sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Politiquice e realidade

O Serra, que é socialista, como é sportinguista, incondicional, porque sim, ou porque o seu filho é deputado, não admite que alguém critique qualquer acção do Governo. O amor de pai leva-o a estes excessos: não quer ver o filho, que já foi assessor, e pretende continuar a subir na carreira, ser prejudicado, nem que indirectamente, por qualquer atitude que o pai tome por acção ou omissão.

Achou muito exageradas as palavras do economista Medina Carreira, acusando-o de demasiado crítico, sem nada de positivo, e disse que o fiscalista Saldanha Sanches (no momento estava ser visto na TV) é excessivamente exaltado quando critica a situação vigente. Um dos presentes afirmou convictamente que após o 25 de Abril nada melhorou e que a revolução não valeu a pena.

Um outro do grupo, o Silva, pouco falador, mas incisivo, e por vezes usando de mal disfarçada ironia, alertou para não ser sensato acusar o 25 de Abril pois, desde então, o povo tem recebido inúmeros benefícios com que antes nunca pudera sonhar: a televisão a cores, os telemóveis, os computadores ao alcance da maior parte dos portugueses, as consolas e playstations, a Internet, os e-mails, os blogs, os ecrãs de plasma, o ABS nos carros, os airbgs, os GPS, etc., etc., embora haja aldeias que continuam sem água canalizada e esgotos, muita gente com centros de saúde e urgências a grande distância e crianças a nascer em ambulâncias. Também há mais e maiores estádios de futebol, muito mais auto-estradas, mas menos caminhos de ferro a servir o interior do Portugal profundo, cada vez mais desertificado. O Silva, com um sorriso discreto, não disse que as inovações tecnológicas que referiu não se devem aos governos nacionais mas sim à evolução da ciência e das técnicas internacionais, o que foi compreendido pela maior parte dos presentes.

Estas considerações e outras do mesmo género foram-se amontoando com as achegas dos circunstantes e darão pano para mangas ao pai do jovem político carreirista, para nelas meditar, se tiver vontade e coragem para aceitar as realidades, vistas por outros olhos que não estejam enublados pelas cataratas dos interesses pessoais ou de familiares, ou pela propaganda governamental e partidária.

É uma virtude a procura da verdade, com todas as suas facetas, cores, cheiros, sons, aspectos bons e maus. As posições clubísticas ou partidárias nunca são boas conselheirras de quem procure compreender bem o que se assa em seu redor.

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