O assassinato de Benazir Bhutto é um indicador do estado de doença do Mundo actual, suscitando reflexões atentas de vários pontos de vista, sem preconceitos nem paixões.
Não me refiro propriamente à violência da morte, porque este não é o primeiro caso nem, infelizmente, será o último. Ela era uma rival do Poder actual, mas John Kennedy, Indira Ghandi e Anuar Sadat eram o próprio Poder e foram abatidos. No Iraque e em Israel e Palestina tem havido atentados com violência semelhante.
Também não é por se tratar de uma mulher bonita que o facto é chocante, porque tal predicado, dada a forma como ostentava a beleza e o baton, constituía uma provocação numa região em que as mulheres vivem embiocadas ou, no mínimo, discretas.
Mas há outros aspectos mais relacionados com a comunidade internacional que exigem reflexão. O Paquistão dispõe de armas nucleares, para o que dispõe da amizade e compreensão da super-potência EUA. Estas armas constituem um grande risco para a paz mundial por se tratar de um Estado muito instável em que o poder tem mudado de mãos na sequência de atentados e golpes de Estado. Perante este facto e o consentimento dos EUA, ficamos sem saber qual a razão de a super-potência ter receio de tais armas nas mãos do Irão, um Estado com muito longa história de que se orgulha e com uma apreciável estabilidade governativa. De entre os dois vizinhos, tais armas representariam menos perigo no Irão.
E quanto a estes apetrechos de guerra, ainda está na nossa memória a recente ameaça de confrontação com a Índia, com deslocações recíprocas de mísseis para a proximidade da fronteira, devido a atritos surgidos na Caxemira. Dois países vizinhos, que foram irmãos, como colónias da Grã-Bretanha, ambos com tais armas, mas em que a Índia merece mais confiança pela sua serenidade e estabilidade política e estratégica.
E, ao referir a Caxemira, ressalta o referendo prometido pela ONU em 1947 (há 60 anos!) e ainda não efectuado. Fica a dúvida. Qual o real poder da ONU? Para que serve a ONU além do circo diplomático de vaidades todos os anos em Setembro? E a Al-Qaeda? Parece que em 2001 (há seis anos!) os EUA queriam acabar com ela e, com esse pretexto, têm feito grandes gastos no Afeganistão e convencido outros países a colaborar nos custos – um dos quais Portugal – causando muitas destruições, baixas humanas e prejuízos na qualidade de vida das populações sobreviventes. E, além destes custos e inconvenientes, qual o benefício de tais acções a não ser os dos fabricantes de armamentos?
De todas as reflexões que possam ser desenvolvidas, qual o aspecto positivo para a esperança de paz e harmonia no futuro daquela região e do mundo? Que réstia de optimismo poderá romper através das trevas que envolvem as relações internacionais e as capacidades dos seus agentes? Que palavra tranquilizante pode ser dita a um ser pensante ávido de serenidade e bem-estar que queira confiar no bom senso dos políticos mundiais?
El País
Há 1 hora
2 comentários:
Não há dúvida nenhuma que a trágica morte de Benazir Bhutto vem piorar a situação no Paquistão.
Era nela que grande parte dos paquistaneses depositava confiança na viragem para um sistema democrático.
E não nos devemos esquecer que o Paquistão é uma potência nuclear...
Um abraço
Compadre Alentejano
Compadre,
Isso é inegável. Não será fácil, agora fazer a viragem e, entretanto, a confusão irá continuar, o que interessa à Al-Qaeda. E, num país com tal instabilidade interna, a arma nuclear representa um perigo para o mundo. E não podem contar com forças estranhas isentas e desinteressadas que os ajudem. Qualquer ajuda, tem em mira benefícios a colher.
Um abraço
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