Quem costuma ler os meus textos com assiduidade já se deve ter apercebido de que procuro ser sereno, racional, sem me deixar dominar por entusiasmos fáceis, evitando conflitos, radicalismos e extremismos, procurando sempre o império do bom senso, através da compreensão e do diálogo calmo. Mas também tenho dito que, dado o desgoverno da sociedade que, por motivos vários, tem sido anestesiada, permanecendo numa modorra, em que predomina a indiferença, a apatia e o desleixo, torna-se necessário um abanão que a faça acordar e passar a utilizar os neurónios individuais, resistindo a manipulações exteriores. Uma análise sem nada de profética conduz à conclusão de que as próximas gerações, depois de acusarem os seus pais e avós do estado degradado em que recebem o País, hão-de restaurá-lo, certamente à custa de actos disciplinadores, didácticos, moralizadores, que poderão atingir alguma violência e repressão.
Hoje, ao folhear um diário, reparei, de passagem, numa notícia sobre a intenção de estudantes universitários da extrema-direita liderarem as associações académicas. Se, por um lado, é uma luz de esperança para o restaurar da cidadania, o acordar da sociedade, o consciencializar da juventude para a sua responsabilidade de preparar o Portugal do futuro, por outro lado, causa preocupação e receio o adjectivo «extrema». Mas, sem exaltação nem expressões inconvenientes, os responsáveis políticos devem reflectir sobre a situação actual da sociedade e o significado desse movimento. Em vez de reagirem considerando-se ameaçados, devem rever os seus comportamentos e atitudes, com vista à sua evolução no sentido da modernidade e deixarem de se manter arreigados aos seus métodos habituais, como «velhos do Restelo» ou «botas de elástico». Aquilo que podia estar certo (se é que esteve) ontem não o estará obrigatoriamente amanhã.
É preciso muito bom senso (coisa rara nos políticos), aceitar as realidades, os ventos da história, as reacções lógicas dos jovens, e contribuir para que estas possam evoluir no melhor sentido do desenvolvimento da sociedade, sem solavancos nem actos falhados. Já estamos fartos de avanços e recuos, como os dos ministros da Saúde, da Educação, dos Negócios Estrangeiros, e outros.
Também muito sintomático, no mesmo sentido da necessidade de recuperar o culto de valores éticos e cívicos, ultimamente tão esquecidos, é o resultado da votação para o «melhor português». Concorde-se ou não, são números a ter em consideração, em qualquer análise do estado de espírito da actual sociedade portuguesa, e, democraticamente, merecem, tanta consideração como os que deram a vitória ao Partido Socialistas nas últimas eleições legislativas. A voz do povo não deve ser respeitada numas circunstâncias e rejeitada noutras. O Poder não pode passar ao lado daqueles resultados sem deles tirar as devidas ilações,. (vejam-se os comentários a um post em A VOZ DO POVO sobre este concurso da RTP1)
El País
Há 1 hora
Sem comentários:
Enviar um comentário