Artigo extraído de ecos e comentarios pelo seu interesse referente a Alcobaça e sua simbologia, e também por nos mostrar como é feita a nossa história, baseada em factos pouco edificantes do ponto de vista ético. Parece que o nosso povo, na generalidade não é sério, apoia a corrupção e a vigarice, acha que os malfeitores são uns tipos espertos e com muita habilidade. Há poucos dias, o PGR disse que a população não condena a corrupção, o que vem ao encontro daquilo que se passou nas últimas eleições autárquicas em que foram eleitos candidatos, sem apoio dos partidos e com processos pendentes em tribunal por suspeitas de ilegalidades ocorridas nas suas funções de autarcas.
É imperioso dinamizar o civismo e a ética a todos os níveis. Para isso, os blogues têm um papel importante a desempenhar. É preciso exercer uma acção crítica sensata e sem perder tempo, com perseverança e acutilância. É necessário referir e fazer transcrições daquilo que é dito noutros blogues, fazendo uma frente única e inquebrantável. Unidos seremos fortes.Os crimes de Pedro e Inês
Parte do passado está contado por historiadores, que à falta de métodos de investigação, reproduzem questões que não entendem. Aliás, a ciência é entendida, neste meio e em Portugal, por saber coisas: quando nasceu um rei, quais as amantes que teve , os caminhos por onde passou, divagar sobre loiças e cacos sobre a disposição de pedras, etc.. Trata-se de um saber que não passa de bisbilhotices (...)
Salvo raras excepções, a historiografia portuguesa, está escrita e reescrita baseada em mitos, que se reproduz num sintoma de esterilidade intelectual e evasão pelo sonho. Chega-se a historiador abordando temas por clonagem e onirismo e, de palpite em palpite, se escrevem livros perpetuando vacuidades. Com eles chega-se a catedrático ou a presidente de academias. E, num ápice, este tipo de prosa faz-se “best-seller” em edições bibelot, vendidas de porta em porta por editoras que fazem dos leitores sócios.Em Alcobaça , há quem publicite o número de livros que escreveu. Num país ainda caracterizado pelo elevado número de iletrados, este exibicionismo parolo é eloquente (...) .
Assim, a “fábula de Pedro e Inês”, passou para a memória colectiva como um mito de amor que, em qualquer parte do mundo civilizado, consubstancia um crime, sendo que as prisões em Portugal estão cheias de casos “de amor” semelhantes. O mito longe de ser um fenómeno exclusivamente da imaginação é também uma atitude intelectual que se desenrola necessariamente no âmbito dos poderes factícios, e para sociedades tradicionais como a portuguesa, não é apenas uma realidade objectiva. Este género de visão infantil ou pré-moderna é a única revelação válida da realidade. Assim, os mitos são uma espécie de sonhos colectivos, onde se fixam normas exemplares de procedimentos e actividades humanas significativas, que equivalem a esquemas mentais concretos e sintetizam a ideologia de um povo e a sua cultura. Não são explicações que satisfaçam uma curiosidade científica, mas relatos que revivem uma realidade original de aspirações morais. Vejamos então este ponto: um homem casado pela igreja, com uma mulher, assedia sexualmente outra praticando adultério. A assediada atraiçoa a patroa dormindo com o patrão. Entretanto o pai do galante manda matar a amante do filho. O filho enraivecido, lança o reino numa guerra civil, saqueia cidades e as terras dos assassinos, matando-os com requintes de sadismo, arrancando o coração pelas costas a um, e como se isto não bastasse, desenterra a morta anos depois, obrigando os súbditos a beijar a mão do cadáver em decomposição. Cenografa então uma coroação digna de um filme de terror, ou de práticas satânicas. É isto uma história de amor? Adultério, traição, assassínios, mortes, violência, sadismo e práticas de necrofilia? É preciso ser-se muito inculto ou até mentecapto para ver nestes actos modelos exemplares de moralidade e, na memória de Pedro e Inês, as virtudes que promovem a terra (Alcobaça) como se pretende com um logotipo.
É ainda curioso como estas duas criaturas estando em verdadeiro pecado mortal segundo as leis de Deus, estejam num templo católico, junto do altar, a presidir a todas as cerimónias religiosas.
Lamento que instituições de respeito como são a Igreja Católica, o Estado e as escolas tenham perdido o sentido ético e, estejam completamente desnorteadas. Se assim não fosse, não se via, por vezes, em Alcobaça, os estabelecimentos de ensino a representar a cena satânica e necrófila do beija-mão e a Câmara a apoiar este tipo de iniciativas em nome da cultura, agora também na forma de um logotipo. Estes procedimentos contrariam as campanhas anti-violência que se fazem pelo mundo fora, com a agravante de se utilizar crianças e adolescentes. Depois, lamentam-se alguns da violência dos alunos nas escolas.
Esta história tolera-se em crianças, mas infantilidade em estado adulto chama-se imbecilidade. (...) Por isso sugere-se (...) aos que escrevem nos jornais locais, que se centrem nos quistos de que a terra enferma e não divaguem sobre coisas que não dominam. Por certo ajudariam a combater a ignorância do vulgar e fariam um bom serviço à comunidade, além de transformar os jornais locais e a terra em pontos de encontro sadios”.
terça-feira, 20 de março de 2007
OS CRIMES DE PEDRO E INÊS
Falar da fábula “os amores de Pedro e Inês” é desvelar a mentalidade portuguesa num dos seus pilares estruturais – a mitogenia- que, no dizer de Cunha Leão, “alastra Portugal de lés a lés”.
Ps. todo o comentário bem disposto e elevado é bem vindo.
Publicada por A. João Soares à(s) 22:40
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