HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.
(Miguel Torga, in Antologia Poética, Coimbra, Ed. do Autor, 1981)
Publicada por Amaral, em Ad Litteram
A Decisão do TEDH (396)
Há 33 minutos
2 comentários:
Poema muito a propósito não só á quadra como a quem exerce o poder como os déspotas e ditadores e só para dar um exemplo com o que se passa no Darfur, Este reizinho de barro, ditador sem tranças , mas carapinha é um demónio á solta
Que a paz e o amor o acompanhe, com um santo Natal
Saudações amigas
Agradeço estas palavras e retribuo os votos de santo Natal. Espero que o espírito desta quadra festiva se prolongue por todo o ano.
Forte abraço
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