As Farpas - Ramalho Ortigão - 1882
"Trocadas as descomposturas preliminares, sobre a questão da fazenda, decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao crédito, e faz-se novo empréstimo.
No dia seguinte averigua-se, por cálculos cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda mais uma vez ao país e cria-se um novo imposto.
Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso, mas ingénuo, o deficit - por uma estranha birra, admissível num ser teimoso, mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma não-existência - aumenta sempre através das contribuições intermitentes com que se destinam a extingui-lo, já o empréstimo contraído, já o imposto cobrado.
Pela parte que lhe respeita, o país espera.
O quê?
O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está colectado tudo, deixe de haver quem empreste, por não haver mais quem pague..."
NOTA: Apesar de tudo, por inexplicável milagre, conseguimos sobreviver até 2010 !!!
A Necrose do Frelimo
Há 5 horas
2 comentários:
Caro João,
Sobreviveu-se porque de vez em quando aparece alguém honesto que sabe "da poda" e lá se acertam as contas. vêm depois os "chicos espertos oportunistas" que estragam novamente as contas... servindo-se "à tripa forra"! Como se pode ver tudo isto é cíclico, triste e é o nosso fado!
Um abraço muito amigo.
Caro Luís,
Falta civismo aos detentores do Poder. Essa falta está generalizada na população, e eles, interessados, nesta apatia e má conduta, pretendem que tudo continue na mesma, para manter a sua imunidade e impunidade.
Claro que um dia isto mudará, mas eles nem pensam nisso, deslumbrados como estão na bagunça actual, esquecem que quanto mais demorar a mudança mais violenta ela será e eles serão os mais sacrificados. Não podemos ter grandes dúvidas nesta previsão.
Um abraço
João
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