Transcrição de artigo do JN
O "lifting" nacional
Por Manuel António Pina, jornalista do JN
Com uma campanha de três milhões comprada a uma agência de publicidade, o Governo quer apagar - vem no texto de apresentação da campanha - a imagem de "subdesenvolvimento, iliteracia, corrupção e recorrentes indicadores estatísticos de miséria" de Portugal.
O ministro da Economia é um "homme du monde" e, para milagres, não vai ao Professor Karamba, vai a uma agência de publicidade. Em vez do "Abracadabra!" do Professor, a agência pronuncia as palavras mágicas "West Coast of Europe" e o país transforma-se de um momento para o outro, em (ainda a crer no texto de apresentação da campanha) "surf, qualidade de vida, Hollywood, criatividade, entretenimento, Los Angeles, S. Francisco, Las Vegas, Silicon Valley".
Para o "lifting" nacional ser total, a agência usou imaginosamente, em vez de Amália, uma foto de Marisa, em vez de Eusébio, Mourinho e Cristiano Ronaldo (só falta a nova basílica para a trilogia Fado, Futebol & Fátima ficar completa).
A agência quis ainda (não é invenção do cronista, quis mesmo!) mudar a bandeira, pois isso constituiria um "evento mundial" maior do que, coisa banal, acabar com a iliteracia, a corrupção e a miséria, mas o ministro hesitou. A bandeira ficará para depois. Para quando Tony Carreira acabar de escrever o novo hino.
NOTA: São tradicionais as anedotas de loiras de cabeça oca e a estas são atribuídas as fantasias ilusionistas dos silicones e dos «liftings». Tácticas do «faz-de-conta» da ostentação de imagens fictícias para ocultar a realidade das rugas e dos sinais de feiura ou fealdade. Tudo virtual para iludir os menos atentos, os mais ignorantes. É a táctica do aldrabão que, para vender o carro velho, mete serradura no cárter do motor para evitar os ruídos causados pelas folgas. Agora, vemos que os políticos querem inscrever-se no mesmo rol de pessoas menos sensatas. Lá diz o velhote: meu rapaz, nunca compres um carro usado a um político!
El País
Há 2 horas
3 comentários:
O poder utiliza muitas máscaras, desde a da competência, a isenção, a seriedade, a coerência, e a da defesa dos direitos dos cidadãos. As máscaras contudo caiem com os actos que todos escrutinamos todos os dias, para isso existem as agências de promoção da imagem, que embrulham qualquer porcaria em papel vistoso e o respectivo lacinho, que disfarçam de algum modo a péssima qualidade do produto. Há quem diga que com papas e bolos se enganam os tolos, mas a evidência acaba por surgir quando a carteira deixa de fornecer as notas e as moedas necessárias para atender às necessidades.
Cumps
Caro Guardião,
Quando se estende verniz em cima de superfícies impróprias, ele acaba por estalar e mostrar a porcaria que está por baixo. Isto acontece por melhor que seja o publicista. A verdade vem sempre à tona de água e quem se sente enganado nunca mais esquece. Na primeira qualquer cai, na segunda só cai quem quer!
Abraço
Mas...
enquanto eu for vivo,
esse tal desGoverno vai ter muitas dificuldades em conseguir passar essa imagem...!
Ai vai, vai!!!
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