segunda-feira, 12 de abril de 2010

Banca Suíça no caminho da ética

Transcrição

"Suíça ameaça cleptocracia mundial"
"Bloqueados 100 milhões de dólares do presidente angolano.

"Há dez anos que os tribunais suíços iniciaram um longo processo para bloquear os fundos depositados nos seus bancos por ditadores e políticos corruptos de todo o mundo, cujas fortunas, por vezes colossais, foram obtidas através da espoliação de bens públicos pertencentes aos povos que governam, usando para tal os mais diversos expedientes de branqueamento de capitais.

O processo começou em 1986 com a devolução às Filipinas de 683 milhões de dólares roubados por Ferdinando Marcos, bem como a retenção dos restantes 356 milhões que constavam das suas contas bancárias naquele país. Prosseguiu depois com o bloqueamento das contas de Mobutu e Benazir Bhutto. Mais tarde, em 1995, viria a devolução de 1236 milhões de euros aos herdeiros das vítimas judias do nazismo.

Com a melhoria dos instrumentos legais de luta contra o branqueamento de capitais, conseguida em 2003 (também em nome da luta contra o terrorismo), os processos têm vindo a acelerar-se, com resultados evidentes:
- 700 milhões de dólares roubados pelo ex-ditador Sani Abacha são entregues à Nigéria em 2005;
- dos 107 milhões de dólares depositados em contas suíças pelo chefe da polícia secreta de Fujimori, Vladimiro Montesinos, 77 milhões já regressaram ao Peru e 30 milhões estão bloqueados;
- os 7,7 milhões de dólares que Mobutu depositara em bancos suíços estão a caminho do Zaire;
- mais recentemente, foram bloqueadas as contas do presidente angolano José Eduardo dos Santos, no montante de 100 milhões de dólares.

É caso para dizer que os cleptocratas deste mundo vão começar a ter que pensar duas vezes antes de espoliarem os respectivos povos. É certo que há mais paraísos fiscais no planeta, mas também é provável que o exemplo suíço contagie pelo menos a totalidade dos off-shores sediados em território da União Europeia, diminuindo assim drasticamente o espaço de manobra destas pandilhas de malfeitores governamentais.

No caso que suscitou este texto, o bloqueamento de 100 milhões de dólares depositados em contas de José Eduardo dos Santos, presidente de Angola há 27 anos, pergunta-se: que fez ele para se tornar o 10º homem mais rico do planeta (segundo a revista Forbes)?
Trabalhou em quê para reunir uma fortuna calculada em 19,6 mil milhões de dólares?
Usou-se o poder para espoliar as riquezas do povo que governa, deixando-o a viver com menos de dois dólares diários, que devem fazer os países democráticos perante tamanho crime de lesa humanidade?
Olhar para o outro lado, em nome do apetite energético?
Que autoridade terão, se o fizerem, para condenar as demais ditaduras e estados falhados?
Olhar para o outro lado, neste caso, não significa colaborar objectivamente com a sobre-exploração indigna do povo angolano e a manutenção de um status quo antidemocrático e corrupto que apenas serve para submeter a esmagadora maioria dos angolanos a uma espécie de domínio tribal não declarado?

Na Wikipedia lê-se:

"Os habitantes de Angola são, em sua maioria, negros (90%), que vivem ao lado de 10% de brancos e mestiços. A maior parte da população negra é de origem banta, destacando-se os quimbundos, os bakongos e os chokwe-lundas, porém o grupo mais importante é o dos ovimbundos. No Sudoeste existem diversas tribos de boximanes e hotentotes. A densidade demográfica é baixa (8 habitantes por quilometro quadrado) e o índice de urbanização não vai além de 12%. Os principais centros urbanos, além da capital, são Huambo (antiga Nova Lisboa), Lobito, Benguela, e Lubango (antiga Sá da Bandeira). Angola possui a maior taxa de fecundidade (número de filhos por mulher) e de mortalidade infantil do mundo. Apesar da riqueza do país, a sua população vive em condições de extrema pobreza, com menos de 2 dólares americanos por dia."

