segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Os portugueses devem unir-se para ultrapassar a crise

Deparei, hoje, com três textos que referem três entidades com ideias convergentes para a necessidade de os portugueses – do Governo à oposição e aos simples cidadãos – se unirem, conjugando os esforços para tornarem Portugal mais desenvolvido em benefício dos cidadãos comuns.

São palavras sensatas que pecam por tardias. Já em 30 de Agosto aqui publioquei um post de que transcrevo parte no final.

Quanto aos artigos de hoje transcrevo as frases iniciais e deixo os links para quem deseje uma leitura mais demorada.

1. O Presidente da República Cavaco Silva apelou à união dos portugueses para vencer as dificuldades decorrentes da crise financeira internacional, garantindo que essa é uma tarefa que nunca abandonará.
"Como Presidente da República nunca ninguém me verá a tentar dividir os portugueses mas sim a apresentar bons exemplos para uni-los, para mobilizá-los", disse Cavaco Silva em Ansião, Leiria, durante a inauguração do Centro de Negócios local.
Apelou à "responsabilidade de todos os agentes políticos" nessa mobilização e união, criticando, sem especificar, "aqueles que neste momento procurem dividir os portugueses".
"Só estão a criar dificuldades ao nosso desenvolvimento e à melhoria das condições de vida de todos", argumentou.

2. José Miguel Júdice critica presidente da República e primeiro-ministro por não promoverem reuniões com partidos da oposição para discutirem a situação económica e avisa que em 2009 pode piorar mais

A crise económica mundial alastra e tanto o Presidente da República como o primeiro-ministro já deviam ter chamado os partidos para discutir soluções, considera José Miguel Júdice, advogado, "comentador e aconselhador" de política que só numa situação de calamidade aceitaria ser ministro ou até candidato à Presidência.

3. Passos Coelho, ex-candidato à liderança do PSD acredita que a crise está para ficar "quatro ou cinco anos" e defende que deve haver um "amplo consenso para enfrentar a crise. Do lado da oposição e do lado do Governo". Passos Coelho afirma que não é altura para atribuir culpas, mas diz que esse tempo virá.
Pedro Passos Coelho quer que o Governo e a oposição se entendam sobre a melhor forma de, à escala nacional, se ultrapassar o mau momento económico.

NOTA:
Sobre esta solução de consenso e de unidade de esforços publiquei em Do Miradouro em 30 de Agosto o post Reforma do regime é necessária e urgente em que começava por dizer: «Independentemente de ideologias, temos que concordar que Portugal tem vindo a ser mal governado e, para evitar um colapso dramático, é imperioso implementar mudanças estruturais no regime. Isto já não se resolve com mudanças de pessoas, ou de partidos, mas sim com um pacto de regime com um código de conduta assinado por todos os partidos em que fiquem bem claros princípios de comportamento dos governantes e das oposições».

E, em resposta a um comentário, sugeria que, se essa solução não fosse eficiente, se recorresse a outra menos ortodoxa:
«Esta ideia é utópica e, sem dúvida, a utopia não pode ter uma realização total e incondicional, mas poderá servir de um ligeiro toque no flanco para levar a besta a desviar a rota um pouco para o melhor lado, ou para se afastar do lado mais perigoso, do precipício.
Também se pode ir para outra, à semelhança do futebol em que se contratam técnicos estrangeiros. Vinha um PM estrangeiro com nome feito em Países desenvolvidos, trazia uma equipa não superior a meia dúzia, escolheria cá o restante para formar Governo, de preferência gente não viciada nos partidos. Estes seriam suspensos por quatro ou seis anos. O Governo seria controlado por um Conselho formado por representantes de todos sectores profissionais, o melhor que o País tivesse.
O governo iria formando, pelo exemplo e por conferências, os políticos que no fim do contrato tomariam as rédeas dos ministérios. Quando tudo estivesse a funcional bem reactivar-se-iam os partidos, com normas estabelecidas, haveria eleições para o povo poder concretizar a soberania de que é detentor.»

E acrescentava noutra resposta:
«Seria uma bênção para os portugueses que viesse da UE uma comissão de gente bem formada e honesta. Só os nossos políticos não gostariam de perder os «tachos dourados» e as «reformas milionárias» e, provavelmente, de serem submetidos a julgamento pelos crimes que cometeram contra os interesses do Estado.
O exemplo de Mário Pinto na TAP e de Scolari na selecção de futebol mostram que o recurso aos melhores técnicos do mundo vale a pena, é compensadora.
Um bom tema para meditação. Imagine-se quanto se pouparia nos assessores parasitas que só encarecem as contas dos dinheiros de todos nós.»

