É suposto que, em democracia representativa, o povo soberano tenha de delegar em pessoas que ache idóneas para, em seu nome, tratarem dos assuntos nacionais para benefício dos cidadãos. E como não é natural que todos pensem da mesma maneira, acabam por surgir grupos ou partidos políticos, como delegados e polos de atracção dos votos do povo soberano.
Mas não parece ser conveniente que os militantes dos partidos levem muito a peito a designação «partido» porque, para ser eficiente, será preferível que esteja inteiro, como uma equipa coesa, unida e com espírito de missão. Não deve ser um corpo triturado como um monte de areia, mas sim como um bloco em que a areia esteja aglomerada por um cimento adequado a que pode chamar-se espírito de equipa, disciplina ou amor ao objectivo estratégico que convirja para o desenvolvimento de Portugal e a felicidade e bem estar das pessoas, principalmente as mais carentes de recursos.
Ora, ao contrário destas reflexões, os principais partidos parecem apostados em se transformarem no monte de areia sem cimento, o que cria más perspectivas para o País, ultimamente fadado ao desaire.
O PSD, até agora o maior partido da oposição, teima em não se aglutinar em torno de uma directriz respeitada pelos principais militantes. Quando se pensa que eles agora vão ganhar juízo, logo surge a desilusão. Ao derrubarem Santana elegeram o Mendes, mas, em vez de o apoiarem convictamente, depressa começaram a campanha para o derrubar. Elegeram Menezes, com o apoio da maioria, mas logo os «barões», incapazes de acção, mas que se consideram donos do «partido», começaram a cortar-lhe as pernas e, o mais grave, quando as eleições legislativas estavam a curta distância. Manobraram à vontade e das eleições internas saiu vencedora Ferreira Leite, uma escolha que por ser democrática devia ser respeitada. Mas os donos dos cordelinhos, não podem estar quietos sem brincar com eles e estão já a começar a puxá-los novamente. Para quê? O que pretendem para o Partido e para o País? Que resultado desejam obter nas próximas eleições legislativas? Ao menos lutem para não ficarem abaixo do terceiro lugar!!!
O CDS, por seu lado, parece não querer ficar atrás na corrida para a desorganização total, para a pulverização em areia fina, sem cheiro de cimento, sem coesão, nem disciplina. E também não é de agora, pois a luta pelos poleiros vem de longe. Agora, há a notícia da desfiliação de 31 militantes da juventude do partido, de Setúbal, por discordarem do líder.
Mas esta falta de coesão e espírito de equipa não se passa apenas nos partidos da oposição que já estiveram no Governo, pois o PS, embora no Governo, está também a mostrar desagregação muito visível, desde as atitudes independentes de Manuel Alegre, aos atritos com João Cravinho sobre a corrupção e o enriquecimento legítimo e, hoje a notícia de que militantes de Viseu (distrito em que o PS deve enfrentar a supremacia do PSD) atacam o líder do Partido, em vez de o apoiarem com vista a manter a posição das eleições anteriores. Mas fundamentam a sua posição em não concordarem que no partido haja uma claustrofobia asfixiante, onde nada se debate, em vez de haver diálogo aberto suscitando a participação dos que ocupam cargos políticos a diversos níveis, porque um partido que reduz a participação e pretende apenas um «silêncio cúmplice e de consonância com o status quo de importantes personalidades» acaba por não evoluir por não receber ideias frescas e sugestões práticas, por não alimentar a convergência de esforços.
Com este panorama, os portugueses que pensam com isenção e sem compromissos com qualquer cor politica, têm razão para viver preocupados com a vida que estamos a preparar para as gerações vindouras, que muito irão sofrer devido aos erros dos pais e avós.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Partidos, para que servem?
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2 comentários:
Viva A. João Soares,
subscrevo plenamente todo o teor da postagem. Por vezes chego a pensar se nao são os partidos os grande cancros da nossa sociedade. Falo obviamente de Portugal. Os partidos em vez de serem escolas de virtudes e de cidadania são por vezes escola de maldicencia e maldade como nos jornais nos mostram. Imagino que haverá um dia em que os partidos nao serão necessários e qualquer cidadão ou agrupação de cidadãos se poderá candidatar sem estar a ser sufragado pelas invejas e a incompetencia de dois ou tres, como acontece na maioria das vezes no interior dos partidos.Nessa altura prevejo que Portugal já terá deixado de mostrar os piores indices de desenvolvimento como nos brinda constantemente a OCDE, o FMI e a UE...
Excelente postagem a sua.
Um abraço
António Delgado
Caro António,
Obrigado pelas suas palavras. Realmente, os partidos não são flor que se cheire. Apenas interessam como agência de emprego para os familiares e amigos dos patrões dos clãs. Nada fazem pelo Estado porque passam o tempo a olhar para o próprio umbigo e a pensar nos votos da próxima ida às urnas. Internamente são um fosso de víboras. Repare no PSD que está a mudar de presidente com intervalos de poucos meses. Nem sequer mostram capacidade de escolher o melhor que lá têm! O escolhido, por ser considerado o melhor, é passado poucos dias sacaneado e abatido sem preconceitos, sem vergonha, nem censo, sem respeito pela escolha democrática interna.
Um abraço
João
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