Este artigo de Stephen Kanitz, recebido por e-mail, é de grande actualidade e traz uma perspectiva estratégica da evolução do poder económico da Venezuela, com vistas largas a ter em consideração por toda a América Latina e pelos EUA. Um trabalho a ter em consideração por todos os estudiosos e, principalmente pelos governantes brasileiros.
A viagem do Bush ao Brasil
A vinda do Bush não tem nada a ver com o Brasil, muito menos com o etanol. Os Estados Unidos não querem estreitar os laços comerciais com o Brasil. Tentaram a ALCA, mas nós recusamos.
O Brasil representa um acréscimo de somente 4% de potencial de venda para uma empresa americana. O mercado americano teria representado um acréscimo de 2000% para uma empresa brasileira.
Quem tinha maior interesse na ALCA, as empresas brasileiras ou as americanas? Como não temos administradores no governo para fazerem estas contas, quem se opôs à ALCA fomos nós.
Bush vem ao Brasil para avisar dos perigos do Hugo Chávez. Vai lembrar que enquanto Chávez minava a ALCA, fechava acordos para vender 80% de sua produção de petróleo para os Estados Unidos. O inimigo atual do Chávez não é os Estados Unidos, é o Brasil.
Chávez quer unir a América Latina, para somente depois atacar os Estados Unidos. E, para unir a América Latina, ele está mostrando as injustiças e o imperialismo estatal brasileiro. Já convenceu Evo Morales a romper com a Petrobrás. Sua próxima cartada é fazer o Paraguai romper com a Eletrobrás.
Lentamente, ele vai encarecendo a matriz energética brasileira e enfraquece a economia brasileira. Chávez irá lentamente isolar o Brasil da América Latina.
Nós brasileiros, nunca nos identificamos com nossos vizinhos espanhóis, portanto a análise de Chávez é perfeita e fácil de realizar.
Poderá Lula conter o objetivo de Chávez? Chávez é inteligente, é um militar disciplinado, tem poder absoluto sobre a Venezuela e se manterá no poder até 2020. Lula é inteligente, não é muito disciplinado, não comanda sequer seu partido e só tem mais três anos e nove meses de mandato.
Fernando Henrique Cardoso desorganizou nosso exército, e a sociedade brasileira é hoje contra militares que precisariam agora nos defender. O Brasil ficará isolado da América Latina e do Mundo ao mesmo tempo.
Enquanto Lula gastou quatro anos querendo ser o líder do Terceiro Mundo, Chávez vai se consolidar como o LÍDER inconteste da América Latina.
Como sabemos, brasileiro nunca deu bola para a América Latina. Nosso povo e nossos empresários querem aprender inglês, e não espanhol. Nossos governantes e intelectuais querem aprender francês e tupi-guarani.
Bush vem dizer a Lula e aos brasileiros que Chávez é um problema brasileiro.
A tática brasileira de ameaçar apoiar a União Soviética para conseguir vantagens não funciona mais. O mundo não é mais bipolar, o mundo é um salve-se quem puder.
E neste cenário, o petróleo da Venezuela é mais importante do que a soja brasileira. Bush não vai comprar etanol brasileiro para substituir o petróleo venezuelano. Ele continuará a comprar petróleo da Venezuela fortalecendo a economia venezuelana.
Bush vem comprar matérias-primas do Brasil, como faz a China, e não produtos industrializados.
Para entender nosso futuro é necessário observar o mapa mundo abaixo.
É diferente de todos os que vocês conhecem, porque coloca a China no centro, e não Greenwich, Inglaterra.
Com a China se tornando o país que mais cresce do mundo, ela será o centro das atenções, e países como Japão, Índia, Coréia, Singapura e Austrália estão estrategicamente posicionados para serem fornecedores deste crescimento. A pouca distância está a Europa, Oriente Médio e pasmem – Seattle, Oregon.
Distante, bem distante, encontra-se a América Latina. O Brasil fica pior ainda por causa da Cordilheira dos Andes. Nossos navios precisam passar pelo Canal do Panamá, costeando a Venezuela, esperando na fila duas semanas. Nossos intelectuais, nossos comentaristas e jornalistas sempre foram contra a ampliação do Canal do Panamá, lembram-se?
O Brasil passa a ficar no fim do mundo cercado por países antagônicos como Argentina, Paraguai, Bolívia, Venezuela e Equador.
Por que Chávez comprou nove submarinos por 3 bilhões de dólares? Para afundar navios de quem? Petroleiros americanos buscando petróleo? Algo para se meditar.
Os franceses, que sempre estimularam o isolamento da América Latina, não estarão nem aí para nos proteger. Os amigos da Sorbonne dos nossos militares e políticos do PSDB, como Fernando Henrique Cardoso, estão interessados na União - na União Européia.
O mundo já riscou o Brasil do mapa há muito tempo, pela nossa incompetência administrativa. Não inventamos nenhum produto, não temos nenhuma patente útil, não temos nenhuma empresa multinacional de que eles dependam, não temos matérias-primas que irão se esgotar.
Nossos economistas nunca se preocuparam com isto, foram sempre antibusiness, anti-administradores, anti-negócios em geral.
Seremos uma Nova Zelândia do turismo radical, do turismo barato e ocasional. Ninguém no Brasil pensa em investir na Nova Zelândia e no novo mapa-múndi. Ninguém pensará em investir no Brasil, pós Chávez.
Nossos intelectuais já haviam nos isolado do mundo moderno, do neomarxismo, neoliberalismo, neoconservadorismo, de tudo que era novo e moderno.
"Vocês estão absolutamente sozinhos", dirá Bush aos seus interlocutores.
"Eu quis ter o prazer de dizer isto a vocês, pessoalmente. Depois de recusar uma aliança com os Estados Unidos que poderia ter criado um bloco econômico poderoso, depois de dar ouvido aos franceses que queriam nos dividir para nos enfraquecer, e conseguiram, vocês brasileiros estão sem aliados.”
“Os franceses os convenceram que nós, dos Estados Unidos, éramos os inimigos, e nenhum de vocês percebeu que tínhamos os mesmos imigrantes europeus, os mesmos negros africanos, o mesmo pavor da tirania européia, o mesmo clima, os mesmos ideais, e que nunca guerreamos em 500 anos de história. Enquanto que os franceses, alemães e ingleses, arquiinimigos, se uniam em torno da União Européia.”
“Vocês se deixaram enganar pela política diplomática e maquiavélica francesa, que enviaram professores para a USP e adidos militares para a ADESG para enganá-los e empobrecê-los.”
“Quero ter o prazer de dizer as últimas palavras de um governo americano que se encheu com o antiamericanismo constante de seus estudantes, jornalistas e elite intelectual.“
“Goodbye”.
Stephen Kanitz
stephen@kanitz.com.br
El País
Há 1 hora
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