Com este título, recebi por e-mail do amigo João Mateus, o texto que transcrevo na íntegra, no momento em que toda a Comunicação Social noticia o resultado das eleições nos Açores, com maioria absoluta para o vencedor esperado. Este tema aqui tratado merece seria meditação. O reconhecimento da independência do Kosovo pode vir a ser argumento a usar, mas se essa tese vencer, será desejável que Portugal não arme em generoso benemérito sem estratégia como tem feito para Timor e Guiné, lambendo a mão de quem o hostilizou, e sem que daí resulte qualquer benefício para os nossos pobres suburbanos e do interior do País profundo.
Confrontado, no dia 16, na comunicação social, com a notícia de que um senhor Coito Pita de sua graça, dito deputado regional da Madeira, terá afirmado que numa sua anterior declaração, ao falar da "necessidade de ruptura com a República", nome que dá ao que teimo em chamar Portugal, se pretendia referir "à independência da Madeira", afirmação de pronto acompanhada, de forma mais refinada, pelo principal responsável daquela Região Autónoma ao confessar estar também "farto do Estado Português", surge-me imperiosa uma pergunta, a somar a outras muitas que, com arreliadora frequência, me vêm assaltando:
Será que, no contexto do neo-liberalismo em que, a bem ou a mal, estamos mergulhados, constituirá a Madeira um activo estratégico?
Se tudo ora se mede em termos económicos, convulsionados por uma crise para já apenas de natureza financeira, e se, no fundo, todos os problemas que levam o Dr. Jardim a montar os seus habituais entremezes se resumem ao dinheiro de que carece, cada vez mais, por não saber viver com o que tem, não será que o problema da Madeira terá de ser analisado nos mesmos termos que os de qualquer empresa ou grupo económico que vai somando resultados negativos ano após ano?
Carece de mais dinheiro para realizar os projectos que sonhou para a sua terra? E o Estado Português não está nas mesmas circunstâncias, a ter de repensar todas as suas intenções, mesmo as relativas ao défice orçamental, para dar o seu contributo ao erguer de um dique que impeça uma crise económica, e nós, os contribuintes continentais, que pagamos os impostos por inteiro, não estamos, desde há anos, a ter de fazer nos cintos furos suplementares sucessivos, quase a igualar o cavalo do inglês que morreu quando estava prestes a desabituar-se de comer?
Se estiver errado que me corrijam, mas, a meu ver, a Madeira, "empresa", em relação a Portugal, "grupo empresarial", é um activo verdaderamente não estratégico, que não gera quaisquer sinergias para o grupo, e para o qual nem vejo que possam aparecer interessados no meio de uma crise que a América, a tal do "American way of life", gerou e exportou para a Europa, com o resto do mundo a ser progressivamente atingido pelas consequentes ondas de choque.
Independente, não iria acontecer à Madeira o que está a suceder à Islândia, país de pouco maior dimensão populacional, que em 1944 logrou separar-se da soberania da Dinamarca e que era, até agora, considerado um caso único de sucesso?
Tal desgraça não desejo ao pior dos inimigos, muito menos à maravilhosa Pérola do Atlântico e aos seus laboriosos filhos, residentes ou, e em muito maior número, dispersos em diáspora pelos quatro cantos do mundo,onde levam o nome de Portugal de que são o melhor dos embaixadores, sempre lutando pela vida e atingindo posições das mais invejáveis, e tal desgraça lhes não desejo mesmo acreditando que a sua independência poderia beneficiar os contribuintes continentais.
Mas, se realmente não é isso que desejam, e não é de forma alguma o que merecem, como únicos "accionistas com direito de voto" que são, definam claramente o que querem para a vossa terra, o que pretendem que a "administração" que vos representa prossiga a bem do torrão que vos abriga e aquilo que ela pode veicular em vosso nome, sendo certo, para mais, que a causa do actual desaguisado e entremez está apenas na questão de mais ou menos justiça distributiva na partilha entre duas regiões periféricas irmãs de um bolo que lhes é devido, muito justamente, por aquela sua situação de periferia, só acontecendo que uma é mais periférica que a outra, é fragmentada em nove ilhas, algumas quase perdidas a meio do Atlântico, é menos desenvolvida que a irmã e, desta vez, ao cortar do bolo da festa, viu a sua fatia saír um pouco maior,o que não era costume...
Será isto algo que não se discuta civilizadamente no lugar próprio? Será isto razão para uma guerra de alecrim e manjerona? Ou não parecerá antes a birra do miúdo que preferia o boneco do irmão?
João Mateus
El País
Há 46 minutos
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