Muito se tem falado da crise financeira global, mas raramente são focadas de forma aberta e clara, perceptível ao cidadão comum, os seus contornos, as suas causas e apontadas pistas para ser evitada a sua repetição.
No entanto, quem não se prenda às palavras dos entendidos, geralmente tendenciosos, por fazerem parte do problema, e começar a pensar, colocar interrogações e tentar procurar respostas, começa a ver que o problema não é tão simples como querem mostrar nem a solução é fácil porque os fautores da crise não estão interessados em moralizar o sistema.
Por onde andaram os eméritos economistas que deixaram chegar a imoralidade, a ilegalidade de procedimentos gananciosos em busca de dinheiro fácil e avultado, ao ponto de lesar todo o ser humano, principalmente aqueles que já tinham pouco a perder e que ficam sem nada? Assistiram impávidos e serenos ao desenrolar da actividade financeira sem regras nem princípios nem valores éticos nem respeito pelos seres humanos menos protegidos, sem a sua elevada inteligência vislumbrar os perigos que viriam a resultar dessa imoralidade. Muitos deles, senão todos, estariam interessados nos benefícios advenientes de tal situação caótica que não olha a meios para obter riqueza.
Se as crises devem ser aproveitadas para fazer remodelações profundas, qualquer voz de viciados no sistema que se opõem a soluções que lhes façam perder regalias deve ser sonoramente rebatida, com argumentos convincentes. Espera-se que isso aconteça, e já há sinais de mudança. Começa a aparecer no horizonte uma onda reactiva a exigir a reforma do sistema. Há que garantir segurança, confiança e capacidade de planear o futuro, sem o receio de riscos incomportáveis.
Na sexta-feira 7 de Novembro, após uma reunião com os seus homólogos dos países dos BRIC (Brasil, China, Índia e Rússia), o ministro brasileiro da Economia, Guido Mantega , declarou que os principais países emergentes, do BRIC, querem "uma reorganização do sistema financeiro mundial". Segundo ele, estes países consideram que o G7, que reúne as economias mais avançadas, não pode enfrentar sozinho uma crise como a que afecta actualmente todas as economias. O G20, grupo dos países mais industrializados e potências emergentes, devia ser reforçado para supervisionar o grupo dos países ricos. Porém, estes também não devem considerar-se donos do mundo e ditar leis à medida dos seus interesses, ignorando todos os outros, mais necessitados. Há que fazer convergir todas as boas vontades mesmo vindo dos países mais pobres.
No comunicado conjunto do BRIC consta, entre outros alertas, que "a crise revelou a fraqueza da gestão dos riscos, da regulação e da supervisão dos sectores financeiros de algumas das economias avançadas", "consequentemente, apelamos a uma reforma dos quadros de regulação e de supervisão, assim como a regras mais claras e à transparência".
Também o presidente do Banco Mundial (BM), Robert Zoellick , afirmou no sábado que os países do G20 estão perto de um consenso sobre a necessidade de reformar o sistema financeiro, numa altura em que as economias estão a entrar "numa zona de perigo. Zoellick afirmou aos jornalistas, à margem da reunião ministerial do G20, que reúne os países mais avançados do Mundo e os grandes países emergentes, que todos defendem a necessidade de uma resposta coordenada à crise financeira mundial. Parece que há consenso quanto à criação de uma nova arquitectura financeira mundial.
No entanto, em Portugal, reina a apatia e a ausência de posições claras e bem explicadas para informar de forma correcta os cidadãos. Antes, abundam as mentiras «piedosas» que, ao serem contraditórias, perdem credibilidade e agravam as preocupações das pessoas anónimas e dos agentes económicos. No entanto, merece justificado realce a Dr Maria José Morgado , directora do DIAP, que, como aqui já foi referido , preconiza "a eliminação dos paraísos fiscais", que agindo à margem da lei e da ética, servem de apoio a actos criminosos de vária ordem, e até do terrorismo que usa técnicas do crime económico.
Esses paraísos poderão ser apenas uma pequena ponta do iceberg constituído pelas actividades perversas do actual do sistema financeiro mundial que age sem controlo, regulação e supervisão eficazes, com a táctica do «salve-se quem puder» ou glosando a imagem de um humorista brasileiro, «enriquece hoje porque amanhã poderá não ser possível». Mas eles, tal como qualquer outra actividade nociva à segurança financeira dos pequenos aforradores e agentes económicos devem se banidos sem dó nem piedade.
Sócrates de novo
Há 1 hora
2 comentários:
Caro João,
Falar apenas da reforma do sistema financeiro ou da reformulação das teorias económicas é fazer a casa pelo telhado.
O problema começa nos gabinetes e escritórios dos administradores e directores das empresas, portanto o verdadeiro problema está nas práticas de gestão! A raiz do problema está na forma como se gerem e criam os negócios, na forma como se ensina e pratica gestão nos nossos dias. Se não atacarmos o problema pela raiz de nada vale a maior reforma que queiram fazer, pois a economia, de determinada época e local, é construída pela forma de gerir os negócios.
O professor Henry Minzberg preconiza que se comece a questionar a forma de ensinar Gestão e que estejamos mais atentos às universidades, como forma de solucionar os problemas actuais. O grave é que ninguém fala disto!
De que vale reformar o sistema se os gestores vão continuar a ser ensinados da mesma forma?!
Caro AP,
Compreendo a sua preocupação.
Mas discordo de começar a casa pelo telhado. O pintor antes de fazer um risco, prepara a tela e imagina todo o quadro que pretende pintar. O arquitecto, antes de desenhar os pormenores do prédio esboça o conjunto e depois coloca os apartamentos e, nestes, os quartos e salas, conforme a mobília que lá deve ser colocada.
É verdade que em cada passo se visualiza o conjunto para que tudo resulte harmónico e coerente.
Os bairros clandestinos construídos casa a casa nos arredores de Lisboa, deram muitas dores de cabeça para se tornarem mais habitáveis, apesar das ruas tortuosas.
Ora vejamos, a organização de qualquer sistema tem de começar pelos objectivos e, em face deles cria-se um esquema geral o esqueleto em que se dependuram os diversos sectores que, com tarefas específicas, contribuem para o resultado pretendido.
No caso da economia, não é possível uma empresa desenvolver-se se não souber em que tipo de sociedade se encontra - se em economia de direcção centralizada, estatizada, como a que deu mau resultado na União Soviética ou se, pelo contrário, em economia de mercado, sem intervenção do Estado sujeita a especulações selvagens, ânsia descontrolado do lucro, paraíso fiscais, etc. que também agora está a mostrar maus resultados. É preciso definir as linhas gerais em que as finanças e a economia se passarão a movimentar, para em função disso, as empresas serem geridas da melhor forma. E as suas actividades devem ser controladas para se evitar procedimentos imorais e ilegítimos que gerem prejuízos para o todo em geral.
A gestão das empresas é fundamental, mas esta também deve obedecer a normas morais. Os interessados no bom funcionamento de uma empresa não são apenas os accionistas, mas também os trabalhadores, os fornecedores, os clientes e a população das vizinhanças, além dos familiares dos trabalhadores. O ambiente externo contribui muito para a imagem da empresa e para o bem-estar dos trabalhadores.
Enfim, é um problema complexo que deve ser sempre equacionado situando o caso particular no panorama conjunto, alargado da região, do País e do mundo.
Nem se deve olhar apenas para o telhado nem só para os alicerces. O conjunto é interactivo e não pode ser perdido de vista globalmente.
Muito se pode dizer quanto às linhas gerais e quanto aos pormenores locais de uma empresa com os seus problemas específicos.
Abraço
João
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