João Miranda, no seu artigo de opinião, no DN, Medidinhas, explica a táctica oscilante de pequenas medidas para minorar os efeitos da crise nos grupos mais vulneráveis da sociedade: os pobres, as crianças, os idosos, os jovens, as grávidas, etc
E termina dizendo que: «As medidinhas segmentam a sociedade em pequenas castas. Contribuem para a erosão da igualdade perante a lei. Criam excepções e privilégios que dependem da idade, do rendimento, do sexo, da capacidade de procriação e do estado civil. Criam um ambiente de apartheid social. Os pequenos privilégios são fáceis de criar, mas difíceis de reverter. Ao fim de vários anos acumulam-se medidinhas. Acumulam-se custos, privilégios, legislação e burocracia. Quando toma uma medidinha, o Governo está apenas preocupado com os interesses de um segmento do eleitorado. Uma vez satisfeito esse segmento, o Governo pode dedicar-se a satisfazer o segmento seguinte. Num dia subsidia o transporte rodoviário para contentar os camionistas, no outro penaliza o transporte rodoviário para contentar os ecologistas. As medidinhas acumuladas formam um corpo legislativo incoerente, o que acaba por criar uma nova oportunidade política. Estamos mesmo a precisar de um Simplex que organize num corpo coerente e simplificado todas as medidinhas que este Governo e os anteriores andaram a tomar.»
Mesmo com estas medidinhas, o problema não fica resolvido e, como diz Rudolfo Rebêlo no mesmo jornal, até a classe média se queixa que já sobra mês, os portugueses estão entre os mais pessimistas da União Europeia a 27 e a maioria considera que perdeu poder de compra nos últimos cinco anos e teme pelo futuro.
Gerir uma grande empresa e, com maior razão, governar um Estado, mesmo que pequeno em dimensão geográfica e demográfica, não se compadece com medidas pontuais, oscilantes em zigue-zague, descoordenadas, sem interacção bem estudada e planeada por forma a criar sinergias, sem objectivos bem definidos que orientem todas as decisões.
Para tomar decisões eficazes tendentes à resolução de problemas críticos e preparar um País moderno e desenvolvido, é preciso começar por identificar com rigor e isenção a situação actual, o ponto de partida, passando pelas actividades das regiões (urbanas e rurais), a população (quantidade, grau de escolaridade, aptidões profissionais prevalecentes, gostos culturais, etc.), valor dos rendimentos, outros recursos disponíveis. E, depois, com um adequado grau de ambição, realista e viável, estabelecer objectivos dentro de uma previsão de evolução bem planeada, seguido de decisão, estabelecer um plano estratégico de longo prazo (o mais possível conforme o objectivo) e acção calendarizada, coordenada e controlada, não perdendo de vista a finalidade, o objectivo pretendido previamente definido.
A táctica incipiente de medidinhas resulta, além dos inconvenientes apontados por João Miranda, numa má utilização dos recursos existentes, com desperdícios, em sobreposições, má rentabilidade, sem tapar todos os buracos que merecem atenção. Pode acabar num «pára e arranca» com recuos que constituem prova de incompetência e de peculato que, segundo o dicionário, significa desvio ou má administração de dinheiros públicos ou rendimentos por pessoa encarregada de os guardar ou administrar.
Desperdiçar recursos públicos é sempre falta muito grave e é ainda mais quando se trata de País pobre, com carências de toda a ordem.
Sobre este tema já aqui foram publicados textos de que são exemplo os seguintes títulos (links):
Incapacidade de planear e racionalizar
Partidos. Líderes e estratégia de governo
Governo sem bússola nem leme?
M. - O PR
Há 1 hora
2 comentários:
Como dizia Américo Amorim no inicio do ano: "Este ano vamos ter mais banca e menos economia, mais gestão e menos execução, mais estado e menos serviço público, mais recursos e maior desperdício."
O que é isto? Falta de planeamento. Governa-se evitando-se os buracos, ao invés de serem tapados.
AP,
Sempre tive admiração pelas qualidades que levaram certos homens ao sucesso. Não lhes invejo a fortuna, apenas admiro as qualidades e os exemplos que dão. Não conhecia essa frase de Américo Amorim, mas não me surpreende.
Como diz, falta aos nossos governantes capacidade de planeamento o que significa definição de objectivos, estudo da situação de que se parte e escolha dos melhores caminhos (modalidades de acção, alternativas, hipóteses de solução) que conduzam ao objectivo. Isso implica conhecimento dos factores, para prever as possíveis dificuldades que possam surgir na acção a empreender. Para fazer face a essas dificuldades, há que acompanhar a acção com um controlo rigoroso, a fim de inserir ajustamentos oportunos, para evitar desperdícios e outras perdas, mesmo de tempo.
Mas os nossos políticos nada sabem de gestão (nem de muitas outras coisas que lhes seriam convenientes) e, por isso, andam a fazer brincadeiras com os recursos do País.
Um abraço
A. João Soares
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