terça-feira, 27 de março de 2007

INTERPRETAR A VOTAÇÂO

Transcrevo este artigo do Diário de Notícias, por achar uma observação judiciosa. E, por corresponder ao meu comentário já antes colocado no Democracia em Portugal, transcrevo este na parte final.

Interpretar a votação
Rosado Fernandes, Professor universitário (jubilado),Defensor do Marquês de Pombal no concurso da RTP

É difícil compreender o espanto provocado pela votação obtida, num concurso dos Dez Maiores Portugueses de Sempre, pela figura de Salazar. Os mais de 41% surpreendem-nos de facto. Pensando com um mínimo de racionalidade, teremos de nos perguntar se esse grupo de votantes era constituído unicamente por velhos "salazaristas". Todos sabemos que não. Muitos nunca o foram, antes pelo contrário, o que ainda torna o caso de relevância política mais melindrosa. A grande maioria quis exprimir o seu protesto e o medo pelo futuro que a espera. Depara-se-lhe o espectáculo da corrupção permanente, sem que se queira um sistema de Justiça que julgue os infractores. No sector da economia, sucedem-se as falências, a fuga das empresas para outros países, sem que, perante o desemprego, se dê importância ao ensino profissional ou à nossa agricultura, que é acusada exclusivamente dos subsídios que recebe, enquanto as comissões dos grandes negócios se escondem. Sabe-se que o aparente bem-estar instalado provém do endividamento das famílias e da dívida externa. A maioria, portanto, sente--se insegura, sem instrução, e pensa: "Já lá vão 33 anos"

É o preço da liberdade, dizem-lhe. Mas ela não acredita que leve tanto tempo e por isso votam muitos dos seus cidadãos como votaram. Mal! É certo. Mas é admissível também que protestem por querer que alguma confiança na vida lhes seja proporcionada.
Defensor do Marquês de Pombal no concurso da RTP

COMENTÁRIO EM «DEMOCRACIA EM PORTUGAL»

Temos liberdade de opinião e ninguém é impedido de aqui colocar a sua.

Será conveniente começar por constatar que este programa de escolha do maior português foi uma estupidez inqualificável. Não se pode comparar um estadista, com um poeta, um cientista, um artista, um desportista, etc. E, mesmo nestas categorias, é impossível escolher entre pessoas de estilos diferentes.
Á falta de um critério objectivo aplicável a cada um do candidatos ao pódio, a escolha acaba por depender apenas e critérios subjectivos de quem escolhe, de quem faz a avaliação.
Neste caso, parece que só seria correcto escolher pela altura de cada candidato ao título, mas essa não foi divulgada!!!

Mas o que agora tem interesse é apreciar a forma como os que se dizem democratas não aceitarem a vontade dos eleitores. Foi o povo quem escolheu, tal como tinha sido o povo que escolheu o PS nas últimas legislativas, tal como foi o povo que escolheu o PR, tal como escolheu os autarcas.

Não está correcto confessar-se democrata e criticar a escolha do povo, por não concordar com ela. A democracia tem destas coisa.
Se consideram a escolha errada, nunca todos concordaram com qualquer resultado de qualquer eleição. Mas mesmo que não concordemos, nada devemos fazer contra a vontade popular.

Mas, há uma atitude mais inteligente a tomar que é procurar compreender as razões que levaram tanta gente a decidir de tal forma. Há quem diga que o povo votou no PS porque não gostava do Santana Lopes, e agora pode ter acontecido fenómeno idêntico.
É preciso pensar nesse fenómeno e tirar daí as melhores conclusões para o País.

Perder tempo a criticar o que ocorreu há mais de 40 anos pouco adianta se daí não forem tiradas lições úteis para a governação de hoje e de amanhã. Sejamos coerentes e usemos os neurónios da maneira mais útil para o futuro do nosso Portugal.

Os tempos de mudança estão a chegar e seria bom que as mudanças fossem conduzidas para os melhores efeitos a favor da generalidade dos portugueses e não apenas de alguns ligados o Governo e à Autarquias.

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