Transcrição de artigo que vem ao encontro de posts recentes aqui publicados:
Começou a era pós-Sócrates?
Jornal de Negócios. 15 Novembro2010. Por Camilo Lourenço
Luís Amado é um dos melhores ministros do Governo.
Alguém que alia profundidade de pensamento a bom senso. É por isso que deve ser escutado com atenção. A entrevista ao "Expresso", em que propõe uma coligação para dar estabilidade política e social ao país, é uma manifestação do pragmatismo que o caracteriza. Mas é mais do que isso. Ao dizer o que disse, Amado está a sugerir que a era Sócrates chegou ao fim. Porque essa coligação alargada, sabe-o Amado e o núcleo duro do primeiro-ministro, só é possível com Sócrates fora do Governo. Porque foi o próprio que recusou negociar uma coligação depois das últimas eleições (apesar de ter dito o contrário em Macau).
A proposta é exequível? Não.
1. Primeiro porque Sócrates está tão agarrado ao Poder que não aceitaria deixar a outro (Teixeira dos Santos, Luís Amado…?) a implementação de uma estratégia exactamente oposta à que defende.
2. Segundo porque mesmo que Sócrates saísse, a nomeação de um primeiro-ministro sem a legitimidade do voto, ainda que constitucionalmente aceitável, seria um risco que o Presidente da República dificilmente aceitaria correr. Mesmo sabendo que um dos partidos com deputados suficientes para garantir maioria no Parlamento, o CDS-PP, está disposto a fazer uma coligação com o PS (o fiasco Santana Lopes ainda está fresco…).
Moral da história: Luís Amado está perfeitamente ciente das dificuldades associadas à sua proposta, mesmo sabendo que tem o apoio de muitos soaristas. Mas ao torná-la pública está oficialmente a inaugurar o debate sobre o que deve ser o PS no pós-sócrates.
Imagem da Net.
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