Nem a liberdade nem a democracia podem significar que as opiniões das pessoas sejam condicionadas e submetidas, obediente e cegamente, aos ditames dos partidos a que eventualmente pertençam ou com que mais simpatizem. Como em democracia é suposto que a soberania reside nos cidadãos, estes devem esclarecer-se para que, no momento em que são chamados às urnas, emitam o seu voto conscientemente de que estão a contribuir para a solução que pensam ser a melhor para o futuro do País. Essa preparação obtém-se no dia-a-dia adquirindo o máximo de informação que for possível e digerindo-a, comparando com o conhecimento possuído do anterior e indagando os «porquês» e os «para quês».
É costume ouvir-se que o povo não está esclarecido e apenas se interessa por telenovelas e pelo futebol, mas quando se indaga se deve haver ou não referendo ao tratado europeu, muitos populares dizem que sim, mas o diálogo morre logo a seguir com a declarada total ignorância do conteúdo do tratado e da sua importância para as nossas vidas.
Mas o meu «optimismo» mostra-me sinais de esperança de que começa a haver tendência para os eleitores se interessarem por assumir a propriedade das suas ideias e digerir a informação que lhes chega. Há dias, em Felgueiras, a proposta orçamental apresentada pela presidente da câmara foi chumbada por 34 dos 65 deputados municipais. Talvez aqui não fosse propriamente a liberdade de voto dos deputados mas sim a obediência aos respectivos partidos, o que não reforça o optimidsmo. Mas já antes neste conselho os eleitores votaram pela sua convicção em sentido contrário aos dos partidos elegendo um candidato independente… talvez pelas piores razões, as sentimentais.
Também, uns dias antes, Manuel Alegre, vice-presidente da Assembleia da República em representação do PS, votou - ao lado de todas as bancadas da oposição - a revogação dos dois decretos-leis do Executivo que promoveram a reestruturação da empresa da Estradas de Portugal, entretanto transformada em sociedade anónima. Declarou não estar de acordo com esta solução, que não o convence e ter muitas dúvidas, pelo que votou em consciência.
É justo referir também as preocupações em evidenciar isenção nas análises e comentários que alguns colaboradores fazem nas televisões e nos jornais, não citando nomes para não cometer o pecado de omissão. É inquestionável que Portugal precisa do voto de cada um e é imprescindível que cada um assuma a sua responsabilidade individual, esclarecendo-se com vistas largas e imparciais, e emita um voto em consciência e não porque lhe foi exigido, em nome de valores menos democráticos. Terá que agir em função daquilo que realmente afecta a vida dos portugueses, porque o futuro do País depende de cada um e não podemos ficar à espera de um milagre que nos torne um Estado evoluído com uma população feliz e com boa qualidade de vida. O milagre tem de ser feito pelo esforço persistente e bem intencionado de cada um, segundo as suas capacidades.
Ontem ao almoço uma senhora professora reformada, quando o marido comentava um acontecimento nacional, disse que não se interessa pela política. Mas quando lhe perguntei se vota, disse que sim, o que me fez perguntar em que baseia a sua decisão de voto. Ficou atrapalhada, e a minha convicção é que ela, como a grande maioria do povo ignorante, vota da forma que lhe é aconselhada nas campanhas eleitorais pelo partido de que se habituou a gostar!!! Desta forma nunca mais se sai da cepa torta e os vindouros irão dizer muito mal dos seus avós, que não serão considerados «egrégios avós»
El País
Há 2 horas
6 comentários:
Tentando eternizar-se no poder, valendo-se de não haver alternativas, os maiores partidos ressuscitam uma lei que acaba com os partidos de menor expressão eleitoral. Como os do arco governativo (adoro esta) são tão iguais, facilmente se percebe que basta estabelecerem acordos informais entre si, para que tenhamos sempre a mesma música no poder.
A lei está errada, altere-se, ou então fica claro para todos que os grandes partidos não gostam da democracia mas sim da partidocracia, que aliás já é bem visível.
Abraço do Zé
António Barreto escreveu sobre "o circo dos políticos". Este circo é parte integrante da "sociedade espetáculo" que estamos a viver.
À pergunta "onde está a sède do poder?", Zé povinho avança uma resposta: "partidocracia".
Saudações do Zé Guita
Vim principalmente para desejar boas festas!
Um abraco do d'Algodres.
Caros Zé Povinho, Acalves 2003 e Al Cardoso,
Obrigado pelas visitas e pelos comentários. O arco era um brinquedo muito em voga na minha aldeia há muitas dezenas de anos. O arco do poder, faz lembrar um ciclo vicioso, ou um circulo em que se anda à roda sem dele sair, ou um circo em que os palhaços nos procuram divertir desviando-nos dos problemas que eles nos causam. Inclino-me mais para o circo e o António Barreto dá dele uma boa definição. A assistência paga o bilhete mas não brinca com os macaquinhos!!!
Quanto às alianças entre os partidos do circo político, acho que elas são convenientes para os projectos que se prolongam, na realização ou nos efeitos para além de uma legislatura, mas tendo sempre presente a defesa dos interesses nacionais a prazo, e nunca para interesse exclusivo dos partidos do circo. Mas, na politiquice nacional, os interesses dos partidos é que contam e desprezam os interesses nacionais, pelo que a reforma da Justiça e das leis eleitorais são um aborto que só prejudica o País e travam a verdadeira democracia, transformando o regime numa ditadura em que os ditadores se revezam.
Gosto de continuar convencido de que «a sede do poder» está nos cidadãos. Estes devem exercer o Poder não apenas nas eleições (na situação actual os cidadãos devem respeitar o boletim de voto não riscando mas dobrando-o respeitosamente e introduzindo na urna com muita veneração) mas principalmente nas manifestações de desagrado sempre que oportuno. Há vários exemplos de recuos do Governo em consequência desse poder popular.
Se «todos» os eleitores votarem em branco, qual será a representatividade desses eleitos? Apenas receberão os votos doe elementos do clã, o que será muito pouco para lhes dar credibilidade interna e externa. Depois ficará ao critério da sua sensatez tomar ou não posse.
Enfim, é pena que os portugueses não se interessem mais pelo que realmente tem implicações nas suas vidas e dos seus descendentes do que ao futebol e às telenovelas.
Abraços e Natal Feliz
Gostei e concordo com o seu post, estaá excelente, parabéns.
Se me permite vou-o transcrever no meu blog.
Um abraço
Compadre Alentejano
Compadre Alentejano,
Obrigado pela sua visita e pelo comentário. Pode transcrever o post, só pedindo para que refira a origem.
Um abraço
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