Transcrição deste artigo que recebi por e-mail, e a que juntei uma nota final. Agradeço à amiga Mariazita ter-mo enviado
Um naco de prosa
por António Barreto - Público
PARECE QUE A EDUCAÇÃO está em reforma. Sempre esteve, aliás.
Vinte e tal ministros da educação e quase cem secretários de Estado, em pouco mais de trinta anos, estão aí para mostrar o enorme esforço despendido no sector.
Uma muito elevada percentagem do produto nacional é entregue ao departamento governamental responsável.
Este incansável ministério zela por nós, está atento aos menores sinais de mudança ou de necessidade, corrige infatigavelmente as regras e as normas.
Por estes dias, mão amiga fez-me chegar o último exemplo do esforço reformador que anima os nossos dirigentes.
Com a devida vénia ao signatário, o secretário de Estado Valter Lemos, transcrevo o seu despacho normativo, cuja leitura em voz alta recomendo vivamente:
O Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação n.º 44/2004, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 24/2006, de 6 de Fevereiro, rectificado pela Declaração de Rectificação nº 23/2006, de 7 de Abril, e pelo Decreto-Lei n.º 272/2007, de 26 de Julho, assenta num princípio estruturante que se traduz na flexibilidade de escolha do percurso formativo do aluno e que se consubstancia na possibilidade de organizar de forma diversificada o percurso individual de formação em cada curso e na possibilidade de o aluno reorientar o próprio trajecto formativo entre os diferentes cursos de nível secundário.
Assim, o Despacho n.º 14387/2004 (2.ª Série), de 20 de Julho, veio estabelecer um conjunto de orientações sobre o processo de reorientação do percurso escolar do aluno, visando a mudança de curso entre os cursos criados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, mediante recurso ao regime de permeabilidade ou ao regime de equivalência entre as disciplinas que integram os planos de estudos do curso de origem e as do curso de destino, prevendo que a atribuição de equivalências seria, posteriormente, objecto de regulamentação de acordo com tabela a aprovar por despacho ministerial.
Neste sentido, o Despacho n.º 22796/2005 (2.ª Série), de 4 de Novembro, veio concretizar a atribuição de equivalências entre disciplinas dos cursos científico-humanísticos, tecnológicos e artísticos especializados no domínio das artes visuais e dos audiovisuais, do ensino secundário em regime diurno, através da tabela constante do anexo a esse diploma, não tendo, no entanto, abrangido os restantes cursos criados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março.
A existência de constrangimentos na operacionalização do regime de permeabilidade estabelecido pelo Despacho n.º 14387/2004 (2.ª Série), de 20 de Julho, bem como os ajustamentos de natureza curricular efectuados nos cursos científico-humanísticos criados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, implicaram a necessidade de se proceder ao reajuste do processo de reorientação do percurso escolar do aluno no âmbito dos cursos criados ao abrigo do mencionado Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março.
Desta forma, o presente diploma regulamenta o processo de reorientação do percurso formativo dos alunos entre os cursos científico-humanísticos, tecnológicos, artísticos especializados no domínio das artes visuais e dos audiovisuais, incluindo os do ensino recorrente, profissionais e ainda os cursos de educação e formação, quer os cursos conferentes de uma certificação de nível secundário de educação quer os que actualmente constituem uma via de acesso aos primeiros, criados ao abrigo do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação n.º 44/2004, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 24/2006, de 6 de Fevereiro, rectificado pela Declaração de Rectificação n.º 23/2006, de 7 de Abril, e pelo Decreto-Lei n.º 272/2007, de 26 de Julho, e regulamentados, respectivamente, pelas Portarias n.º 550-D/2004, de 22 de Maio, alterada pela Portaria n.º 259/2006, de 14 de Março, n.º 550-A/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 260/2006, de 14 de Março, n.º 550-B/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 780/2006, de 9 de Agosto, n.º 550-E/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 781/2006, de 9 de Agosto, n.º 550-C/2004, de 21 de Maio, com as alterações introduzidas pela Portaria n.º 797/2006, de 10 de Agosto, e pelo Despacho Conjunto n.º 453/2004, de 27 de Julho, rectificado pela Rectificação n.º 1673/2004, de 7 de Setembro.
Assim, nos termos da alínea c) do artigo 4.º e do artigo 9.º do Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, rectificado pela Declaração de Rectificação n.º 44/2004, de 25 de Maio, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 24/2006, de 6 de Fevereiro, rectificado pela Declaração de Rectificação nº 23/2006, de 7 de Abril, e pelo Decreto-Lei n.º 272/2007, de 26 de Julho, determino:
……
O que se segue é indiferente. São onze páginas do mesmo teor. Uma linguagem obscura e burocrática, ao serviço da megalomania centralizadora.
Uma obsessão normativa e regulamentadora, na origem de um afã legislativo doentio. Notem-se as correcções, alterações e rectificações sucessivas.
Medite-se na forma mental, na ideologia e no pensamento que inspiram este despacho. Será fácil compreender as razões pelas quais chegámos onde chegámos. E também por que, assim, nunca sairemos de onde estamos.
NOTA: As dezenas de governantes que passaram pelo ministério, cada um sempre ansioso por anular as decisões anteriores e fazer coisa diferente, fazem compreender o estado a que o ensino chegou. Com altas entidades a serem incapazes de ter ideias e, em caso afirmativo, de as exprimir em português compreensível, nem é preciso ir aos concursos da TV procurar provas da ignorância generalizada.
Caro leitor responda com sinceridade: gostou do texto do senhor secretário de Estado? tirou dele com facilidade conclusões positivas? Para ser sincero, eu não. Mas não esperava melhor!
