Pessoalmente, nada tenho contra ou a favor de cada uma destas localidades. Mas, como cidadão, procuro compreender as posições antagónicas que chegam ao meu conhecimento. O grupo do Amigos de Olivença, movido por um patriotismo tradicional e respeito pela História, está interessado na sua reintegração no território português, mesmo que essa solução possa não agradar aos respectivos habitantes.
Pelo lado oposto, quanto à região de Elvas, existem pessoas que consideram grande insensatez terem de pagar impostos a Portugal e serem apoiados por Badajoz quanto a maternidades e outros serviços de saúde, aquisição de combustíveis e outros produto de consumo e de equipamento, no mercado local. Se beneficiam de tais apoios em Espanha, fica gravemente afectado o sentimento de nacionalidade desta população raiana, principalmente quando os seu filhos e netos nascem além fronteira, sendo levada a considerar mais lógico e coerente pagar ali os seus impostos. É assim difícil de digerir esta contradição entre a vontade do retorno de Olivença e, por outro lado, a entrega informal de Elvas e sua região a Espanha (Badajoz).
Embora todos estejamos integrados na EU, na verdade, nem todos estão verdadeiramente integrados na modernidade e na excelência dos serviços, devido a diferenças de eficácia e competência dos governantes, ao longo das últimas décadas.
Estava a magicar nestas reflexões quando deparei com as notícias referentes ao interesse da nossa juventude em aprender espanhol e em ir estudar para Salamanca e a Estremadura. O Diário de Notícias refere este fenómeno, e vai ao ponto de dizer que o ensino de espanhol triplica.
Segundo estas notícias, a procura do castelhano disparou nas escolas públicas do Alentejo e já atinge números considerados "surpreendentes" pelos próprios professores. No total, existem 2477 alunos a estudarem espanhol, repartidos por 280 turmas, quando em 2004 não iam além dos 786 estudantes e 48 turmas, segundo dados revelados pela Direcção Regional de Educação. Ou seja, o ensino de espanhol triplicou em dois anos.
O distrito de Portalegre lidera este ranking regional, funcionando 124 turmas frequentadas por 1191 alunos, contra os 867 do ano passado, sendo curioso que nas escolas do distrito de Beja é onde se regista o maior aumento. As 217 matrículas de 2005/2006 subiram para as 657 no corrente ano lectivo, estando a funcionar 43 turmas. Évora acompanha a tendência, tendo 629 alunos de castelhano, quando há um ano tinha 427.
Os antepassados devem a estar a dar voltas no túmulo. A linha que separa os dois países já foi tão forte que um dos mais famosos combatentes da independência nacional, Nuno Álvares Pereira, orgulhava-se de andar por aquelas bandas com o título de "fronteiro--mor". E, do outro lado, uma das regiões que confinam com o nosso Alentejo tem por nome Extremadura, que quer dizer isso mesmo, fronteira, coisa que afasta, não junta. Também Deuladeu Martins. João Pinto Ribeiro e os conjurados de 1640, João I e Nuno Álvares Pereira, Salazar e o eu ponderado distanciamento da Guerra Civil de Espanha como é historiado por Iva Delgado filha do general sem medo, são factos históricos atirados para o esquecimento, perante estas alterações de sentimentos e comportamentos. Hoje não é necessária Aljubarrota ou Atoleiros, pois os objectivos têm estado a ser conquistados sem violência e com o desinteresse de muitos. Que dizer do nosso ministro que se confessa iberista? E do ministro da Saúde que manda as alentejanas parir em Badajoz?
A sociedade está totalmente alterada e não são poucos os garotos de 12 e 13 anos que disseram ao DN que planificam os seus estudos tendo em conta que há Lisboa e Coimbra, mas também as universidades da Extremadura e de Salamanca. E, aliás, acham que estas lhes irão dar mais jeito.
El País
Há 2 horas
2 comentários:
Eu humildemente tenho perguntado a alguns colegas de trabalho espanhois, se a situacao fosse inversa eles quereriam mandar vir parir as suas esposas a Elvas?
Calculo que ja devem saber a resposta!
Um pouquinho mais de "Patriotismo" necessita-se urgentemente!
Caro Amigo Cardoso,
Mas esse patriotismo não pode ser esperado dos políticos, principalmente dos actuais. Porque o seu portuguesismo resume-se a uma partícula muito minúscula - o seu próprio umbigo.
Temos que ser nós, cidadãos conscientes, a despertar sentimentos positivos nas populações a que possamos ter acesso.
Um abraço
A. João Soares
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