Neste espaço, evito defesas ou acusações de pessoas ou forças políticas, e procuro circunscrever as apreciações aos conceitos aplicáveis a casos reais. Defendo o respeito por valores e princípios e pelos interesses nacionais e repudio contradições ou actos que pareçam negativos.
Dentro desta orientação, transcrevo uma parte do artigo do DN de hoje «Uma explicação curiosa», por encontrar nela algo de muito estranho e porque, possivelmente, se poderá aplicar, de uma forma ou de outra, a outros políticos governantes ou com aspirações a sê-lo.
«Dias Loureiro, na entrevista a Judite de Sousa (já que o PS não o quer no Parlamento), disse coisas pouco habituais num homem experiente, ex-ministro, gestor de sucesso. Sobretudo, repetiu "não sei", "não sabia", "acreditei", "era o que me diziam", "não achava nada".
Esclareceu ainda que no BPN "não havia reuniões" (supõe-se que da Administração do banco) e que Oliveira e Costa "falava (despachava?) individualmente" com cada colaborador. O mais que a sua atenção conseguiu foi "ouvir vozes", um "bruáaa", detectar "ali um certo mal-estar", o que até o levou em Abril de 2001 a referir isso mesmo a um elemento do Banco de Portugal.»
Sobre o mesmo assunto o artigo do JN «Dias Loureiro: "Nunca cometi qualquer crime"», diz que o ex-administrador da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), ex-detentora do BPN, nunca teve conhecimento de alegadas fraudes e que sempre confiou em Oliveira e Costa. E declarou, na Grande Entrevista da RTP1, "nunca fiz nada que possa constituir crime. Estou de consciência tranquila". E referiu-se a Oliveira e Costa como um "homem brilhante, inteligente e trabalhador incansável", acrescentando que não acredita que este tenha agido em benefício pessoal. Porém, perante os primeiros rumores que punham em causa a gestão do grupo reuniu-se com o vice-governador do Banco de Portugal para que este "estivesse atento" ao BPN. Não porque desconfiasse de alguma coisa, mas para estar mais tranquilo (!).
O título do artigo do JN «BPN: Miguel Beleza tratou de encontro entre Dias Loureiro e António Marta mas não confirma a sua realização» dispensa explicações. Mas, segundo notícias mais recentes, António Marta do BdP nega que tenha havido tais contactos.
Um administrador que afirma claramente "não sei", "não sabia", "acreditei", "era o que me diziam", "não achava nada", como justifica o salário e as benesses que estava a usufruir por estar a desempenhar nominalmente tal cargo? Onde está a sua moralidade? Como se pode compreender que uma pessoa com o seu currículo oficial e com o cargo por que estava a ser pago, tenha alertado o Banco de Portugal, sem nada de concreto saber e apenas baseado em "ouvir vozes", um "bruáaa", detectar "ali um certo mal-estar"?
O mais curioso é que desempenha as funções de conselheiro de Estado para que foi convidado e, questionado sobre se vai manter-se nelas, limitou-se a afirmar que "o lugar está sempre à disposição do presidente da República". Quer dizer que ele, vivendo alheado, indiferente e guiando-se apenas por rumores e vozes, sem procurar merecer o dinheiro que ganha, sente que não tem obrigação ética de pedir a exoneração do cargo político que desempenha, remunerado por todos os contribuintes?
Trata-se de um perfil curioso, que poderá não ser único no panorama nacional em que ele se insere ou inseriu.
A Decisão do TEDH (397)
Há 2 horas
3 comentários:
De facto é estranho que alguém com grande experiência em lugares de grande responsabilidade tenha procedimentos como os agora apontados e ainda mais ao manter-se em funções de conselheiro de estado como se nada se tivesse passado. Há em tudo isto uma certa, para não dizer grande, irresponsabilidade nestas atitudes!É por isso que o "ZÉ Povinho" já não acredita nos nossos governantes!
Caro Luís,
O título teria sido mais correcto se em vez de «perfil de um ex-ministro» fosse «perfil de um conselheiro de Estado».
De uma maneira geral, os políticos são uma lástima, mas há alguns que abusam. Este caso é impensável. Teria sido preferível que não desse a entrevista. Se queria ficar imune, talvez lhe fosse preferível ficar na penumbra da plateia em vez de ir para o palco sob todas as luzes da ribalta. João
Abraço
João
É interessante esta notícia
TVI: Dias Loureiro manteve ligações à SLN até 15 de Novembro
Diário Digital, sexta-feira, 28 de Novembro de 2008
O antigo ministro da Administração Interna Dias Loureiro manteve ligações à Sociedade Lusa de Negócios (SLN) até 15 de Novembro passado, através da SPPM, empresa controlada pela SLN, noticia esta sexta-feira a TVI.
Segundo a estação de televisão, Dias Loureiro demitiu-se do cargo de administrador da SPPM, empresa de componentes automóveis, a 15 de Novembro, conforme carta de demissão a que a TVI teve acesso.
Recentemente, Dias Loureiro garantiu, repetidas vezes, que havia cortado todo e qualquer vínculo à SLN em 2005.
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