quarta-feira, 7 de abril de 2010

Justiça rápida e eficaz

A Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) reagiu de imediato às declarações de Emídio Rangel na Comissão Parlamentar de Ética, que esta associação considera ofensivas e, por isso, vai "fazer valer os direitos que a lei lhe confere para repor a verdade e o seu bom nome, através de uma queixa-crime e indemnização cível, pedindo essas responsabilidades ao jornalista Emídio Rangel".

Afinal a lentidão da Justiça que toda a gente refere, sem meias palavras, não se deve a falta de meios ou de capacidade de reacção oportuna aos crimes que preocupam as populações quer urbanas quer rurais. Como agora se vê, quando lhes toca na pele, saltam de imediato. Parece que o seu mal é faltar motivação para assegurar a justiça à população, aos outros. E isto acontece apesar de se denominar «órgão de soberania», embora não eleito democraticamente.

Recordo-me da onda de crimes praticados pelas FP 25 em Maio de 1983 (se a memória não me atraiçoa), numa conversa com um alto responsável por uma das Forças de Segurança sobre a situação e eu ter exclamado não imaginar na forma como aquilo iria terminar. Ele respondeu que não haveria muito a fazer enquanto os autores da onda de violência não fizessem uma carícia na anca de uma familiar de um político porque, quando isso acontecesse, quando os governantes se sentissem fossem atingidos através de familiares ou amigos, reagiriam logo, de imediato.

Parecia um vaticínio de sábio pois, pouco tempo decorrido, as FP 25 assassinaram o administrador da Fábrica de Louça Sacavém, amigo do então primeiro-ministro, o que levou este a reunir-se com os responsáveis pelas Forças de Segurança e pela PJ para agirem de imediato detendo todos os suspeitos. E o dia foi marcado, mas por a PJ não ter possibilidade de nesse dia deter simultaneamente todo o elenco, houve um adiamento por mais uns dias o que irritou seriamente o PM que, pelo facto, foi muito descortês para o Director da PJ.

Agora, a Associação Sindical dos Juízes Portugueses (ASJP) seguiu o exemplo. Não posso recordar sem saudade esse meu amigo, já falecido, dotado de inteligência prática e visão clara e realista das mentalidades reinantes. E isto acontece agora só porque «Emídio Rangel acusa juízes de violarem segredo de justiça», coisa de que elementos do sistema de Justiça têm referido várias vezes através dos órgãos da Comunicação Social, embora por outras palavras.

Será de desejar que, a partir de agora, se torne bem visível a dedicação ao povo para quem todo aparelho do Estado, incluindo a Justiça, deve funcionar, a rapidez e eficácia que agora foi notória. Para Bem de Portugal.

4 comentários:

Mentiroso disse...

Provavelmente, a melhor solução seria a de que os juízes fossem eleitos pelo povo. Aparentemente não se arriscaria o mesmo marketing político que com os políticos, pois que em princípio seriam eleitos consoante a satisfação da população sobre o seu trabalho passado. Outra necessidade seria tirar-lhes os privilégios e regalias injustificados e inexistentes em países democráticos, assim como nivelar-lhes os ordenados com os das Forças Armadas, como sempre foi e é noutros países. Não se compreende por que em Portugal haja uma tão grande diferença. Talvez que estas medidas justas os ajudassem a compreender que, tal como os políticos, a sua função é a de servir a população e não de se espanejar em arrogância balofa, sobretudo quando são tão incompetentes nos seus deveres e relaxados e mandriões a ponto de serem os mais lentos da UE.
Não fazem justiça, entretêm-se como passa-tempo, e passa mesmo, por vezes mais de dez anos. Inacreditável!

A. João Soares disse...

Caro Mentiroso,

Realmente acho ridículo que os juizes se intitulem «órgão de soberania» numa democracia, sem terem sido eleitos pelo povo. Porque não dar igual título aos militares«, aos engenheiros e aos médicos, por exemplo?
O salário que, em poucos anos, duplicou em relação ao dos militares, a que estavam equiparados, deve-se à existência do sindicato que pressionou o Governo e é sabido que os governantes não conseguem deixar de se submeter a pressões. Só decidem sob pressão.
A importação de bons exemplos vindos de países civilizados. só é possível se os políticos deixarem e os sindicatos concordarem, para evitar perdas de regalias. O sistema nacional está de tal forma danificado que não é fácil deixar de continuar a marcha para o fundo do abismo. A perspectiva de perder votos em futuras eleições inibe de qualquer reforma séria.

Mas a Justiça provou agora que tem capacidade de ser rápida. Falta-lhe um código de ética!!! A própria universidade está demasiado focada no passado e na memória em vez de inovar um sistema mais eficaz e ajustado às realidades de hoje e às previsões do futuro provável.
Há muitos aspectos nacionais demasiado presos às tradições menos válidas e, quando se imita o estrangeiro, vai-se buscar soluções desajustadas ao nosso País, ou mesmo soluções que já estão colocadas de lado por impróprias.

Um abraço
João

Luis disse...

Caríssimo João,
Concordo com as tuas palavras e com os teus considerandos quanto aos "juízes e justiça" que temos! Mas quanto ao nosso "amigo Rangel" parece-me que ele se alterou muito depois que foi demitido da SIC! Hoje em dia parece-me que nos seus escritos tem algo de vingativo contrariando anteriores atitudes bem diferentes das que actualmente tem tomado! Parece pois que tem a chamada "dor"!!!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Nada tenho contra uma ou outra pessoa. Aceito que cada uma tenha virtudes e defeitos. Isso é comum a todos. Mas não tenho o mínimo receio de citar uma ideia que considere positiva, venha de onde vier, mesmo que o autor seja o velho «Frei Tomás».
Por exemplo, detesto a maior parte dos grafitis que conspurcam as paredes mas, há tempos fiz aqui um post, acerca de uma frase encontrada numa parede em Cascais: «Nós somos aquilo que ultrapassa a competência dos robots».
Há ideias fantásticas que vêm de pessoas sem valor, que devem ser meditadas.
Neste caso, o que sublinho é a reacção rápida dos juízes, aqueles que têm milhares de processos parados há anos à espera de chegar o prazo para serem arquivados, mas que num pormenor que lhes toca param tudo o resto para reagirem, pelo menos perdendo tempo com isso.

Um abraço
João