João Gonçalves era um jovem válido, escorreito, com perspectivas de organizar uma actividade produtiva para garantir uma vida digna á sua família, mas o Governo decidiu mobilizá-lo para a guerra e veio de lá deficiente. Seria de esperar que o Estado, como pessoa de bem que ele julgava que fosse, lhe garantisse, no mínimo, os tratamentos médicos e medicamentosos e uma pensão que lhe permitisse ir sobrevivendo. Mas, como ele, há muitos e alguns em piores circunstâncias dada a gravidade da deficiência.
Com a generosidade com que arriscou a vida pela Pátria em África, não hesitou em agora aceitar ser presidente da delegação de Viseu da Associação de Deficientes das Forças Armadas (ADFA), o que muito o tem traumatizado ao enfrentar o sofrimento dos seus camaradas e perante a insensibilidade dos políticos e a desonestidade governamental com que os deficientes estão a ser tratados desde há poucos anos.
Para os 800 militares deficientes do distrito de Viseu que combateram em África, Timor e Índia e que têm visto reduzidos os seus direitos ao apoio estatal, da sua entidade patronal quando foram acidentados, a situação agravou-se com o encerramento do Hospital Militar de Coimbra, o que obriga os deficientes a recorrerem às unidades de saúde militar de Lisboa e do Porto, com o respectivo agravamento de custos.
O João Gonçalves anda "há anos a lutar pelos direitos dos militares que serviram a Pátria e que hoje têm uma mão cheia de nada". O ex-combatente está "indignado com as últimas leis aprovadas pelo Governo que nos retirou os poucos direitos que tínhamos". Chegou a uma situação de desespero que o levou a iniciar ontem uma greve de fome que promete ir até "às últimas consequências. Se for preciso morrer, que seja, mas não aguento mais tanto sofrimento. Todos os dias vêm aqui ex-militares pedir ajuda que não podemos dar". Para quem arriscou a vida na guerra colonial, esta decisão é para levar a sério. E é de esperar que outros decidam juntar-se a ele. Quanto maior for o número de mártires assumidos, maior será a probabilidade de a Comunicação Social interna e externa fazer eco das injustiças de que estão a ser vítimas e de os governantes sentirem a gravidae desta situação.
Eles já não acreditam no lema «HONRAI A PÁTRIA QUE A PÁTRIA VOS CONTEMPLA» com que lhes encheram, os ouvidos na sua preparação para a guerra. Eles sentem na pele que as recentes alterações introduzidas na lei que regulamenta a assistência na saúde aos militares das Forças Armadas fizeram com que os militares deixem de ser assistidos nos hospitais civis. "Antes, os ex-combatentes e antigos militares podiam ir ao hospital da sua área de residência porque eram abrangidos pela assistência de saúde a que os militares têm direito. Neste momento, só temos direito a essa assistência nos hospitais militares de Porto e Lisboa porque entretanto encerrou o de Coimbra". O monetarismo do actual Governo esqueceu compromissos perante aqueles que tudo arriscaram por Portugal. É uma questão de HONRA que está longe de ser compreendida pelos governantes.
Outra reivindicação prende-se com a actualização das pensões dos deficientes das Forças Armadas que "deixou de ser igual ao salário mínimo para passar a ser idêntico ao indexante de apoio social". Na prática "a pensão baixou-nos de 426 para 407 euros" revela o presidente. Como é possível compreender esta ingratidão e insensibilidade dos representantes do Estado?
João Gonçalves promete "ficar na delegação de Viseu da ADFA até morrer ou até que nos encontrem uma solução justa para o nosso problema", afirma. E será lógico que os seus camaradas não o deixem sozinho nesta prova de humanidade e de solidariedade e se juntem a ele numa manifestação de camaradagem, dignidade e sensibilidade, pondo à prova as qualidades que evidenciaram durante a guerra a que o Governo os obrigou.
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A Decisão do TEDH (397)
Há 2 horas
8 comentários:
Caro Amigo, infelizmente, os nossos governantes, estão-se borrifando para os Deficientes das Forças Armadas, e o que mais me choca, não que eu felizmente tenha na família quem o seja, mas não consigo conviver com o mal alheio, e estes homens, que lutaram com o sacrifício da própria vida, por uma pátria madrasta, tem de ser tidos em conta, em muita conta.
