Hoje tive a grata surpresa de ver um sinal de que algo poderá estar a moralizar neste País. Refiro-me à notícia de que o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, defende concurso para entrar no politécnico. Segundo a proposta «os professores terão de aceder aos quadros através de concurso público, mesmo que estejam na instituição há anos e com doutoramento».
O ministro garantiu que "o nosso princípio é qualificar e garantir que só se entra em lugares de quadro por concurso e terminar com a contratação automática. Temos assumido a maior flexibilidade em relação aos prazos de transição".
Parece que surge a preocupação de se cultivar a excelência, acabando com as nomeações sentimentais, por confiança política e amizade, e se passar a recorrer sistematicamente a concursos públicos em que, honestamente, sem corrupção, se escolham os mais dotados e preparados, melhores em todos os aspectos.
Conheço pessoalmente dois portugueses docentes, nos EUA, ambos doutorados, um em Economia e outro em Física Nuclear. Enquanto não atingirem um determinado grau académico na estrutura do ensino, trabalham numa universidade, após concurso documental e análise do currículo, por um período de dois anos não renovável, findo o qual terão de concorrer a outra universidade que tenha necessidade, em qualquer ponto dos Estados Unidos. Um destes compatriotas, casado e tendo a mulher bem empregada na localidade da Universidade, mostrou interesse em mudar de profissão. Dado o conceito em que era tido na Universidade, prolongaram, a título excepcional o contrato por mais um ano, mas sem hipótese de ficar mais um dia.
Em reunião familiar e perante a realidade de que se mudassem de cidade ela perderia o emprego e os filhos teriam de mudar de escola e criar novos amigos. A alternativa seria ele mudar de profissão e continuarem na mesma cidade. Mas ele tinha que arranjar trabalho e chegou a incluir nas hipóteses possíveis, montar uma padaria de pão tipo português e italiano, muito procurado na região. Sem preconceitos, o objectivo era viver com dignidade e eficiência.
Porém, na procura de emprego, acabou por ser admitido na segunda empresa de um ramo de serviços com bons auspícios, mas apesar do seu doutoramento, teve de obter uma licenciatura adequada a à actividade, o que conseguiu em horas pós-laborais. Decorrido pouco tempo, a primeira empresa do ramo, vendo a sua eficiência, apresentou-lhe uma proposta que ele levou ao seu chefe directo, obtendo como resposta que aceitasse porque não podiam cobrir, mas que ficasse um mês para passar a pasta.
Na empresa seguinte fez um trabalho de tal rigor e eficiência que a empresa anterior acabou por ir buscá-lo com uma proposta que a melhor do mercado não pôde cobrir.
Este exemplo mostra bem a ausência de preconceito na visibilidade do trabalho feito, pois pode ser-se bom até a produzir pão, mesmo sendo doutorado e com experiência docente universitária, e evidencia que o sistema de concurso permite obter os melhores colaboradores e criar-lhes estímulo para uma evolução permanente, mostra ainda que o mérito e a excelência acabam sempre por ser compensados e que a flexibilidade de emprego não prejudica as relações entre dirigentes e dirigidos, que se respeitam mutuamente.
Porém, receio que em Portugal não haja «vontade política» para evitar contratos assentes na «confiança política» e passe a fazer assentar as nomeações no resultado de concursos abertos com transparência e honestidade, por forma a escolher os melhores para cargos públicos, a fim de os dinheiros resultantes dos impostos sejam geridos de forma adequada aos interesses nacionais. Os nossos políticos não estarão dispostos a alienar os seus privilégios de serem agência de emprego para familiares e amigos, e as jotas, mesmo que sem os requisitos mínimos em preparação e vocação para o lugar.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Um sinal de moralização
Publicada por A. João Soares à(s) 17:21
Etiquetas: competência, concurso, excelência, transparência
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1 comentário:
Então mas o Gago não é já licenciado?!
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