Quando, em análises gerais e abstractas, se atribuem vícios e erros aos políticos, de forma abrangente, nunca devemos esquecer de que há excepções, como em toda a regra. Temos que admitir que existem políticos que são homens com sentido de Estado e que não cedem a irregularidades no respeitante aos deveres da POLÍTICA com maiúsculas e, quando evidenciam as suas qualidades positivas, devem ser destacados e elogiados, pelo exemplo de dignidade que representam.
Vem hoje no Público a notícia de que João Correia Secretário de Estado da Justiça demitiu-se por identificar uma “cultura contra a Justiça” e refere-se a entrevista dada pelo próprio ao jornal «I», em que afirma sair porque o objectivo central, quer do convite quer da sua permanência no Governo, era contribuir para as reformas, nesta fase delicada da administração da Justiça em Portugal, que lhe foi entregue a missão de concretizar a reforma do mapa judiciário, fazer a reforma do processo civil, do processo penal, da lei da arbitragem. E que, além do mandato que recebeu, inovou também ao nível dos tribunais da concorrência, regulação e supervisão e tribunal da propriedade intelectual, para além das normais miudezas de qualquer ministério, que resultavam da tutela da direcção-geral da administração da justiça, da reinserção social, do instituto de medicina legal, da comissão para a protecção às vítimas de crimes violentos.
Deve salientar-se que, apesar de ter formalizado o pedido de demissão no dia 22 de Novembro, teve o cuidado de, por razões de fidelidade, coerência e respeito pelo Governo, isso não ser publicitado até que fosse votado o Orçamento, para não criar ruído, para isso não poder ser aproveitado como um factor de enfraquecimento da política do Governo no seu todo.
João Correia evidencia, desta forma, elevado teor ético, sentido de missão, da honra, da dignidade, do dever. Um governante exemplar deve colocar o Estado, o Portugal de todos os portugueses, acima das tricas partidárias, acima das pressões que têm levado à impunidade dos políticos.
Como cidadão português, presto a minha homenagem a este exemplo de bom português que não se vende por mordomias ou por tachos dourados.
Imagem do Público.
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