Mensagem de fim de semana
Há 12 minutos
6 comentários:
ehheeh Mas é que tem mesmo mais piada quando nos damos ao trabalho de ler o que os decretos regulamentados, depois rectificados e alterados, finalmente deixam de ser decretados e são Portarias por sua vez regulamentadas, rectificadas e alteradas..afinal ainda vêm as circulares que com base nos decretos regulamentados, rectificados e alterados, acompanhados passado pouco tempo por "avisos de última hora" ou "esclarecimentos"....!
Sem falar no aumento da graduação das lentes e nas paredes coladas com papéis para que alguém consiga uma "pequenininha" resposta.... é assim mesmo que faz quem quer reinar dividindo e confundindo...ou fazendo o que quer? É que muitos saem em alturas de férias quando já tudo anda cansado de tentar entender. Estratégia????
A verdade é são poucos os corajosos e candidatos ao recolhimento para leitura (leia-se decifração) de tais escritos ditados por gente ..confusa? gente que não sabe bem onde quer chegar?? gente que sabe que quer alguma coisa mas não sabe bem como lá chegar? ... É só uma hipótese...
Manuela
já agora, apenas como provocação e porque referiu os concursos de Tv, lembrei-me daquele: "Não sei mais do que um miúdo de 10 anos! " ehehhe
Manuela
Cara Amiga Manuela,
Escrever ou falar tem de ser interpretado como transmitir ideias a outros de forma a que eles as compreendam com perfeição. Clarinho, clarinho, para os outros compreenderem!
Para isso, é preciso primeiro formular a ideia com racionalidade, partindo dos dados para a solução, estruturando as frases em bom português, e da forma mais simples.
Recordo que um dia o PR Sampaio fez um discurso que deu muita polémica dos jornais do dia seguinte, havendo interpretações totalmente opostas, ao ponto de ele sentir a necessidade de dar uma explicação, mas também essa era demasiado «erudita», não retirando todas as dúvidas. A linguagem enfatuada para «fazer figura» de intelectual dificulta a clareza e a posterior interpretação por parte do destinatário.
Estranhamente até no ministério da Educação se tem notado essa preocupação de cultivar a confusão, em vez de simplificar. Não devemos esquecer a loucura de querer impor nas escolas a TLEBS, em que um professor das Caldas da Rainha me chamou ignorante por ter mostrado a minha estranheza com tal confusão.
Agora este secretário de Estado também é chocante com o estilo de redacção que utiliza, além do labirinto de alterações sucessivas para tornar cada vez mais inútil a legislação estonteante.
Beijos
João
:) João, vou continuar a brincar porque neste caso nem me apetece falar a sério...
O meu 1º comentário , nem eu o quase o entendi..significará que estou no "caminho certo"? ehheheh
Os advogados existem para isto: interpretar! Venham eles!
beijo de bom fim de semana
Manuela
Cara Manuela,
A palavra «brincar» parece que traz o melhor conselho para as pessoas que hoje se debatem com os efeitos da crise. Apetece aconselhar a brincar, para morrermos de fome mas contentes. É uma anestesia. O mundo está louco, e vemos isso quando olhamos para a forma como agem aqueles em quem depositávamos confiança (alguma) para levarem o País a bom porto.
Não é saudável para o nosso equilíbrio psíquico levarmos a sério o que vemos. Recordo o meu post de 21 de Junho «Preocupados com as notícias do Mundo». Mas por outro lado o futuro depende de todos e de cada um de nós, tendo que raciocinar sobre o que se passa, meditar no silêncio interior e prepararmo-nos para agir logo que oportuno.
O Poder usa a fumaça como arma de defesa como se lhe refere o post de 26/Jun «Ensino da Ignorância», pois quanto mais confuso estiver o povo, menos crítico é, e engole toda a palha que lhe for colocada à frente.
Não há seriedade na política e, cada vez mais, se conclui que é preciso votar em branco, porque ou o regime muda ou continua tudo na mesma, isto é, a piorar continuamente.
Uma mudança essencial seria acabar com nomeações por compadrio, por «confiança politica» e passar a fazer as admissões aos cargos públicos por concurso público, pelo critério da competência, pelo culto da excelência. Dessa forma, haveria menos parasitas a calcarem as alcatifas dos gabinetes e o trabalho resultante seria perfeito.
A partir dessa medida, tudo passaria a correr melhor e com menos custos para os contribuintes.
Os partidos no poder são meras agências de emprego, para socorrerem os mais incompetentes sem qualidade para competir na actividade privada, e que por conluio com os amigos ficam com emprego vitalício em «tachos dourados» e conquistando as «reformas douradas».
Recebi ontem um longo artigo sobre o Banco de Portugal que termina com a comparação entre o Presidente desse albergue e o Dr. Bernanke seu homónimo americano, em termos de currículo, de preparação escolar e de vencimento. Este, quer comparado em euros, ou em função da sua relação com o salário médio nacional, é um grosso escândalo para Portugal. Pergunta-se qual o critério de tal político ter ali sido colocado parece que vitaliciamente?
Os portugueses precisam de meditar silenciosamente naquilo para que estão a ser forçados a contribuir com os seus impostos, e depois de chegarem a conclusões, conversarem com os seus «vizinhos» e prepararem as suas atiradeiras, azagaias e dardos, porque irão ser necessárias correr com os «vendilhões do templo», logo que chegue a hora.
Um abraço
João
Esse artigo que refere já o conheço há algum tempo e ...contra isso só mesmo considerarmos que andam a brincar connosco!
Brinquemos para não ficarmos loucos como parece quererem pôr-nos mas...sempre alerta!!! Embora essa atitude traga desgaste, nunca poderá trazer "surpresa". Assim sabemos com o que contar e estamos armados com as armas do saber e defendidos dos que vêm a seguir...
Beijinho
manuela
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