sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Natal, a fuga para o Egipto

HISTÓRIA ANTIGA

Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

(Miguel Torga, in Antologia Poética, Coimbra, Ed. do Autor, 1981)
Publicada por Amaral, em Ad Litteram

2 comentários:

C Valente disse...

Poema muito a propósito não só á quadra como a quem exerce o poder como os déspotas e ditadores e só para dar um exemplo com o que se passa no Darfur, Este reizinho de barro, ditador sem tranças , mas carapinha é um demónio á solta
Que a paz e o amor o acompanhe, com um santo Natal
Saudações amigas

A. João Soares disse...

Agradeço estas palavras e retribuo os votos de santo Natal. Espero que o espírito desta quadra festiva se prolongue por todo o ano.
Forte abraço