Transcrição de artigo com o mesmo título, publicado por Bruno Proença em Económico de hoje:
A chanceler alemã estará hoje em Lisboa cinco horas. Cercada por segurança máxima, estará com Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho e numa conferência com empresários.
Embora curta, a visita tem o seu significado. Não por aquilo que Merkel tem para dizer, mas pela oportunidade de lhe fazer um conjunto de pedidos cara-a-cara.
O primeiro é mais sociológico. É necessário explicar a Merkel que nós não somos um povo desgovernado e irresponsável que tem de ser castigado pelos protestantes do Norte da Europa, depois de uma década a viver do crédito. Os números do endividamento externo do país são a melhor prova de que ocorreram exageros. Porém, foram em grande parte motivados pelos incentivos vindos de uma União Europeia comandada pela ortodoxia alemã. Durante anos, os juros fixados pelo BCE foram demasiado baixos para a situação da economia nacional, empurrando as famílias e as empresas para uma situação financeira insustentável. Mas os juros foram sempre fixados tendo em conta os interesses dos grandes Estados europeus.
O segundo pedido é político. Desde a sua origem, o projecto de uma Europa unida tinha dois objectivos complementares: evitar novas guerras promovendo o crescimento económico e o desenvolvimento social. A Europa vive o maior período de paz de sempre e, apesar de alguns recuos, estamos todos mais ricos do que na altura. Perante a actual crise, é necessário recuperar os dois objectivos fundadores e esquecer a teoria de que o empobrecimento é bom e virtuoso. A integração europeia - o euro - só faz sentido se permitir o desenvolvimento dos Estados-membro. Caso contrário, ninguém quer esse caminho. Portanto, é necessário voltar às políticas que promovam o crescimento económico.
O terceiro pedido é económico. Os portugueses não recusam fazer o seu ajustamento financeiro e económico. Prova disso é que já estão a suportar o maior agravamento fiscal e os cortes nas prestações sociais mais drásticos da história recente. Mas esperam solidariedade do resto na Europa. Nomeadamente, com juros e prazos para pagar os empréstimos externos mais favoráveis, o que permitirá libertar dinheiro para medidas para estimularem o PIB potencial da economia. E depois mais investimento estrangeiro dos países do Norte da Europa que estão a ganhar muito com a crise dos periféricos, conseguindo condições de financiamento nunca vistas.
A conversa com a chanceler alemã pode ser muito rica desde que os políticos nacionais tenham a coragem de levar uma agenda bem preparada e que defenda os interesses de Portugal. Que se saiba, até agora tem sido mais Merkel a falar e Passos Coelho a tomar notas. Os resultados não aparecem. É altura de mudar de estratégia. Até porque, como disse Merkel, a crise está longe do fim. E o FMI já avisou: a tempestade vai chegar a Berlim.
Alguém explica
Quando os políticos têm que vir explicar as suas próprias palavras, não é muito bom sinal. Este fim-de-semana, António José Seguro sentiu a necessidade de sublinhar novamente que o PS não é contra a reforma do Estado Social, mas opõe-se ao corte dos quatro mil milhões de euros na despesa. Seguro não necessita de repetir porque todos já perceberam. A questão é outra: para que serve a reforma do Estado se não permitir reduzir os gastos públicos? Isto é que o secretário-geral dos socialistas devia explicar ao pormenor.
Imagem do Económico
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