Transcrição de artigo que mostra que o poder é friável, isto é desfaz-se em areia e escapa por entre os dedos. É pena que, com tal fenómeno, esteja em risco o futuro de Portugal, dos portugueses, sem que os partidos dêem a isso a devida prioridade.
O buraco negro
Jornal de Negócios. 15 Novembro2010. Por Fernando Sobral
Os partidos são tribos. Agregam interesses, incentivam cumplicidades, promovem os fiéis.
Os partidos são clubes de oportunidades. Antigamente os cidadãos juntavam-se neles devido à comunhão de ideias. Através delas tentavam mudar o mundo. Agora são forças que têm um único objectivo: obter o poder e geri-lo em seu proveito. Na idade da imagem precisam de líderes fortes que seduzam os cidadãos eleitores.
Os partidos são gulosos. Adoram o doce do poder. Por isso deixaram de ser territórios de debate de ideias, de confronto de opiniões, de liberdade de pensamento. Quando entram em guerra civil é porque o poder está a esboroar-se ou está demasiado longe.
Olhe-se para o que se passa no PS neste momento. Até há uns meses Sócrates liderava um partido que parecia a Roménia de Ceausescu: nem uma voz discordante se escutava na planície. E as poucas que o tentavam fazer eram ostracizadas ou atiradas para a penúltima fila da bancada parlamentar.
Mudam-se os tempos e mudam-se as vontades. O PS sente o poder a fugir-lhe entre os dedos e Sócrates deixou de ser o líder omnipotente e omnipresente. Abriu a caça à sucessão dentro do PS. Ainda não se atira directamente sobre Sócrates. Dispara-se sobre Teixeira dos Santos.
Mas o PS que vive do poder move-se. O drama é que não se vislumbram ideias que motivem a discussão sobre o futuro de Portugal, o seu modelo político e económico, ou o destino dos seus cidadãos.
A crítica a Sócrates nada tem de ideológico. Tudo tem a ver com poder. Sócrates não tem de se queixar: ele é o expoente do buraco negro que é a política moderna.
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