Divulgar as maravilhas que os portugueses de antanho construíram pelo mundo além constitui uma boa promoção para o turismo de cada um dos Países onde elas se encontram. Também contribui para encher o ego balofo dos portugueses de hoje e, é preciso dizê-lo, em consonância com os principais discursos de ontem, que tabém vem criar frustração nos portugueses que usam livremente o sua capacidade de raciocinar, porque constatam que hoje, em comparação com os séculos XV e XVI, somos uns inválidos que vegetamos alegremente em ostentações voláteis e em consumismos de imitação competitiva, sempre com os olhos no subsídio nacional ou da UE.
Ao dedicarmos muita da nossa atenção às glórias dos nossos antepassados, sem lhes seguirmos os bons exemplos podemos não estar a «resistir à tentação de nos apropriarmos do passado e dos heróis, a fim de desculpar as deficiências contemporâneas», como referiu ontem António Barreto. Seria mais útil ao Portugal de hoje e de amanhã fazer um esforço sério para recuperar a perenidade das grandezas da nossa história.
Mas que vemos hoje? Um «Rei» a ocupar o seu tempo de oratória numa conferência intercontinental do mais alto nível, a fazer propaganda de um mini computador que de português pouco mais tem que o nome e a mão-de-obra da montagem, em vez de fazer um discurso de elevada importância geopolítica e geoestratégica em defesa dos interesses de Portugal, o que era o seu dever, porque a propaganda devia ser feita por um dos seus marinheiros de terceira (usando a comparação com os descobrimentos).
Se nos descobrimentos foi levada a língua lusitana a todas as partes do mundo, hoje tal exemplo não é seguido, hoje vemos esse exemplo esquecido e menosprezado assistindo a um alto representante da Nação fazer no país vizinho um discurso num linguajar que era uma mistura de portunhol com espanholês, não entendido por ninguém, mas aplaudido por todos pelo inusitado ridículo.
A divulgação das grandes obras realizadas outrora, na mesma data em que se homenageia Camões deveria servir «para melhor ligar o passado com o futuro», para clarificarmos os bons exemplos daí extraíveis e reabilitar os valores esquecidos, porque «os portugueses precisam mais de exemplo do que de lições morais», de «sermões», de «declarações solenes», de «discursos pomposos».
São precisos exemplos de pessoas altamente colocadas capazes de «constituir um estímulo, uma prova de que somos capazes de vencer, mesmo perante os maiores desafios ou as piores adversidades» como disse o PR, mas vencer com honra e dignidade e não como muitos ex-políticos que na ânsia do enriquecimento rápido enveredaram por negócios escuros e ilícitos.
É urgente que se difunda a cultura do mérito e da excelência, que se dê a conhecer as maravilhas que foram construídas pelos idos no rectângulo e o que tem sido feito em variados sectores, por forma a estimular os jovens de hoje a seguirem os melhores exemplos de gente séria e muitas vezes anónima que vive num envelope de humildade, sem alarde, a fazer obra válida para os vindouros. Se a Comunicação Social for pelo interior, encontra muitos casos altamente positivos, alguns dos quais foram referidos aqui, aqui e aqui, além de outros.
El País
Há 10 minutos
2 comentários:
Acho que esta coisa das maravilhas é um embuste, tal como foi o anterior das 7 maravilhas de Portugal. No caso concreto parece-me um neocolonialismo com vontade de emergir associado ao saudosismo do "fomos" de braço dado com o divorcio de um futuro em que poderemos ser.
Historiadores de nomeada, manifestaram-se, contra esta manobra de distracção argumentado realidades como: a exploração, a guerra, a introdução de doenças a escravatura etc, nos paises onde as ditas obras de arte estão.
Na minha modesta opinião, estas manifestações, não passam de saudosismos de caracter nacionalista recalcados. Não ajudam a elevar ninguém, muito menos grande parte dos portugueses, sobretudo os que conhecem mal a sua historia, e dela têm apenas um visão fabulosa e mitica. E aqueles que cantam o hino nacional sem o saberem interpretar e repetem o " LEVANTAI HOJE DE NOVO" sem a exagese necessária.
Um abraço
E creio que além disso, cria uma falsa ideia do poder do País. Com tanta publicidade das maravilhas e das noitadas do Ronaldo, dos futebóis e das novelas, muita gente conclui que não há problemas em Portugal, não é preciso trabalhar nem estudar para se preparar para a vida real, o que é preciso é saber viver de subsídios, é saber exigir os direitos.
Somos uma sociedade de direitos mas nada de deveres.
Abraço
João
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