Governar não é sonhar. É preciso ter os pés assentes na realidade
Há notícias que nos caem em cima com tal agressividade que não podem passar despercebidas, por mais que queiramos ignorar os absurdos que ocorrem até à linha do horizonte. A mais recente veio da área da Justiça, de onde, de uma forma ou de outra, já pouco nos pode surpreender. Parece que desde há meses tudo ali está cada vez mais na mesma!
Agora, o ministro admite vir acabar com as férias judiciais! Quanto ao termo admitir, temos de convir que, em fase de estudo, antes de tomar uma decisão, são de admitir todas as modalidades de acção. Recordo um chefe que tive que, no momento de formular as eventuais hipóteses de solução, dizia com ar teatralmente solene: meus senhores, agora a asneira é livre. Efectivamente, nesse exercício de inovação e criatividade, poderiam surgir soluções pouco habituais mas boas e eficazes. Mas, logo a seguir, ao analisar-se cada uma das potenciais soluções elencadas, havia algumas que não mereciam dois segundos de análise. E, no fim, só saía do grupo a decisão do chefe, após este ter considerado todos os prós e contras de cada modalidade, e escolhido a melhor, ou menos má. O ministro não segue essa escola e, possivelmente, não segue qualquer escola de preparação de decisões.
E o mais grave é que não apresentou razões para «admitir» tal coisa. Pelo contrário, tanto o sindicado dos juízes como o bastonário da Ordem dos Advogados explicaram de forma muito convincente os inconvenientes de tal hipótese onírica. Como cidadão interessado no eficientemente funcionamento do País, não me custa aceitar as explicações dadas por juizes e advogados e considerar a «admissão» do ministro como o resultado de um sonho, um acto onírico de quem acordou com vontade de fazer figura, criar algo de novo, mesmo revertendo em prejuízo para o País (população em geral), com despesas evitáveis, inúteis e contraproducentes e que não constitui uma boa solução para um verdadeiro problema.
Imagine-se se a brilhante ministra da Educação resolve acabar com as férias escolares e permite a professores, alunos e auxiliares terem férias ao longo do ano, a seu prazer! E, por outro lado, isto passa-se numa época em que as empresas, grandes ou pequenas, resolvem fechar para férias do pessoal, por isso lhes ser mais vantajoso do ponto de vista da rentabilidade e da produtividade. Como o ministro beneficiaria em conversar com o Víctor do restaurante das arcadas do Estoril sobre o problema das férias simultâneas ou desencontradas. É que uns sabem e sentem o resultado das suas decisões, outros sonham e ousam «admitir» com a arrogância, a soberba, a vaidade, o autoritarismo de quem brinca infantilmente com o dinheiro dos outros (de todos nós).
El País
Há 1 hora
2 comentários:
Por ter escrito isto você já merecia 2 dias de férias! Não, não é um elogio, nem estou a aferir da qualidade ou da oportunidade da escrita... É só mesmo por ter escrito, por se ter dado ao trabalho... de tentar perceber um governo de montes de merda que não sabem - desde o primeiro dia - o que andam a fazer!!
P. S. Melhor 3 dias.
Abraço.
Fico muito grato pelos três dias de férias que generosamente me concede!
Caro amigo, é preciso sermos condescendentes e tolerantes em relação aos nossos digníssimos governantes. Eles têm boa vontade mas não sabem fazer melhor. Por mais que espremam o neurónio, ele não deita sumo.
Se fossem mais dotados não iam para a política, tinham feito carreira nas empresas do Belmiro de Azevedo ou no Millenium. Assim, dada a sua incapacidade seguem a política, esperando depois ir para uma instituição ou empresa de dinheiros públicos, ou para uma privada a quem tenham feito grandes favores (tráfico de influência).
Abraço
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