domingo, 17 de fevereiro de 2008

«Engenheiros» sem preparação em matemática

Acerca da actividade dos engenheiros, Fernando Santo, bastonário da Ordem dos Engenheiros, em entrevista ao Correio da Manhã publicada hoje, faz determinadas revelações de que extraio resumos no tocante à preparação teórica. Há diferenças entre o título académico e as competências profissionais exigidas para exercer uma profissão. Quando apenas existia o ISTécnico a Ordem recebia automaticamente dentro do seu seio os licenciados naqueles cursos. Depois nos anos oitenta quando o mercado começou a abrir a cursos públicos e privados, politécnicos e não politécnicos sem preocupação de dar competências, mas para receber alunos, uns por causa do negócio, outros porque queriam ter mais alunos para ter mais financiamento, numa espiral, a Ordem começou a perceber que não podia garantir competência de pessoas que entravam para cursos sem formação e saiam sem competências.

A partir do decreto de 1992 que aprovou os estatutos da Ordem, esta passou a implementar os exames de admissão, dispensando de exame os cursos que reconhece como de qualidade. Entende que não pode confundir uma licenciatura com um título profissional e portanto tem de ter um processo de avaliação que permita diferenciar competências.

Há cursos de engenharia que admitem alunos sem exigência da disciplina de matemática no 12 º ano. Sem física e milhares sem o 12 º ano, com mais de 23 anos. Foi a estratégia a que as escolas recorreram para terem financiamentos. Muitas escolas não põem a fasquia ao nível da competência que deve ser exigida à entrada em termos de formação, para que o curso que estão a dar permita ser absorvido pelos alunos, mas, pelo contrário, estão a pôr a escola ao nível da formação dos alunos para que a escola funcione.

É um desastre. E é por isso que a Ordem tem um papel incómodo para muita gente e há ataques à Ordem dos Engenheiros. Há a tentativa de muita gente dizer que as ordens têm de admitir aqueles que as escolas aprovarem. Mas, para isso bastaria abrir um balcão na Loja do Cidadão e cada adquire lá o título que quer e ficaria o problema resolvido! A Ordem, enquanto organização de interesse público criada pela Assembleia da República, não é para isto.

2 comentários:

Compadre Alentejano disse...

Aqui há uns anos entravam alunos nos cursos de Matemática, via ensino, com provas de ZERO à disciplina.
Isto aconteceu no Algarve.
Como é que estes alunos podem depois ser bons professores a Matemática?
Um abraço
Compadre Alentejano

A. João Soares disse...

Compadre,
O que mais me estimulou a escrever este post foi o facto de haver licenciados em engenharia sem uma adequada preparação matemática. Não podemos ficar admirados de ruirem prédios ou pontes com o perigo que isso traz em custos financeiros e vidas. Um prédio de vinte andares com vários apartamentos por andar, de noite tem, muitas pessoas dentro. Imagine o que significa desmoronar, sem dar tempo para fuga.
Para o trabalho das contas há as máquinas e os computadores, mas é preciso o homem com boa preparação para saber utilizar essas contas. A noção de logaritmos, funções trigonométricas, integrais, derivadas, etc são ferramentas essenciais para um engenheiro.
Já não admira de muita gente a armar-se em culta, para dizer que uma derrapagem deixou o carro virado ao contrário, diz que deu uma volta de 36o graus em vez de dizer 180!
E o que se passa em relação com os engenheiros passa-se com professores e outras profissões em que a matemática é fundamental. O ensino está a obter resultados péssimos, a não ser com uma minoria de alunos sobredotados, graças às suas qualidades pessoais.
Abraço
Um abraço