Notícias de hoje dizem que as últimas chuvas colocaram em sério risco de desabarem duas casas no bairro da Serra da Luz do concelho de Odivelas, às portas de Lisboa. Este perigo já foi detectado há muitos anos.
Há cerca de 15 anos, estava à frente do Serviço Municipal de Protecção Civil de Loures que foi então criado e estava a ensaiar os primeiros passos, com todas as carências de material e de pessoal preparado, e ia frequentemente, ou por iniciativa própria ou a pedido de Juntas de freguesia ou populares, visitar pontos de maior vulnerabilidade do Concelho. Nestas actividades, visitei o referido bairro, que fica na encosta entre o quartel de Engenharia da Pontinha e a estrada Carriche, por trás do cemitério de Carnide. As casas construídas clandestinamente assentavam num aterro não consolidado, formado por despejos de material de obras, na orla Norte da Estrada Militar construída como última linha de defesa contra as invasões francesas, ligando, os quartéis de Sacavém, Ameixoeira, Paiol de Forno de tijolo, Pontinha, Amadora, Caxias e Forte de S. Julião da Barra. A única consolidação do aterro era a proveniente do peso das camadas mais recentes sobre as anteriores.
Nessa visita constatei o amontoado das casas na encosta, com veredas muito estreitas entre elas quer na horizontal quer no declive da rampa. Havia muitas casas com a base das paredes desapoiadas em virtude de a terra se ter escapado pela encosta. O perigo de desmoronamento era sério. E, como nessa altura tinha chegado a notícia de que nos subúrbios do Rio de Janeiro as chuvas provocaram um deslizamento de terras que destruíram uma favela causando a morte a inúmeras pessoas arrastadas pelas ruínas das casas, tive o cuidado de conversar com o Presidente da Câmara chamando-lhe a atenção para todo este perigo eminente. Não me pareceu muito decidido a actuar, até porque o problema não era fácil. Insisti que os serviços respectivos deviam dedicar a devida atenção ao caso. Pelos vistos, até hoje não houve uma intervenção eficaz e a situação foi-se mantendo, com agravamento, excepto em pontos em que os proprietários com mais posses e mais conscientes do perigo inseriram cimento em alicerces mais desapoiados.
Para quem viage, sem pressa, na CRIL entre a Pontinha e Odivelas, essa situação é bem perceptível à direita da estrada, para lá da ribeira. Os exemplos de deslizamentos de terras no estrangeiro devem ser experiências a analisar e a utilizar na apreciação de situações como esta.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Casas em perigo na Serra da Luz
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3 comentários:
Para melhor compreensão do problema deste bairro, transcrevo o seguinte texto do jornal PÚBLICO
Dois prédios já foram evacuados
Odivelas:
mais de 180 edifícios em zona de risco na Serra da Luz
Público
Existem 186 edifícios no Bairro da Serra da Luz construídos em zona considerada não apta para construção, revelou hoje a presidente da Câmara de Odivelas, Susana Amador, em conferência de imprensa.
A revelação surge após terem sido evacuados dois edifícios na Rua D. Afonso Henriques, na Serra da Luz, durante a manhã de hoje, devido a perigo iminente de derrocada após o temporal de segunda-feira.
De acordo com a autarca, está já pronto um plano de requalificação da vertente sul do concelho, onde se situam a maioria dos bairros clandestinos de Odivelas, que a autarquia tentará realizar em breve.
Contudo, o avultado investimento que o plano acarretaria, na ordem dos 50 milhões de euros, bem como a escassez de meios financeiros do concelho tornam necessária a comparticipação financeira do Estado na requalificação.
Os dois lotes na Rua Dom Afonso Henriques evacuados apresentam paredes com tijolos à vista, muitos deles partidos, marcas de infiltrações de água e contam com escadas escuras e íngremes como único acesso a alguns dos andares. As casas têm, na sua maioria, duas ou três divisões e há casos em que a casa-de-banho foi construída na varanda ou está mesmo situada fora da habitação.
NOTA: Odivelas pertencia ao concelho de Loures e foi recentemente tornada Concelho
Provavelmente, daqui a alguns anos a situação ainda estará por resolver... somos um País de causas adiadas....
Grata pela partilha
Um abraço ;)
Cara «Poesia», (Sulista, Otília?)
Esta situação não aguenta muitos anos. Há 15, já era grave e admira como ainda não houve uma catástrofe. Agora vão demolir duas casas e será errado reconstruir no mesmo local, pois o bairro precisa ser redesenhado com as fundações devidamente preparadas em socalcos, o que pode custar cerca de 50 milhões de euros como refere a autarca.
Ao demolir estas duas casas há grande risco de fazer ruir as vizinhas porque tudo está sobre «areia», e poderá desmoronar-se como um castelo de cartas.
Oxalá não se percam vidas, como no desmoronamento da favela do Rio que refiro no texto.
Abraço
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