
Depois desta agradável e útil digressão pelo campo sentei-me na varanda em frente ao PC, liguei e comecei por ver os e-mails. Como é domingo não havia muitos e a maior parte eram envios de anexos, muitos deles já velhos conhecidos e reiteradamente chegados de outras origens. Nos blogs, o número de visitantes nas 24 horas foi diminuto como acontece aos fins de semana e feriados, parecendo que as pessoas se entretêm mais com a Internet, quando estão no serviço!
Dos e-mails sobressai um texto assinado por um advogado que relata a pior anedota que podia ter ocorrido na nossa Justiça, em que o compadrio, o cooperativismo e o espírito de capelinha entre magistrados sobressai com demasiada nitidez e que originou o meu post Um precedente que poder ser útil.
A seguir, dei uma volta pela imprensa online, fiquei agradavelmente sensibilizado com um artigo muito animador sobre alunos com vocação para a excelência e não resisti à tentação de o transcrever no post Jovens que recuperarão Portugal, porque é um tema que me tem merecido especial atenção visto residir nos jovens o capital de esperança num Portugal melhor.
Uma notícia muito positiva que merece realce e que leva a empresa Irmãos Luzias, em Beja, a ser apresentada como exemplo por, apesar da crise, ter entrado em 2009 contratando mais três trabalhadores para as suas oficinas, que se juntam aos outros 21 e aos seis membros da família que laboram na firma. Isto acontece quando a maior parte dos empresários, para evitarem prejuízos, penalizam os trabalhadores e respectivas famílias com o despedimento. Não pude deixar de registar este caso no post Empresário que respeita os trabalhadores.
Porém, neste Mundo de seres humanos sujeitos a errar e a deixarem-se vencer pela aparente facilidade do que tem menos valor cívico, como a ambição, a vaidade, o apego ao poder, as notícias más aparecem, infelizmente, em quantidade incrível e lá encontrei as do Sri Lanka e da Colômbia. Como muito tenho batido na tecla de que a paz no mundo seria possível se os governantes e os líderes rebeldes, em vez de acção armada e violenta, usassem as conversações, a negociação e o culto de valores cívicos, como o respeito pelos direitos humanos, a justiça social, a equidade, fiz um pequeno post - A Paz no Mundo será possível? - sobre o tema, deixando links para os interessados poderem ver com atenção o que se passa neste mundo abandalhado por ambiciosos sem escrúpulos que colocam em perigo a vida de inocentes, crianças e idosos.
No DN deparei com um artigo de Ferreira Fernandes que aponta o dedo ao chamar a atenção para a forma como três ocorrências foram tratadas mostrando que o jornalismo pode servir de instrumento a objectivos pouco claros, sem o comum dos leitores disso se aperceber. Quando enfatiza um ou outro assunto, deixando de lado outros aparentemente mais relevantes para a vida do País, dos portugueses, está a servir qualquer intenção não confessada. O realce de uma notícia, uma alusão, uma citação, uma interrogação, uma suspeita, pode ser uma arma mortífera, ou pelo menos muito agressiva, embora, na aparência, pareça inocente. Isto levou-me a transcrever o artigo no post O jornalismo age como instrumento.
Procuro não abusar da transcrição de textos alheios para o blog, mas, muitas vezes, essa é a melhor solução, não deixando, sempre que possível, de identificar o autor e a origem e de fazer uma introdução e/ou uma nota a esclarecer o que me leva a transcrever.
E assim se foi passando o dia em comunicação virtual com os amigos e com o mundo através da Internet, com intervalos para fazer exercício físico neste ambiente paradisíaco em contacto com as minhas plantas que retribuem, com a sua companhia, aroma e cores, o meu afecto de as visitar e tratar com desvelo. Entre nós há um silêncio muito eloquente que diz muito e me inspira no que escrevo e faço, e na forma como encaro o que se passa na superfície do globo e, principalmente, neste rectângulo que alguém apelidou de jardim à beira-mar plantado.
E para encerrar este dia, parecido com muitos outros, o Sol cumpriu o seu ocaso, com a beleza habitual mas que, como estive todo o dia imbuído de romantismo, fui premiado por um refinamento de cores muito especial com umas ténues nuvens que refractaram os raios solares, mesmo depois de o astro ter descido abaixo da linha do horizonte, com uma invulgar riqueza de tonalidades. Maravilhoso, impossível de relatar por uma pessoa tão pouco dotada como eu.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Um dia como os outros
Publicada por A. João Soares à(s) 08:52
Etiquetas: Um dia com a Natureza
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6 comentários:
Amigo e Caríssimo colega João,
Esse fim-de-semana deve ter sido maravilhoso a avaliar por este post magnífico.
Obrigada por se ter lembrado de mim, fico comovida...
Beijinhos
Fernanda Ferreira
Minha cara Amiga Ná,
Não foi um fim de semana. Foi apenas «um dia como os outros». E foi muito trabalhoso, pois, além dos meus afazeres de agricultor, tive que ler uma quantidade de periódicos para obter o material que permitiu publicar os cinco posts que refiro neste «diário» e pode encontrar neste espaço.
Se foi diferente, foi porque decidi fazer este relato, estimulado pela vontade de fazer publicidade aos seus dois posts sobre o leite e o mel. Há quem faça propaganda ao Magalhães, mas eu fico-me pelo voluntariado gratuito, apenas por amizade!
Um abraço
João
Caro Joâo,
Nem todos podem ter dias destes... dias trabalhosos mas tranquilos. Ainda bem que o tiveste para poderes saborear o bom da Natureza!
Como sabes nestes últimos dias por cá ando numa lufa-lufa desgastante sem tempo para me dedicar ao que mais gosto. Mas dias virão que me irão permitir voltar ao convivio com os meus amigos com mais calma!
Caro Luís,
Foi um dia como os outros! Faço a minha higiene mental todos os dias. Olhando calmamente a Natureza das coisas e das pessoas, procurando compreender o que as faz correr e enriquecendo, com isso o meu saber de psicologia, de sociologia e de outros ramos. Sabes que tive oportunidade para ser estimulado por compreender de tudo, um generalista que «sabe nada de tudo!», ao contrário do especialista que «sabe tudo de nada».
Abraço
João
Amigo João,
Uma coisa será a resposta ao seu e:mail e outra é o meu comentário a este seu texto.
Entrar neste seu texto é como deliciarmo-nos a percorrer uma estrada cheia de árvores frondosas e flores de várias côres e aromas, ao longo da qual vamos encontrando ramais menos atraentes, por serem, alguns deles, chocantes, mas que não resistimos à tentação de pesquisar. Por vezes, quase nos perdemos no final desses ramais, sem sabermos qual é o caminho de regresso à estrada principal.
Uma descrição deliciosa de um dia, dum fim-de-semana qualquer, muito a seu modo, ao que parece.
Desejo-lhe, muito sinceramente, muitos dias como este que descreveu, para seu eniquecimento, o qual nos vai passando em cada folha que escreve.
Um abraço amigo.
Maria Letra
Minha cara amiga Mizita,
Pelo título, vê-se que não é um fim-de-semana, mas «um dia como os outros« apenas com a diferença de ter acordado com vontade de comunicar aos leitores a paz campestre, o sossego, sem stress, sem as tentações do consumismo, etc. das áreas urbanas, que aqui vivo com o aroma da alfazema e a lenta passagem do tempo ouvindo o suave crescer das plantas !
Esse som mavioso que só a vontade dele se apercebe, apenas é cortado pela melodia do chilreio das aves, também elas felizes e sem preocupações existenciais.
Como é fácil imaginar a felicidade!!!
Beijos
João
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