O recente entusiasmo que acometeu as autoridades governamentais e os poderes fáticos portugueses relativamente ao "milagre angolano" (crescimento na ordem dos 21% ao ano) merece assim maior reflexão e, sobretudo, alguma ética de pensamento.

Os fundos comunitários europeus aproximam-se do fim. Os portugueses, entretanto, não foram capazes de preparar o país para o futuro difícil que se aproxima. São muito pouco competitivos no contexto europeu. As suas elites políticas, empresariais e científicas são demasiadamente fracas e dependentes do estado clientelar que as alimenta e cuja irracionalidade por sua vez perpetuam irresponsavelmente, para delas se poder esperar qualquer reviravolta estratégica. Quem sabe fazer alguma coisa e não pertence ao bloco endogâmico do poder vai saindo do país para o resto de uma Europa que se alarga, suprindo necessidades crescentes de profissionais nos países mais desenvolvidos (que por sua vez começam a limitar drasticamente as imigrações ideologicamente problemáticas): Espanha, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Reino Unido, Holanda, Dinamarca, Noruega... No país chamado Portugal vão assim ficando os velhos, os incompetentes e preguiçosos, os indecisos, os mais fracos, os ricos, os funcionários e uma massa amorfa de infelizes agarrados ao futebol e às telenovelas, que mal imaginam a má sorte que os espera à medida que o petróleo for subindo dos 60 para 100 dólares por barril, e destes para os 150, 200 e por aí a fora...

A recente subida em flecha do petróleo e do gás natural (mas também do ouro, dos diamantes e do ferro) trouxe muitíssimo dinheiro à antiga colónia portuguesa. Seria interessante saber que efeitos esta subida teve na conta bancária do Sr. José Eduardo dos Santos. E que efeitos teve, por outro lado, nas estratégias de desenvolvimento do país. O aumento da actividade de construção já se sente no deprimido sector de obras e engenharia português. As empresas, os engenheiros e os arquitectos voam como aves sedentas de Lisboa para Luanda. É natural que o governo português, desesperado com a dívida... E com a sombra cada vez mais pesada dos espanhóis pairando sobre os seus sectores econômicos estratégicos, se agarre a qualquer aparente tábua de salvação. E os princípios? E a legalidade?

Se a saída do ditador angolano estiver para breve, ainda se poderá dizer que a estratégia portuguesa é, no fundo, uma estratégia para além de José Eduardo dos Santos. Mas se não for assim e, pelo contrário, viermos a descobrir uma teia de relações perigosas ligando a fortuna ilegítima de José Eduardo dos Santos a interesses e instituições sediados em Lisboa, onde fica a coerência de Portugal?

Micheline Calmy-Rey, ministra suíça dos Negócios Estrangeiros, veio lembrar a todos os europeus que tanto é ladrão o que rouba como o que fica à espreita ou cobra comissões das operações criminosas."

Recebido por e-mail do amigo FR

9 comentários:

Luis disse...

Caro João,
Felizmente começa a sentir-se a moralização dos costumes!!! Espero que esta onda seja avassaladora para acabar com a corrupção!
O Mundo ficaria bem melhor!
Um abraço amigo que ficou muito feliz com esta dica.

A. João Soares disse...

Caro Luís ,

Diz um ditado antigo que «não há bem que sempre dure nem mal que ature». Na história houve mudanças sociais muito significativas. Antigamente deviam-se a guerras que alteraram o equilíbrio do Poder internacional. Agora esta crise que começou por ser financeira e económica e que, por incapacidade notória dos políticos de todos os países, não foi encarada a tempo com a necessária eficácia, vai ter por efeito uma alteração radical de valores. Oxalá seja para melhor, embora saibamos que algo será para pior. Nada é perfeito.
Mas não deixará de haver muitos políticos a terem um fim inesperado, mas justo.

Um abraço
João

Pedro Coimbra disse...

Caro João,
Tinha recebido a notícia já há alguns dias.
Quero esperar para ver.
Paraísos fiscais e gente sem escrúpulos, infelizmente, é o que não falta no nosso Mundo.
E desviar dinheiro para esses paraísos fiscais vai sendo muito fácil.
Demasiado fácil.
Vamos ver o alcance prático destas medidas.
Um abraço

Pedro Faria disse...