7 comentários:

Bmonteiro disse...

Tambem tinha notado o artigo de Júdice.
Na linha das opiniões contidas no post de 30Ago, refiro a conversa com um coronel e ex professor universitário, durante um almoço de antigos combatentes:
O PR, com os chefes militares presentes, faz uma proclamação ao país. Dissolve os órgãos de governo existentes e dá posse a um governo formado por cidadãos independentes dos partidos, para uma legislatura.
Voltando depois a processar eleições legislativas com os partidos existentes.
Igualmente utópico, até porque como tem dito Joaquim Aguiar (assessor político de Eanes e Soares)«já não há padres nem militares» para denunciarem as mazelas do regime.
Uma das consequências da democracia, em princípio bem.
O que me parece, é o regime ter recriado as condições económicas e financeiras atingidas pelo regime liberal de 1822. A banca rota de 1892, após o fontismo da segunda metade do século XIX.
Uma tentativa de empréstimo internacional falhada, associada a uma crise do banco Bahrings de Londres, deixou o governo sem dinheiro até 1902, quando consegue um empréstimo que viria a ser liquidado por 2000/2001.
Cumpts
BM

Anónimo disse...

Pois é....!

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Seus comentários sempre perfeitos. Adoro seus textos

A. João Soares disse...

Caro Bravomike,
A história nunca foi o meu forte, embora no liceu tivesse boas notas.
Gosto de dar largas ao pensamento e jogar com as ideias, não receando a polémica, desde que seja cortês e tendente ao maior esclarecimento do tema.
As ideias expostas no post abarcam várias soluções de gradiente diferente, e já foram mais utópicas do que hoje. As várias épocas históricas surgiram na sequência de crises sociais traumáticas. Neste momento, vive-se um sinal de crise profunda no sistema da economia de mercado, capitalista. Não é por acaso que, para solucionar a crise financeira do sistema capitalista, estão a ser tomadas medidas socialistas de interferência política na actividade económica, de entrega de dinheiro dos contribuintes a bancos e grandes empresas, e já se fala sem rodeios em nacionalizações. Não falta mais nada para se unirem as duas ideologias, com cedências de ambas as partes. A teoria da terceira via muito apreciada na Grã-Bretanha pode ser um ponto de partida. Não foi por acaso que Tony Blair, sendo de esquerda, tomou medidas mais de direita do que a Lady Tatcher que era de direita. Neste momento, uma boa governação, pragmática, com os olhos nos bons objectivos do Estado não pode prender-se a preconceitos nem de um nem do outro lado. Já há anos, se dizia que Mário Soares meteu o socialismo na gaveta.
Portanto a unidade, a convergência, são uma prova de patriotismo que, tendo em vista o futuro dos portugueses, procura as medidas melhores sem olhar à sua origem teórica.
Haja políticos que amem Portugal sem se prenderem com a cor das suas decisões!!!
Um abraço
João

A. João Soares disse...

Cara Martha,
Agradeço as suas palavras muito amáveis, ressumando amizade que muito me honra, por vir de uma artista que adora a beleza.
Porém, gosto de pensar de jogar com as ideias, sem me preocupar com a beleza das frases, com a sonoridade da prosa. Muito gostaria de ter uma escrita com estética, com a elegância de bons escritores, mas não me prendo com a forma, sou demasiado rebelde para ir tão longe. Limito-me a atirar cá para fora as ideias na esperança que alguém lhes pegue e desencadeie polémicas criativas.
Beijos
João

Anónimo disse...

Caro João Soares
não precisa de diminuir o seu domínio pela história.
Ainda ontem acabei por confirmar a sua cultura e boa formação, numa conversa na messe de Caxias.
Perguntava eu a um coronel mais antigo, se conhecia o João Soares.
dispenso-me de revelar o seu comentário - Lúcio (em tempos no EM da GNR)
Cumpts
BM

A. João Soares disse...

Caro BM,
Embora não recorde com agrado um ou dois indivíduos com quem trabalhei, tenho o prazer de poder dizer que não tenho má vontade a ninguém e penso que tenho em cada um um amigo. Será essa amizade que levou esse senhor a dizer bem de mim. Mas seja o que for, vou continuando a manter o cérebro activo e a reforçar o saber adquirido durante todos estes anos, sempre com a humildade que procurei traduzir na ficção do post «Quem sou?» http://domirante.blogspot.com/2008/03/quem-sou.html aqui publicado em 22 de Março passado
Um abraço
João