segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ajuda externa. Hesitações em excesso

Apesar de ter de ser dado o devido desconto à filiação do autor, transcreve-se o artigo seguinte, deixando aqui a pergunta referente à última frase, dado o estado de vícios e manhas da nossa actual política, poderá ser encontrada gente com dimensão ética e sentido de Estado para dirigir o país? Espero que em comentários alguém me ajude a esclarecer esta dúvida.

Marquesmendes novo

Correio da Manhã. 04-04-2011. Por: Luís Marques Mendes, ex-líder do PSD

Colocar o interesse nacional acima do interesse partidário é uma afirmação que, de tão banal, já caiu em desuso. Apesar disso, ela aplica-se na perfeição a um facto importante desta semana.

Confrontado com a necessidade de pedir ajuda externa, o Governo repetiu à exaustão que, sendo Governo de gestão, não dispõe de competência para o efeito. Apesar de o Presidente da República, o presidente do Tribunal Constitucional e a esmagadora maioria dos constitucionalistas assegurarem que o Governo dispõe de toda a legitimidade para o fazer.

Ao contrário do que se possa pensar, a questão não é jurídica. É política. O Governo não pedirá ajuda financeira ao exterior não por falta de poder, mas sim por falta de vontade. Não quer fazê-lo para não dar o braço a torcer, uma vez que, levianamente, garantiu ‘urbi et orbi’ que nunca o faria. Mais ainda. Não pedirá ajuda externa para poder passar toda a campanha eleitoral a acusar os outros (leia-se, o PSD) da suprema maldade de desejarem o FMI quando eles (os socialistas), sérios e puros, nunca o permitirão. Ou seja, o país pode estar financeiramente a arder, sem dinheiro para pagar os salários da Função Pública daqui a dois ou três meses, que, mesmo assim, o Governo não pedirá ajuda externa. E ainda se gaba disso. Politicamente falando, um comportamento destes já não é sinónimo de teimosia. É mesmo esquizofrenia.

Recordemos o óbvio: tal como ninguém faz dieta por prazer, também ninguém recorre a ajuda financeira por gosto. É sempre uma questão de necessidade. Mas quando é mesmo necessário não se hesita. A alternativa é maior sofrimento, mais sacrifícios e a bancarrota a flagelar o país. Só não percebe isto quem está cego e obstinado, quem faz política de terra queimada ou quem quer explorar o mal dos outros para seu benefício político ou partidário.

E, quando vemos o ministro das Finanças – o grande coveiro desta situação – a desafiar provocatoriamente o Presidente da República para ser ele próprio a pedir a ajuda externa em vez de se congratular com o apoio que o Chefe do Estado se disponibilizou a dar, então chegámos mesmo ao fim da linha. Já nem sequer temos ministro das Finanças. Este homem passou a ser um mero pau mandado de um maquiavélico primeiro--ministro.

Alguém me perguntava há dias: mas será que está tudo louco? Não sei. O que sei é que esta gente não tem nem dimensão ética nem sentido de Estado para dirigir o país.

Imagem do Google

3 comentários:

A. João Soares disse...

Artigos com interesse sobre o tema da ajuda externa:

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Pedro Coimbra disse...

Caro João,
Independentemente de quem o diz, ou escrve, é uma evidência que devia entrar pelos olhos dentro.
Infelizmente, não só não é assim como, quem tem a ousadia de apontar nedsse sentido, leva, na melhor das hipóteses, um bom ralhete.
Já aconteceu comigo.
Fazer o quê?
Há muito quem insista em ser cego, surdo e mudo.
Paciência.....
Um abraço

A. João Soares disse...

Caro Pedro Coimbra,

Há muitas situações como aquela que cita, pois a liberdade de expressão está muito condicionada, quando se depende de chefes intolerantes.
Felizmente, já não dependo de chefes. Mas mesmo assim tenho sido pressionado por um indivíduo que deve favores à política, para deixar de reenviar e-mails que recebo e de que ele não «gosta». Respeito todas as pessoas, mas há algumas que são intolerantes e não merecem respeito, e apenas fazem uso de argumentos considerados politicamente correctos pela sua facção.
É pena que poucos leiam o livro do conselheiro Vítor Bento citado no post mais recente em que lamenta que na política não sejam respeitados os valores morais por forma a serem tomadas as decisões mais ajustadas à resolução dos problemas económicos, pensando nos interesses nacionais de longo prazo.

Um abraço
João

Sempre Jovens