Veja-se, que no mundo, os militares que combateram pelas suas pátrias, em quase todos os países, são descriminados. E os EUA, são os piores, e de onde nos chegam os piores relatos de ex-combatentes maltratados.
Penso, que uma política, mais social, mais voltada para este e outros casos, só traria harmonia e justiça social, a quem na vida, quase perdeu tudo.
Parece que não, parece que somos os vira-latas, recuso-me a sê-lo, quero mais, posso dar mais, vou dar mais, vou lutar com unhas e dentes, para derrubar esta corja de sangussugas que nos querem impor, o seu capitalismo, os seus prejuízos, arrecadando para si só os lucros.
BASTA! BASTA! REVOLUÇÃO JÁ!!!
Abraços do Beezz
Fiz a difusão que se impunha mas fico sempre com um travo amargo sempre que vejo o quanto desumanizada é a nossa Sociedade! Servem-se das pessoas enquanto válidas e depois jogam-nas fora como de lixo se tratassem! Que tristeza de Vida esta!!! Estou 100% com este HOMEM, que apesar dos males que lhe assistem ainda tem capacidade de ser Altruísta e Solidário!
Caro BEEZZ,
O Governo argumenta que não há dinheiro para o Estado cumprir os compromissos por ele anteriormente assumidos.
Mas não falta dinheiro para apoiar os banqueiros, que, como havemos de ver em Abril, não deixarão de distribuir bons dividendos aos seus accionistas e continuam a pagar imoralmente bem os seus administradores, incluindo prémio de mérito. Que mérito?
Que sociedade esta!!!
Abraço
João
Caro Luís,
A atitude dele deve ser apoiada e divulgada pelos jornais e televisões e, mais do que isso devia ser acompanhado por outros ex-combatentes deficientes decididos a continuar ate à morte, se necessário. O Governo, certamente, recuaria na sua desumanidade e, se o não fizesse, ficaria muito mal visto.
É uma justa luta e, como tal, merece qualquer sacrifício.
Abraço
João
VERGONHA! Tenho vergonha de pertencer a um país que escolheu um Governo desumanizado e desrespeita uma Constituição que, também ela, apregoa a defesa do que não faz!
Manuela
Considero que o Governo continua a brincar com os ex-combatentes, mais necessitados em ajuda médica. Isto, como disse anteriormente neste blog, foi feito por opção de José Sócrates contra o que tinha prometido aos 4 chefes militares, que estavam em concordância com o então PR Jorge Sampaio.
A ADFA deve fazer todos esforços para dar visibilidade a acções destas através das TVs, para "VIPS" como José Miguel Júdice tenham que "engolir" aquilo que disseram em artigos de opinião e os membros do Governo, como o MDN, N. Sev. Teixeira, venham a pôr a mão na consciência sobre as reformas que dizem estar a fazer.
Cor. Manuel Bernardo
Cara Manuela,
Nem sei se isto é realmente um governo, porque as contradições entre tudo e todos são mais frequentes do que na pior equipa desportiva. Depois, são tantos os assessores e os consultores que é estranha a quantidade de contratos para estudos com empresas de amigalhaços. Fica sem se saber quem governa: os titulares, os assessores, os consultores, os empresários amigos destes e daqueles? Uma coisa está a clarificar-se: quando um empresário, por exemplo de um banco, entra em dificuldades não falta dinheiro para o apoiar. Mas os pobres deficientes ex-combatentes de uma guerra em que não puderam deixar de participar continuam a sofrer carências inconcebíveis, por desumanidade da entidade patronal. E tinham esses direitos assegurados por lei, mas foram-se sonegados capciosamente por decisão ditatorial. Beijos
João
Caro Bernardo,
Esta acção do ex-combatente é muito adequada, mas seria ainda melhor se houvesse outros em iguais circunstância e que comunicassem ao maior número de OCS.
Isto está a tornar-se merecedor de um dia Suas excelências irem a contar com uma Guarda de Honra e esta não estar, por o pessoal se recusar. Ou irem a uma despedida de tropas para o Kosovo ou o Afeganistão e não encontrarem ninguém, por se recusarem a embarcar sem terem um documento reconhecido em notário com as compensações que irão receber, em condições normais, em caso de acidente, e apoios à família em caso de morte. Os governantes são as pessoas em quem menos se pode confiar, como têm demonstrado.
Abraço
João
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