Tenho aqui pugnado pela restauração de valores morais que têm sido esquecidos na vida materialista moderna e cuja ausência tem arrastado a sociedade para um estado de desumanidade, irresponsabilidade e atribulações económicas e financeiras cuja gravidade é hoje bem visível e lamentável.
Na América, epicentro da actual crise, os bispos debruçaram-se na análise do fenómeno e chegaram à conclusão de que devem ser recordados princípios-chave, de que "os princípios morais podem ajudar na busca de respostas efectivas à desordem económica", salvaguardando "a vida e a dignidade humanas".
Na causa da crise da sociedade moderna está a avaliação das pessoas pelo que têm ou aparentam ter e não pelo que são intrinsecamente, o capitalismo desregrado, a liberdade ilimitada do mercado, a "busca escandalosa de benefícios económicos excessivos», sem olhar aos resultados nefastos na vida real das pessoas e sem curar de respeitar a solidariedade e o bem comum.
Será justo e moral que se averigue e se sancione a "responsabilidade e a necessidade de prestar contas", porque "quem contribuiu para esta crise ou se aproveitou dela não deveria ser recompensado ou escapar sem prestar contas do dano que causou". O anonimato dos elementos de órgãos directivos colectivos dispersa o sentido de responsabilidade e arrasta para a impunidade os directores e gestores de topo que são bem pagos mas passam ao lado do mal que praticam, imunes e impunes.
É absolutamente necessário nunca olvidar que "há necessidades humanas que não encontram lugar no mercado", o que implica a "renovação dos instrumentos de controlo e a correcção das instituições económicas e da indústria financeira", tendo presente que a finalidade de uma política séria e honesta é garantir as melhores condições de vida das pessoas, com solidariedade e equidade.
Deve ser incentivada e desenvolvida uma sociedade do trabalho, da iniciativa e da participação, que não esteja contra o mercado, mas que exija que este seja controlado pelas forças sociais e pelo Estado a fim de ser conseguida a ampla satisfação das necessidades básicas da população.
Deve respeitar-se o princípio de subsidiariedade, que leva "os agentes privados e as instituições à responsabilidade, para que aceitem as suas próprias obrigações", sob pena de as altas entidades, incluindo os governos, excederem as suas prerrogativas e substituírem indevidamente as instituições privadas.
El País
Há 45 minutos
4 comentários:
O "novo-riquismo" que se instalou nas novas sociedades quer na Europa, na América quer ainda nas novas potências (India e China) tornaram as pessoas egoístas a pensarem só no seu "umbigo". Hoje em dia só se pensa em "TER" e não em "SER"! Assim sendo os velhos e sádios valores morais, principios pelos quais nos regulamos, estão esquecidos! Só quando tudo ruir é que a "phoenix" ressurgirá das cinzas e esses principios voltarão a ser de novo considerados! Até lá será sempre esta miséria moral a prevalecer!!!
Caro Luís,
Nos tempos que correm, será prudente evitar radicalismos de esquerda ou de direita e arquitectar uma ideologia humanitária, dirigida aos mais altos valores morais, ao homem na sua essência sem os vícios e ambições do TER mas preocupando-se mais com o SER.
Há que privilegiar o ensino de princípios humanos e respeitar o dinheiro como necessário, mas perigoso quando é transformado em Deus todo-poderoso.
A ambição do lucro, da riqueza, sem limites, à custa dos maiores sacrifícios dos outros, deve acabar. O culto do dinheiro é pior terrorista do que a Al Qaeda que até se bate por ideais de humanidade!
O Estado não pode fugir ao seu dever de controlar tudo, na justa medida, para proteger os mais carentes que necessitam de protecção permanente contra o perigo dos viciados no dinheiro.
SE nada for feito, a humanidade irá para as cinzas de onde uma Fénix a poderá ressuscitar. Mas seria prudente e inteligente evitar a derrocada total.
O mundo está mais em perigo do que eu tenho aqui argumentado e não esqueçamos que a disseminação nuclear coloca em perigo um atentado como o 11 de Setembro, mas com armas de destruição maciça.
Gostava de estar enganado.
Abraço
João
Tenho presente a noite em que foi enforcado Gomes Freire de Andrade, objecto de uma peça de Sttau Monteiro: "Felizmente há luar". Havia portanto luar nessa noite, alguma luz.
Para adaptar ao que vai sucedendo, apetece dizer: "Felizmente há crise"
A fazer evitar mais disparates,
a levar talvez a outros paradigmas.
Para quem for capaz de acreditar ou de ter fé.
Pese o que tenho por hábito afirmar de há uns anos para cá: já perdi a fé há muito, a propósito de uma iniciativa de uns antigos cabos do meu batalhão em Moçambique, de que darei conta brevemente.
Cumprts
BM
Caro Bravomike,
Entre pessoas inteligentes, uma situação de crise, sendo bem aproveitada, traz novas soluções para os problemas rotineiros e leva a inovações importantes para a vida futura. As eras históricas iniciaram-se em momentos de dificuldades graves.
Haja timoneiros audazes e bem intencionados que deitem as mãos ao leme e conduzam o barco a bom porto para bem de todos os cidadãos.
Um abraço
João
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