Caro joão Soares:
As notícias não são sempre más. É pena que as melhorias éticas demorem muito tempo a fixar-se. A própria Suiça e o seu sistema bancário demoraram anos e anos a tomar algumas atitudes decentes. Mas estão a tomá-las.
Um abraço.
Pedro Faria

Luis disse...

Caro João,
Enviei esta notícia para Luanda e qual não foi o meu espanto por toda a gente a conhecer e os governantes em causa continuarem a tudo fazer desavergonhadamente sem ligarem às sanções!
O mundo está realmente muito pôdre!!!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Pedro Coimbra,

Realmente o que interessa são os resultados práticos. Mas estas intenções de moralização serão, provavelmente, o primeiro passo para os atingir. É bom as pessoas e as instituições irem abrindo os olhos para os valores éticos.

Um abraço
João

A. João Soares disse...

Caro Pedro Faria,

Sem dúvida que as evoluções da forma de encarar a ética são lentas. Isso obriga as pessoas em geral estarem atentas ao que se passa e pressionarem a fim de evitar que se afrouxe na progressão em boa direcção. O caminho para o culto dos valores é cheio de escolhos porque aqueles que vivem da trafulhice fazem tudo para evitar a moralização. E eles têm muito poder, aquele que lhes é dado pelo dinheiro sujo que foram acumulando.

São precisos deputados com coragem para denunciar os casos escandalosos, como os dos posts seguintes:

http://domirante.blogspot.com/2010/04/deputada-estadual-cidinha-campos.html

http://domirante.blogspot.com/2010/04/parlamentar-amante-da-verdade.html

http://domirante.blogspot.com/2010/04/deputada-cidinha-campos-arrasa-avaro.html

Um abraço
João

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Isso prova que cada povo tem os governantes que merece. Os políticos agem sob a pressão do povo e das organizações populares. Se o povo anda adormecido e apático e não se importa com roubos e outras trafulhices, estas continuam em crescimento.

O êxito que os corruptos obtêm dá-lhes força para reforçarem a sua actuação na via do enriquecimento ilegal. Vale a pena abrir os links inseridos no comentário anterior.

Um abraço
João

Arp disse...

Meu Caro João

Há algumas imprecisões, e de monta, no texto que agora divulga e que na verdade circula pela internet pelo menos desde 2005, o que quer dizer que o tal esforço suíço pela clareza, a existir ou ter existido, já vai a esta data nuns bons 15 anos.

A saber...
- o presidente angolano nem sequer consta da lista com cerca de 800 nomes da Forbes, quanto mais entre os 10 primeiros, como pode verificar no site da revista, em que os indicados nas posições de 9 a 10 são os seguintes...

9 - Theo Albrecht - 18.8* - Germany
10 - Amancio Ortega - 18.3* - Spain
11 - Jim Walton - 17.8* - United States

*- Valores em biliões de dólares americanos.

...e aqui pode pesquisar todos os 800 felizardos...

http://www.forbes.com/lists/2009/10/billionaires-2009-richest-people_The-Worlds-Billionaires_Rank.html

- a distribuição populacional em Angola é a seguinte...

Ovimbundos 37%, Kimbundos 25%, Bakongo 13%, mestiços 2%, Europeus 1%, Outros 22%

- a implantação urbana no país é de cerca de 54% da população, o que ultrapassa largamente os 12% anunciados no texto.

Estas são apenas algumas das imprecisões facilmente detectáveis na parangona, sendo que outras o poderão ser se alguém estiver disposto a dedicar-lhe alguma atenção.
Sou de opinião que é saudável a divulgação das manigâncias corruptas dos poderosos ou candidatos a tal, mas se não tivermos um cuidado mínimo na verificação do que nos entra pelo computador dentro em vez da sã divulgação da corrupção que nos envolve, arriscamos estar apenas a divulgar corruptelas fabricadas sabe-se lá com que fim.
A informática facilidade do “copiar/colar” deve, quanto a mim, ser usada com parcimónia e completada com uma pesquisa honesta, mesmo quando o seu uso facilita a justificação daquilo que nos agrada ter por verdade.

Um abraço
Mário Paiva